Por João Reynol

As cenas de confusão registradas na entrada da COP 30, na última terça-feira, 11, simbolizam mais do que um episódio isolado de tensão. Representam uma catarse coletiva que expõe o descaso histórico do governo federal — e das lideranças mundiais — com os povos originários do Brasil.

A Conferência das Partes, que se propõe a definir os rumos ambientais do planeta, não pode se permitir a contradição de falar sobre os povos indígenas sem falar com eles. A ausência de representantes dessas comunidades nas discussões sobre o futuro climático é mais do que um erro de protocolo: é um reflexo de uma lógica colonial ainda presente nas esferas de poder, que insiste em decidir o destino dos territórios tradicionais sem escutar quem deles depende para existir.

Sem a participação efetiva dos povos indígenas, qualquer política pública voltada à preservação ambiental ou ao uso sustentável das florestas nasce incompleta. É impossível construir uma agenda climática legítima se os principais guardiões da natureza, aqueles que há séculos mantêm equilíbrio entre território e sobrevivência, são deixados do lado de fora do diálogo.

A omissão não é exclusiva do governo federal. Estados brasileiros que celebram presença na COP 30 — como Goiás, representado pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) — também reproduzem esse afastamento. Enquanto promovem painéis e discursos sobre sustentabilidade, deixam de incluir as comunidades que habitavam essas terras muito antes da fundação dos estados ou da própria invasão europeia.

Antes mesmo da confusão registrada no evento, lideranças das comunidades Tapajós e Tupinambá, do Pará, já denunciavam a falta de espaço e de escuta nas negociações climáticas. O protesto, portanto, não nasceu do caos, mas da tentativa frustrada de serem ouvidos.

Em uma conferência dedicada a pensar o futuro ambiental do planeta, excluir os povos tradicionais é uma afronta à própria essência da pauta ambiental. Para essas comunidades, o território não é um recurso: é parte viva da identidade. A destruição da floresta, dos rios e das terras indígenas significa também a destruição de uma cultura — e, com ela, de uma das últimas vozes que ainda entendem que preservar o planeta é mais do que uma meta de conferência: é uma questão de sobrevivência.