Brasil não consegue conter o avanço do crime organizado

18 fevereiro 2025 às 08h52

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O crime organizado pode ser comparado à hidra – monstro híbrido e imortal da mitologia grega – que, ao cortar uma de suas cabeças, outras duas nascem no lugar. Cotidianamente, criminosos, alguns faccionados, são presos e/ou mortos em confrontos e até mesmo por rivais – cenário comum no Brasil.
Em contrapartida, o número de batizados cresce desenfreadamente. Buscando ofuscar o crescimento econômico e numérico do crime organizado, o Conselho Superior do Ministério Público Federal criou nesta segunda-feira, 17, o Grupo Nacional de Apoio ao Enfrentamento ao Crime Organizado (Gaeco Nacional).
A novidade acontece quase 19 anos depois dos sangrentos assassinatos de 2006, em São Paulo, que deixaram evidente o poder do Primeiro Comando da Capital (PCC) – a maior organização criminosa do Brasil. Naquele ano, o PCC orquestrou diversas rebeliões nas prisões, atacou delegacias e batalhões da Polícia Militar e matou, ao menos, 30 agentes de segurança. São Paulo parou e amargou a morte de mais de 500 civis em meio a confrontos entre a polícia e a facção.
O cenário de guerra foi uma resposta da facção paulista à decisão do governo estadual de isolar as lideranças da organização. Atualmente, assim como ocorrido em 2006, criminosos tentam desestruturar a segurança pública, mas de uma forma menos agressiva.
O PCC decidiu firmar uma trégua com o Comando Vermelho (CV), segunda maior facção do país e seu inimigo histórico, buscando afrouxar as normas do sistema penitenciário e ampliar o mercado ilícito no Brasil, responsável por movimentar cerca de R$ 146,8 bilhões anualmente.
O montante faturado com a comercialização ilegal de produtos como combustíveis e lubrificantes, bebidas, ouro e tabaco equivale a mais de três vezes o orçamento anual do Ministério da Educação (MEC), segundo dados estimados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O levantamento coloca em xeque a atuação e a efetividade dos estados e do governo federal no combate à criminalidade.
Afinal, o crime organizado é mais bem preparado do que a própria segurança pública. São tão bem armados quanto grupos de elite, além de terem um complexo sistema como uma multinacional – no caso do PCC, as “sintonias”, que possuem influência em todas as esferas dentro e fora do Brasil.
Os investimentos e a própria inteligência das grandes facções provam que o país não tem preparo suficiente para inibir as práticas criminosas desenvolvidas pelas organizações. O “efetivo” criminoso se prova mais eficiente, deixando a dúvida se as novas medidas do governo serão, de fato, suficientes.
E é válido acrescentar: até na contramão do cenário nacional, Goiás é um dos poucos estados a conseguir controlar com eficiência o crime organizado, sendo citado, inclusive, por veículos de comunicação nacionais como exemplo a ser seguido na área.