A deflagração da Operação Nêmesis, que atingiu diretamente o núcleo familiar do governador afastado Wanderlei Barbosa, provocou um abalo político imediato: ruíram as duas principais moedas de troca que ele ainda mantinha com boa parte dos deputados — a expectativa de voltar ao cargo e a lealdade.

Até a nova fase da investigação, Wanderlei apostava em esfriar o clima na Assembleia, sustentado pela confiança de que o Supremo Tribunal Federal (STF) poderia reverter seu afastamento. Essa esperança servia de cimento para manter parte da base aliada unida, mesmo em meio à sequência de operações da Polícia Federal. Deputados, muitos deles envolvidos nas investigações, calculavam que o retorno dele recolocaria a máquina estadual em funcionamento, que a fidelidade seria recompensada e que o governador manteria influência em Brasília suficiente para proteger também os parlamentares atingidos pela mesma operação que o afastou.

Mas o novo capítulo da crise mudou o tom. A decisão do ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que embasou a Operação Nêmesis, não só tornou mais distante a volta de Wanderlei, como indicou que o núcleo familiar do governador teria tido ciência prévia da ação anterior da PF, em setembro, o que pode ter permitido a eliminação de provas antes das buscas. Já os parlamentares aliados, alvos da Fames-19, foram surpreendidos. A decisão não menciona qualquer aviso aos deputados, o que reforça a percepção de que eles ficaram de fora da blindagem.

O impacto, por ora, é político, não jurídico. A revelação pode abalar a confiança entre o governador afastado e seus aliados, que agora podem avaliar que foram deixados de lado no momento mais delicado. A leitura nos corredores da Aleto é que Wanderlei protegeu o círculo familiar e sacrificou a linha de frente política, gerando um desgaste interno difícil de contornar.

Com o afastamento de 70 dias e o novo inquérito que o coloca sob suspeita de embaraço às investigações, a volta de Wanderlei passou de improvável a quase inviável. Sem essa expectativa, deputados pressionados por suas bases e pelo desgaste público podem começar a reavaliar a conveniência de continuar ancorados em um governo paralisado.

Amélio Cayres

A crise de mais uma operação contra o governador, respinga diretamente sobre a Assembleia Legislativa, que volta ao centro das atenções. O presidente Amélio Cayres tenta administrar o avanço dos pedidos de impeachment, mas enfrenta desconfiança dentro da própria Casa. Alguns parlamentares avaliam que ele protela o processo contra Wanderlei; outros enxergam cálculo político, se o interino Laurez Moreira também cair, Amélio seria o principal beneficiado, pois, no primeiro momento, assumiria o comando do executivo.

Nos bastidores, o consenso é que a blindagem política de Wanderlei perdeu sustentação. O que antes se negociava em torno da promessa de retorno virou incerteza, e a Assembleia, pressionada, tende a se mover.

Alguns deputados já admitem que o impeachment será pauta permanente na tribuna nas próximas sessões, sinal de que a Casa se prepara para uma nova etapa da crise. Há também quem acredite que parte dos parlamentares pode evitar o debate e faltar às sessões, o que ampliaria o desgaste e manteria a Aleto nos holofotes, justamente quando deveria buscar estabilidade política e administrativa.

Já o grupo de Wanderlei tenta encontrar novas formas de reconstruir a confiança com os aliados, agora que o elo que o mantinha vivo politicamente derreteu.