Eleições em Palmas: alianças, nostalgia, dinheiro ou moderação
05 agosto 2024 às 17h31
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As características de cada pré-candidato à prefeitura de Palmas parecem ser bastante personalistas. As peculiaridades de cada um dos postulantes ao executivo municipal são bem marcadas, tanto positiva, quanto negativamente. De um lado, Janad Valcari (PL) com as alianças políticas, Eduardo Siqueira Campos (Pode) apostando na nostalgia, Júnior Geo (PSDB) com seu tom conciliador e finesse habitual e do outro, Carlos Amastha (PSB) com uma boa retaguarda econômica e a imagem de empreendedor.
Alianças
A candidata que mais conseguiu aglutinar pessoas em torno de seu projeto, Janad Valcari, demonstra ter uma alta capacidade de aglomeração de partidos e políticos. Essa estratégia atrai e garante uma boa governabilidade. A chapa de Janad conseguiu um feito admirável de conquistar inclusive dois vereadores da base de Cinthia Ribeiro (PSDB): os parlamentares Josmundo Vilanova e Nego do Palácio, que no finalzinho da janela partidária migraram para o partido de Janad.
A pré-candidata também possui apoiadores de peso como os senadores Eduardo Gomes (PL) e Dorinha (UB); a base do Republicanos no estado: o deputado federal Ricardo Ayres e os estaduais Amélio Cayres, Léo Barbosa e Cleiton Cardoso. Além do apoio do presidente estadual do MDB, Alexandre Guimarães, fora os demais políticos de seu próprio partido, como o deputado federal Eli Borges. Mais recentemente tivemos a divulgação do apoio do próprio governador, Wanderlei Barbosa (Repu), apoio que foi certamente muito festejado, mas teve um preço a ser pago: a indicação de seu pupilo, Pedro Cardoso (Repu) para vice da chapa.
Este é o ponto negativo das “alianças”, embora garanta alguma governabilidade e faça com que o projeto possa ser mantido ao longo do tempo, o gestor acaba ficando engessado, precisando distribuir cargos e poderes para os partidos satélites. Na eleição passada para a prefeitura de Palmas, em troca do apoio do senador Eduardo Gomes (PL), Cinthia teve que “engolir” como vice o irmão do senador, o vice-prefeito de Palmas, André Gomes (PL). Fato parecido ocorre agora: Janad teve que aceitar o indicado de Wanderlei. Resta saber se ela vai jogá-lo para escanteio ou se vai tentar encaixá-lo em seu governo. Com o loteamento de vários cargos, Janad deverá ter um bom jogo de cintura para negociar com a sua própria base ou corre o risco de ter nomes que lhe apoiaram virando rivais, como aconteceu no cenário nacional, como ex-presidente Bolsonaro (PL).
Nostalgia
No critério nostalgia, o pré-candidato Eduardo Siqueira Campos é o exemplo mais claro: sua convenção teve elementos, música e convidados que rememoram a época de ouro do clã Siqueira Campos: com Siqueira pai como governador e Siqueira filho como prefeito da capital. Em todas as redes dele é nítida a intenção de fazer com que o palmense relembre a imagem do falecido Siqueira Campos e a associe com o filho. A estratégia é boa, tem parecido surtir algum efeito, ao menos é o que indicam as pesquisas eleitorais mais recentes. Não lhe garantiram a preferência do eleitorado palmense, mas a projeção já indica um possível segundo turno, e aí já é uma outra eleição.
De fato, apostar na lembrança de Siqueira pai pode ser uma boa, mas subestima boa parte dos eleitores, ou que não viveram na época de Siqueira Campos ou quem simplesmente veio depois, há ainda parte do eleitorado que possui um pé atrás com o “criador do estado”.
Apesar da estratégia surtir efeito, sobretudo nos mais velhos, considerando a pirâmide etária da capital, é bem provável que o eleitorado atual não tenha vivido, como adultos, os tempos áureos da gestão do Siqueira Campos governador.
Dinheiro
Outro aspecto que deve ser levado em conta, na cabeça do eleitor palmense, são as finanças dos pré-candidatos. Não que qualquer um dos que pleiteiam a vaga sejam economicamente desfavorecidos. Segundo as últimas declarações de bens ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Amastha e Janad já passaram a casa dos milhões. A pré-candidata do PL possuía em 2022, data da última declaração, R$3.259.870 declarados, já Amastha tinha a fortuna calculada em R$6.936.376. Júnior Geo declarou R$453.244 em 2022, já Eduardo Siqueira, que concorreu a última eleição apenas em 2018, tinha declarado R$363.965.
Essa aparência de “bom gestor” que Amastha imprime, inclusive andando ao lado de grandes empresários como Luciano Hang, dono das lojas Havan, e de Nelson Wilians, CEO de um grande conglomerado advocatício, dão um ar de alguém que prospera e tem grande influência entre pessoas economicamente influentes. O que por um lado é bom, mas não deixa de parecer a alguns eleitores minimamente panfletário quando, por exemplo, ele decide comprar uma casa e morar no Jardim Taquari (estadia que, aliás, durou apenas durante seu mandato como prefeito) ou quando se veste e anda em meio à população como se pertencesse àquele mundo.
Moderação
Já a característica mais marcante do candidato do PSDB e ungido da atual prefeita, Cinthia Ribeiro, é a sua personalidade moderada, que é, por vezes, exacerbada, talvez característica da sua experiência como parlamentar e sua atuação, há muitos anos, como professor. O pré-candidato é conhecido por seu temperamento calmo e até conciliador. Tratam-se de qualidades que, inclusive, deveriam ser desejáveis em um político. Mas a aparente calmaria transmitida por Geo pode ser confundida com fraqueza de propósito ou inaptidão para impor-se.