Desde que assumiu o governo interinamente, em setembro, Laurez Moreira (PSD) aposta numa estratégia antiga e de efeito imediato: mexer na engrenagem dos cargos comissionados para consolidar poder político. Em apenas dois meses e 39 edições do Diário Oficial, 781 exonerações redesenharam a estrutura administrativa do Tocantins, um movimento que, mais do que técnico, tem endereço certo: a Assembleia Legislativa.

O objetivo é simples, embora arriscado. Laurez tenta usar o peso dos cargos para atrair apoios entre deputados estaduais, abrindo espaço para aliados e sinalizando que quem se alinhar ao governo será recompensado. O método é direto: exonerações para pressionar, nomeações para fidelizar. Cada portaria no Diário Oficial funciona como uma mensagem política, e cada vaga, como uma moeda de negociação. Nessa lógica, quanto mais deputados se alinham, maior o lastro político para um eventual avanço do impeachment de Wanderlei Barbosa (Republicanos), o que findaria a sombra de um possível retorno do governador afastado ao cargo.

Mas a engrenagem tem um ruído que o interino não controla. Boa parte dos deputados a quem ele tenta atrair também está sob investigação na segunda fase da operação Fames-19, a mesma que levou ao afastamento de Wanderlei. Entre eles, Nilton Franco (Republicanos), Valdemar Júnior (Republicanos), Cleiton Cardoso (Republicanos), Olyntho Neto (Republicanos), Amélio Cayres (Republicanos), Cláudia Lelis (PV), Léo Barbosa (Republicanos), Jair Farias (UB), Jorge Frederico (Republicanos), Ivory de Lira (PCdoB) e Vilmar de Oliveira (SD). Todos figuram em apurações que envolvem o uso de emendas parlamentares e repasses a empresas locais em um suposto esquema de desvio de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19.

Essa coincidência jurídica cria um bloqueio político de difícil contorno. Deputados que enfrentam o mesmo processo podem hesitar em endossar qualquer movimento que possa resultar num impeachment de Wanderlei, porque, em última instância, qualquer desfecho que o atinja pode respingar sobre eles. A pressão via cargos, portanto, tem alcance limitado: quanto mais Laurez aperta, mais evidente se torna que sua base potencial é também seu ponto de fragilidade.

O episódio mais claro dessa tensão foi a votação do empréstimo de R$ 1,7 bilhão na Assembleia. O resultado serviu de termômetro: doze parlamentares votaram a favor, garantindo uma base mínima para o governo interino, entre eles, Danilo Alencar, Eduardo do Dertins, Gipão, Gutierrez Torquato, Luciano Oliveira, Marcus Marcelo, Moisemar Marinho, Júnior Geo e Wiston Gomes. Já os nomes mais próximos de Wanderlei, muitos deles citados na Fames-19, se ausentaram da sessão, num gesto interpretado como resistência e autoproteção.

O paradoxo é claro: Laurez precisa da Assembleia para se manter, mas a própria Aleto está politicamente imobilizada pelo risco de autoincriminação. Pressionar demais pode empurrar deputados para o lado de Wanderlei; aliviar demais pode enfraquecer o projeto de poder interino. No meio desse impasse, o governo acumula portarias, decretos e articulações, testando os limites entre a lealdade e o medo.

A ofensiva de Laurez, portanto, revela tanto força quanto vulnerabilidade. Ele domina a caneta que nomeia e exonera, mas opera num ambiente onde cada movimento administrativo é atravessado por cálculos jurídicos.