As eleições em Palmas 2024, prometem ser das mais concorridas e ao mesmo tempo das mais abertas da história da capital em seus 34 anos e oito pleitos. Têm muitos pretensos candidatos querendo entrar na corrida – a lista soma mais de duas dezenas de pré-candidatos –, mas nenhum favorito até agora. Pode se falar em alguns com maiores possibilidades de alcançar o segundo turno, mas não em favoritos, como em outras eleições. O advento do segundo turno, novidade das próximas eleições, muda completamente a lógica da disputa. Quanto mais candidatos, maior a chance de surgir fenômenos, como foi Carlos Amastha em 2012.

A prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB), em seu segundo mandato e que, ao que tudo indica, não bancará nome de seu grupo político na corrida sucessória – embora tenha feito algumas movimentações no sentido de assumir protagonismo no processo –, terá pouca influência na eleição do próximo gestor. Cinthia fez um acordo com o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) que prevê o lançamento de um candidato de consenso entre o Paço Municipal e o Palácio Araguaia.

Seguramente, virá daí um candidato competitivo, em função de a base de apoio reunir uma grande frente de partidos. Mas não será um candidato favorito. A primeira questão é que deve ser um nome conveniente aos planos políticos do governador e da prefeita – que parecem pretender formar chapa para as duas cadeiras do Senado disponíveis em 2026.

Um nome conveniente aos governistas tem apoio político, mas não necessariamente apoio popular. É bom lembrar que, desde a eleição de Nilmar Ruiz, em 2000, nenhum candidato apoiado pelo Palácio Araguaia venceu eleição em Palmas.

Com tantos candidatos equilibrados, qualquer vantagem a mais pode se tornar um diferencial e caminho para virar fenômeno. Aliás, os nomes mais cotados e referendados pelas pesquisas de opinião encomendadas por partidos estão, de certa forma, dentro do espectro que compreende o que se denomina de fenômeno eleitoral.

A deputada estadual Janad Valcari (PL) é um fenômeno da direita evangélica, que aumentou sua representação política em todo o País a partir da eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para liderar a corrida sucessória neste momento, a até então ilustre desconhecida que surgiu na eleição de 2020 como vereadora de Palmas e já está como deputada estadual recorreu a truques muito arriscados, como oferecer vantagens para o eleitor, ainda que em forma de sorteio, ou algo parecido. Na verdade, Janad lidera a corrida na base da “força do ódio” que nutre contra a prefeita Cinthia e também do dinheiro que ninguém sabe de onde vem.

Amastha, que também aparece bem nas pesquisas, se mantém como fenômeno ainda com base na façanha de 2012, quando conquistou a Prefeitura de Palmas, tendo saído de 2%, lutado contra tudo e contra todos e vencido Marcelo Lelis, um candidato que tinha quase 70% das intenções de voto. Foi reeleito em 2016 e chegou ao segundo lugar na eleição para o governo do Estado em 2018. Não se pode dizer que não seja um candidato competitivo.

O deputado Professor Júnior Geo (Podemos) ainda vive do fenômeno de 2020, quando, sozinho e com discurso de independência, ficou em segundo lugar na disputa, superando nomes como Thiago Andrino, Eli Borges, Vanda Monteiro, Alan Barbiero e Marcelo Lelis. É possível que nesta eleição não desperte a mesma atenção que em 2020, quando era visto como o homem que fez o governador Mauro Carlesse renunciar ao mandato para não sofrer impeachment. Geo virou governista, não perdeu a decência, mas deixou se misturar com os oportunistas. Nem por isso deixa de ser um candidato competitivo. E que pode surpreender.

O ex-deputado Eduardo Siqueira Campos (Podemos) talvez seja o fenômeno recentíssimo. Nem ele mesmo sabe o que está acontecendo com a sua pré-candidatura, que a cada dia ganha mais impulso. Eduardo, que colocou o nome para “ver o que vai dar”, está tendo de reformular os planos, repensar as estratégias e sobretudo buscar entender o que as pesquisas estão dizendo. Eduardo comemora o fato de aparecer em 3º lugar em pesquisa encomendada por adversários, o que, segundo ele, mostra a boa aceitação do seu nome. Eduardo afirma que já tem dados em mãos que o colocam em 2º lugar, colado em quem lidera. Não por acaso, já escolheu Janad Valcari como adversária e Amastha como possível aliado.

