A entrada do PT no governo interino de Laurez Moreira (PSD) começou a ser ventilada como uma jogada estratégica: abrir espaço na Secretaria de Igualdade Racial e, de quebra, projetar nomes ligados ao partido, como Thamires Lima (Coletivo Somos). A equação parecia simples, Laurez ganharia respaldo em Brasília, via Kátia Abreu e Lula, e o PT, um canal para marcar presença na gestão. Mas política raramente é matemática pura: basta uma variável fora de lugar para travar a conta.

A nomeação de Marcos Duarte para a Secad pode ter modificado esse cenário. O vereador carrega um histórico de declarações racistas e homofóbicas, já repudiadas pelo Ministério Público e por entidades de direitos humanos. Para Laurez, tratava-se de um movimento interno de composição, distribuindo espaços para manter sua base. Para o Somos, contudo, foi uma afronta direta: como compor com um governo que, ao mesmo tempo em que acena para diversidade, prestigia alguém com esse tipo de currículo?

O repúdio público do Somos foi coerente com sua identidade. O coletivo nasceu para fazer enfrentamento a esse tipo de postura e não poderia, sem perder credibilidade, simplesmente “engolir seco”. A questão é que, ao reagir de forma dura, o grupo colocou o PT em posição delicada: ou entra no governo ignorando o episódio, passando a impressão de conivência, ou mantém a crítica, reduzindo as chances de participar com protagonismo da gestão interina.

Laurez, por sua vez, tratou o episódio com silêncio estratégico. Não respondeu ao Somos, não recuou na nomeação e agiu como se fosse apenas barulho de um segmento da esquerda. Esse silêncio diz muito sobre o perfil de montagem do governo: a lógica não é necessariamente programática, mas pragmática, atender aliados e ampliar base de apoio, sem se preocupar com a coerência simbólica que o PT costuma cobrar.

No fim das contas, a postura do Somos foi correta do ponto de vista da identidade política, mas pode ter custado espaço na mesa de Laurez. Em vez de se consolidar como “a cara da diversidade” no governo interino, o coletivo acabou reforçando a imagem de que não se dobra a qualquer arranjo. Isso fortalece sua narrativa para a base, mas, na prática, pode deixar o PT de fora de um governo que buscava exatamente estabilidade e composição.