Pesquisadores estão investigando as razões por trás da diminuição da única população de pato-mergulhão (Mergus octosetaceus) no Tocantins, uma das poucas regiões no Brasil que ainda mantém condições ambientais propícias para essa espécie, que está gravemente ameaçada de extinção.

Desde 2008, ONGs e órgãos estaduais, com o apoio de um programa federal, realizam censos dessa espécie. Os levantamentos ocorrem logo após o período reprodutivo das aves, quando elas estão cuidando dos filhotes e passando pelo processo de troca de penas, o que restringe seus movimentos pelo rio e facilita a contagem.

Em 2019, a estimativa era de 25 aves adultas. No entanto, a coleta de dados foi interrompida durante a pandemia de Covid-19, e, a partir de então, os números começaram a cair. Em 2023, o número estimado de aves adultas variou entre 16 e 18, indicando uma redução de 30% em relação ao total de cinco anos atrás.

O doutor em Ecologia pela Universidade de Brasília (UnB), Paulo Zuquim Antas, pesquisa a preservação das aves desde a década de 1970. Anualmente, ele participa de equipes que percorrem cerca de 145 quilômetros do Rio Novo para avaliar a população dessa espécie rara.

Em agosto deste ano, os recenseadores encontraram apenas um ninho com filhotes. Na mesma ocasião, apenas dois dos oito filhotes nascidos em julho foram observados, ainda incapazes de voar. “Isso é extremamente preocupante”, destaca Paulo Zuquim.

A situação gerou apreensão entre cientistas e conservacionistas, que investigam as causas do declínio do pato-mergulhão no Tocantins. A espécie é classificada como criticamente ameaçada de extinção tanto no Brasil quanto pela União Internacional para Conservação da Natureza (UICN).

Estima-se que existam cerca de 250 dessas aves na natureza, distribuídas por regiões como Jalapão (TO), Chapada dos Veadeiros (GO) e Serra da Canastra (MG). Nesses locais, elas costumam habitar principalmente áreas de conservação, como estações ecológicas e parques nacionais e estaduais.

Os filhotes permanecem na mesma área onde nasceram por até um ano antes de migrar. Se não encontrarem rios adequados, a grande maioria pode acabar morrendo. Além disso, a capacidade reprodutiva dessas aves pode estar estagnada ou em declínio, o que poderia explicar a média registrada nos censos anuais. A saúde reprodutiva dos casais ainda é desconhecida.

As ameaças ao pato-mergulhão aumentam à medida que a degradação dos rios e outros ambientes naturais no Brasil avança. Essa espécie depende de águas limpas, claras e livres de poluição, especialmente porque pesca mergulhando e de olhos abertos.

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