Origem do fenômeno

Quem primeiro observou a possibilidade de que um novo fenômeno eleitoral estaria surgindo em Palmas foi o jornalista e analista político Alvaro Vallim, que acompanhou o funeral do ex-governador Siqueira Campos, para o Jornal Opção e analisou cuidadosamente os pronunciamentos, o comportamento da massa que foi ao Palácio Araguaia se despedir do fundador de Palmas, considerado o pai do Tocantins e concluiu que o ex-deputado Eduardo Siqueira Campos saiu fortalecido politicamente do funeral, pela maturidade e consciência do seu papel como o herdeiro preferido do pai.

Ao que tudo indica, a comoção popular em torno do desaparecimento do velho Siqueira está gerando um engajamento automático ao projeto político de Eduardo Siqueira Campos, o herdeiro legitimo do fundador de Palmas, que queria vê-lo voltar ao comando da Prefeitura de Palmas. Eduardo foi o primeiro prefeito eleito de Palmas, em 1992, e passou muito tempo tentando disputar o governo do Estado até se dar conta de que voltar a ser prefeito de Palmas – único cargo que Siqueira Campos desejou ocupar, mas não teve oportunidade – também seria representar seu pai.

A percepção de que a morte pode gerar comoção e produzir efeitos políticos inimagináveis já tinha sido prevista pelo ex-deputado Júlio Resplande. O ex-deputado, em entrevista ao Jornal Opção em 2010, fez uma previsão bastante curiosa. Disse que um dia Palmas poderia vir a se chamar Siqueira Campos. Mas fez questão de fundamentar bem sua previsão. Isso poderia acontecer após a morte do ex-governador Siqueira Campos, tido no imaginário coletivo como o criador do Tocantins e fundador de Palmas.

O ex-deputado observava que a ideia de criador do Tocantins talvez encontrasse alguma resistência tendo em vista o caráter coletivo da luta, das muitas pessoas que ao longo do tempo se doaram pela causa do Tocantins. Em relação a Palmas, não há dúvida do envolvimento de Siqueira Campos na escolha do local, do nome, dos símbolos, do lançamento da pedra fundamental, da definição do traçado urbano, da construção da cidade e transferência da capital. Sozinho, sem rivalizar com ninguém.

Palmas ainda não mudou de nome, mas avenidas com nome Siqueira Campos afloram em todo o Estado, o que comprova a tese do ex-deputado Júlio Resplande de que a comoção pode produzir efeitos inimagináveis. Um fenômeno antigo na vida política brasileira. Resplande se lembrou do caso de João Pessoa, o então presidente do Estado da Paraíba e candidato a vice-presidente da República na chapa de Getúlio Vargas assassinado em 1930. A morte do líder nordestino não apenas precipitou a Revolução de 30, que levou Getúlio ao poder, como forçou a mudança do nome da capital da Paraíba que se chamava Parahyba do Norte.

Outro episódio emblemático é o da eleição da Bahia em 1982, e que mostra o poder da comoção popular em período eleitoral. Clériston Andrade concorria às eleições para o governo do Estado como candidato do PDS, bancado por Antônio Carlos Magalhães, sem muita chance de vencer o pleito. Faltando pouco mais de um mês para a eleição um acidente aéreo vitimou o candidato a governador e mais 11 pessoas, inclusive o candidato a vice-governador deputado federal Rogério Rêgo. A chapa foi recomposta com João Durval Carneiro e Edvaldo Flores, como candidato a governador e vice, respectivamente. Com apenas um mês de campanha, João Durval foi eleito com mais de 60% dos votos.

Se isso é que está acontecendo em Palmas, como observam alguns analistas, em pouco tempo Eduardo Siqueira Campos deve assumir a liderança do processo sucessório, podendo se tornar um páreo difícil de ser batido. O ex-deputado tem demonstrado cada vez mais desenvoltura. Deixou de ser o filho do governador afeito a mandar para se tornar um líder que tem consciência do tamanho de sua responsabilidade. Eduardo parece ter aceitado bem o encargo. Parece mais alegre, mais carismático e mais leve. Tudo que uma eleição, tão disputada como promete ser a de 2024, cobra dos líderes.