O PSB do ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha comemora a oxigenação no partido com uma “dança das cadeiras”, mas não tem como impedir a aproximação do Palácio Araguaia, o que garante maior visibilidade, mas cria dúvidas sobre o futuro da legenda no Estado, que integra a base de apoio ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e mantém postura de independência no contexto estadual. O partido tem optado eleitoralmente por candidaturas isoladas, em vez de integrar federação partidária.

No início de agosto, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) fez um convite ao deputado Moisemar Marinho (PSB), único eleito pelo partido, para assumir a Secretaria Extraordinária de Ações Governamentais e Parcerias Público-Privadas. No dia 15, o parlamentar foi nomeado secretário e, em seguida, entrou com pedido de licença da Assembleia Legislativa por tempo indeterminado, para poder tomar posse.

No lugar do deputado, assume o primeiro suplente, Sargento Júnior Brasão, que exercia o cargo de vereador de Palmas. O vereador teve de recorrer ao Judiciário para ter garantida sua posse sem renunciar ao mandato de vereador. Conseguiu no Tribunal de Justiça uma liminar que lhe permite exercer o mandato de deputado como suplente sem perder a vaga como vereador. Brasão entrou com pedido de licença e abriu vaga, então, para seu suplente na legenda, Epitácio Brandão Filho, que ocupar a cadeira no plenário do Legislativo da Capital.

A dança das cadeiras provocou polêmica e especulações no meio político. O partido estaria negociando com o governo ou simplesmente sendo cooptado pela máquina do Estado? Nem uma coisa nem outra. Pelo menos é o que garante o presidente do diretório regional, Carlos Amastha, que explica que o convite do governador ao deputado Moisemar foi em razão de deferência ao parlamentar, mas que coincide com a estratégia do partido de permitir que os suplentes tenham a oportunidade de exercer o mandato.

Amastha relata que desde a eleição de 2016 a legenda vem optando pelo lançamento de chapa “puro sangue”, em vez de coligação. “Nós tínhamos o compromisso com o grupo de que em agosto o deputado se afastaria. Uniu-se o útil ao agradável, o governador, em vez de ele se afastar, o nomeou secretário, então foi fantástico. Um compromisso do grupo e deu muito certo que o Brasão assumisse. Não tinha outra opção, tinha de ser um suplente do partido, se não fosse Brasão, seria Gilberto Sincov [Moraes]; se não fosse Gilberto seria Picó [Epitácio Brandão Filho]; se não fosse Picó, seria Lacerda. Mas quem iria assumir seria um suplente do partido, e isso permitiu que Picó, que é o primeiro suplente, volte a ocupar à Câmara de Vereadores”, disse Amastha.

O dirigente reconhece a atuação do governador Wanderlei Barbosa na dança das cadeiras, mas tenta capitalizar os benefícios para o partido. “A mensagem que a gente passa para o mundo político é de que o PSB é o único partido que tem um projeto de grupo e que trabalha para a consolidação do grupo”, defende. Amastha pontua que o PSB no Tocantins não tem puxador de voto que banca o “jogo”, e monta uma escadinha para se eleger.

“No nosso caso todos entendem que trabalham para o grupo e o grupo é quem elege. E obviamente tem de cumprir com os outros para que eles também participem do processo parlamentar, debatendo as suas pautas, e permitindo ao eleitor ter orgulho de sentir que o seu voto valeu a pena”, ressalta Amastha, enfatizando que está muito feliz em ter colocado do PSB no lugar que sempre sonhou.

O ex-prefeito tem todo o direito de tentar capitalizar para o partido o resultado da dança das cadeiras que efetivamente beneficiou o PSB, e como ele próprio ressalta, reforçou a estratégia do partido de abrir espaço para os suplentes. Uma estratégia corajosa e arriscada que levou a agremiação a negar a legenda para detentores de mandato. O deputado Ricardo Ayres teve de migar para o Republicanos para garantir sua candidatura a deputado federal.

Mas não se pode negar que o governador Wanderlei Barbosa, que teve a iniciativa de convidar um quadro do PSB para compor o governo, é na verdade o inventor dessa mudança e seu maior beneficiário. Além de continuar tendo todos os deputados em sua base de apoio, busca ampliar sua influência em Palmas, cooptando nomes de uma legenda como o PSB, que sabidamente tem candidato próprio a prefeitura da capital e com boas possibilidades de chegar ao segundo turno. No mundo político, nada é aleatório nem de graça. E os beneficiários das mudanças parecem ter consciência disso.  

Em pronunciamento durante a posse, na terça-feira, 29, o novo deputado, Júnior Brasão, deixou bem claro a quem ele deve agradecer pela oportunidade de se tornar deputado. “No período em que estiver aqui como deputado nesta Casa, cumprirei sempre o diálogo com o governador do Estado, na pessoa de meu amigo Wanderlei Barbosa, e com meus colegas deputados, na busca de soluções para os problemas enfrentados pela população”, declarou. Para bom entender, meia palavra basta.