Wanderlei acredita que pode ter sido alvo de retaliação: “estamos sofrendo desde que ganhamos a eleição”
21 agosto 2024 às 14h34
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O governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) falou em entrevista à TV Anhanguera nesta quarta-feira, 21, que está tranquilo e colaborou com todos os procedimentos durante as buscas da Polícia Federal (PF), durante a operação “Fames-19”, que investiga desvio de recursos públicos destinados ao pagamento de empresas contratadas para fornecer cestas básicas durante a pandemia de covid-19, entre 2020 e 2021. “Quero lembrar que, na época desses fatos, eu não era governador, era vice [de Mauro Carlesse]. Não comprei, enviei ou direcionei cestas básicas, disse.
Na operação “Fames-19”, a PF cumpriu 42 mandados de busca e apreensão com autorização do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em endereços de empresários e políticos. Além do governador, os endereços dos filhos Léo Barbosa (deputado estadual) e Rérison Castro (superintendente do Sebrae Tocantins) e da primeira-dama e secretária extraordinária de Participações Sociais, Karyne Sotero. Confira a lista completa. O governo do Tocantins afirmou que está colaborando com as investigações.
Corre nos bastidores que a investigação poderia ter voltado a caminhar no STJ em resposta ao apoio à candidatura de Janad Valcari (PL), fato que também incomodou parte da oposição que teria “forte influência” no sistema de Justiça. O que talvez comprovaria a situação é que o ordenador das despesas na época, o ex-governador Mauro Carlesse, não chegou a ser um dos alvos da operação desta quarta.
Wanderlei acrescentou também que a eleição que o elegeu governador incomodou muita gente, inclusive a oposição. Ele mencionou que leu que um senador, possivelmente Irajá Abreu (PSD), que é o seu opositor declarado, poderia ter pressionado para que o processo acontecesse. O que faz até algum sentido, pois Irajá foi um dos senadores que apoiaram Paulo Gustavo Gonet Branco, para exercer o cargo de procurador-geral da República. A PGR é responsável por oferecer denúncias e ajuizar ações penais em casos que envolvem autoridades com foro privilegiado.
“Estamos sofrendo desde que ganhamos a eleição. Esperávamos que algo assim pudesse acontecer, mas ainda assim fiquei surpreso. Confesso que fiquei muito surpreso porque, diante do que foi falado, trata-se de um depósito de R$ 5.000 na minha conta, parte de um consórcio do qual participei, no qual uma das pessoas envolvidas [no desvio dos recursos] era investigada”, disse o governador.
“Quero dizer ao povo do Tocantins que este governo trabalha duro, recuperando estradas, hospitais, escolas e promovendo o turismo. Essa operação causa estranheza, como o fato de minha esposa ser citada, mesmo não sendo primeira-dama na época, e o nome dela, assim como o meu e de meus filhos, aparecerem sem motivo”, completou.
O governador disse estar confiante de que, “se a Justiça for feita corretamente”, não terá nada a temer. “Somos citados porque recebi R$ 5.000 de alguém que era investigado, dentro de um grupo de amigos que faz esse tipo de consórcio. A investigação mostrará que essa quantia foi repassada de volta, sem qualquer irregularidade”, finalizou.
Histórico
A investigação concentra-se em contratos para a compra de cerca de 1,6 milhão de cestas básicas, totalizando quase R$ 5 milhões, realizados entre 2020 e 2021. Esses contratos ocorreram durante o governo de Mauro Carlesse, com Wanderlei Barbosa como vice-governador. Após o afastamento de Carlesse em outubro de 2021 por outra investigação do STJ, Wanderlei assumiu como governador. Na época, as cestas básicas ainda estavam sendo distribuídas.
A investigação sobre as cestas básicas teve impacto eleitoral em dezembro de 2021, quando Mauro Carlesse foi considerado inelegível por suposta entrega de cestas durante o período eleitoral. No entanto, essa decisão foi posteriormente revertida pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE).
A PF suspeita que esses contratos foram integralmente pagos, mas que nem todas as cestas foram efetivamente entregues à população. Mauro Carlesse, então chefe do Executivo, declarou que não tem envolvimento com os fatos investigados e não é alvo da operação.
Segundo a PF, foi montado um esquema para favorecer grupos de empresas previamente selecionadas, que receberam o valor total dos contratos, mas não entregaram a quantidade acordada de cestas básicas. Esses contratos foram realizados sem licitação, com base no decreto de emergência estadual devido à pandemia.
A investigação começou na Polícia Civil do Tocantins e, em 2022, durante a operação Phoenix, foram cumpridos 11 mandados de busca, com bloqueio de bens e afastamento de servidores da Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social (Setas). Um relatório da Polícia Civil indicou que Wanderlei Barbosa teria recebido uma transferência de R$ 5 mil de um empresário investigado, levando o caso ao STJ.