Essa é a triste realidade que se desenha em um estado onde escândalos políticos têm se tornado rotina, e o impacto desses eventos parece ser cada vez menor na opinião pública: o tocantinense parou de se chocar com escândalos de corrupção. A recente libertação do ex-governador Mauro Carlesse, preso sob suspeita de planejar uma fuga para o exterior enquanto responde a diversos processos por corrupção, é um exemplo claro disso. Ao deixar a prisão, ele reafirmou sua defesa clássica de perseguição política, e a repercussão do caso foi abafada por uma história curiosa: o resgate de um jabuti soterrado por anos em Itacajá.

O jabuti virou manchete, gerou comoção e movimentou as redes sociais. Enquanto isso, um ex-governador, envolvido em diversas investigações por desvio de dinheiro, fraude em licitações e outros crimes, saiu da prisão quase sem alarde. Isso evidencia um fenômeno preocupante: a insensibilidade da população diante da corrupção política.

Não se trata de menosprezar a história do jabuti, mas de questionar como um caso de corrupção com impacto direto na gestão pública e na vida dos cidadãos perdeu sua relevância. Com um histórico de políticos indiciados, afastados e, posteriormente, reabilitados ao debate público, o Tocantins parece ter desenvolvido uma espécie de anestesia social em relação à impunidade.

A corrupção é um problema de gestão pública que afeta diretamente a qualidade de vida da população. Recursos desviados significam menos investimento em saúde, educação e infraestrutura. Quando um ex-governador acusado de desviar milhões sai da prisão e encara a situação com naturalidade, enquanto a população mal se indigna, temos um problema grave.

A normalização da corrupção é um sintoma perigoso de uma sociedade que perdeu a esperança na justiça e na política. O questionamento que fica é: até quando vamos assistir a esses escândalos sem reação? O jabuti de Itacajá recebeu toda a atenção necessária para sua recuperação, mas quem está cuidando da recuperação da moralidade pública no Tocantins? Quem?