Na semana do Natal, época de reunir famílias e encurtar distâncias após um ano de trabalho, pelo menos 20 famílias vivem um pesadelo. A ponte que interliga os estados do Tocantins e Maranhão desabou, arrastando consigo vidas, sonhos e o mínimo de dignidade que lhes era devido. A tragédia expõe a negligência com a estrutura da ponte, construída na década de 1960 e alvo de alertas sobre sua precariedade.

Além da dor pela perda irreparável, as famílias enfrentam o trauma devastador de cenas grotescas nas redes sociais: vídeos e imagens dos corpos das vítimas sendo resgatados ou emergindo das águas, muitas vezes sem nenhum tipo de filtro ou respeito. Algumas dessas imagens são compartilhadas por aqueles que deveriam proteger a integridade das vítimas e de seus familiares.

Equipes trabalham incansavelmente há cinco dias para resgatar os corpos submersos no Rio Tocantins. Porém, ao invés de alento, os familiares têm que suportar um duplo desrespeito: primeiro, pela omissão governamental que deixou a ponte deteriorar ao ponto do colapso; segundo, pelo vilipêndio dos cadáveres, expostos de forma cruel e insensível em busca de likes nas redes sociais.

Uma mãe, que ainda espera encontrar o corpo do filho de apenas 10 anos, precisou implorar para que imagens do menino não fossem divulgadas. Ele viajava com os avós quando a tragédia aconteceu. Fotos do arquivo pessoal da criança já circulam nas redes, usadas de maneira irresponsável e dolorosa.

Outra família descreveu o choque ao saber que os pais envolvidos no acidente estavam sendo tratados com desumanidade. Não bastasse a dor da perda, a exposição midiática amplifica o sofrimento. É assustador que esses conteúdos sejam divulgados por quem deveria proteger, e não expor, as vítimas.

Vale lembrar: vilipêndio de cadáver é crime previsto no Código Penal, com pena de até três anos de prisão. Mas, mais do que uma questão legal, o momento exige humanidade e respeito pelo luto dessas famílias, que agora suplicam: “Respeitem nossa dor.”