Nesta semana, o Jornal Opção Tocantins traz a análise e o cenário político de dois municípios da região central: Pedro Afonso e Guaraí. Se a primeira cidade se desenvolveu por estar às margens do Rio Tocantins, durante a época áurea das navegações fluviais, a segunda nasceu e cresceu em razão da construção e expansão da BR-153, popularmente e, erroneamente, conhecida como Belém-Brasília. A título de curiosidade, no trecho referenciado, a rodovia começa em Anápolis (GO) e termina em Marabá (PA). Confusões à parte, vamos abordar as tendências e possibilidades políticas para 2024 nestas duas cidades.

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Em Pedro Afonso, o atual prefeito Joaquim Martins Pinheiro (PP) tem sua popularidade questionada, uma vez que sua relação com a comunidade é considerada um tanto quanto fria. Eleito por indicação do ex-prefeito da cidade, Jairo Soares Mariano (PDT), rompeu com seu antecessor poucos meses após assumir o cargo de prefeito. Dentre os nove vereadores, apenas quatro fazem parte de sua base de sustentação. Via de consequência, não possui maioria para aprovação das matérias do executivo. Fez uma administração razoável, contudo, nada de excepcional, segundo os moradores locais. Naturalmente, tem o apoio da sua sigla partidária, liderada no Tocantins pelo deputado federal Vicentinho Junior. Esse fator pode lhe render cotas de fundo partidário que poderão alavancar sua candidatura.

Prefeito Joaquim Martins (a esquerda) e pré-candidato Jairo Mariano (a direita) | Montagem: Jornal Opção Tocantins

Seu adversário, Jairo Mariano, já foi prefeito do município em duas oportunidades: entre 2013/2016 e, logo após, reeleito para o mandato de 2017/2020. Suas gestões foram consideradas revolucionárias e impulsionaram, de vez, o crescimento e o desenvolvimento econômico da cidade. Habilidoso politicamente, foi eleito – paralelamente – presidente da Associação Tocantinense dos Municípios (ATM), cargo que exerceu entre 2017 e 2020 e que lhe abriu muitos horizontes políticos. É filiado há muitos anos ao PDT, atualmente presidido pelo vice-governador Laurez Moreira, tendo como expoente na Assembleia Legislativa o deputado Gutierres Torquato. Jairo Mariano exerce o cargo de vice-presidente da sigla no Tocantins e tem, portanto, poder de decisão dentro do partido. Em razão dos legados de suas gestões, ele se tornou um forte candidato a retomar o poder no município.

Fato pitoresco e diferenciado pode influir diretamente no resultado das urnas

Uma curiosidade chama a atenção quando o assunto é o processo eleitoral de Pedro Afonso. O município aumentou seu número de eleitores consideravelmente: mais de 1.000 desde a última eleição. São eleitores jovens ou oriundos de outros municípios, sem raízes ou vinculação política local. Eles fazem parte da grande migração ocorrida em razão do polo de desenvolvimento que a cidade se transformou – no que se refere a geração de emprego e renda – consubstanciada na franca expansão do agronegócio. A princípio, esse eleitorado “não tem dono” e precisa ser conquistado por um dos dois postulantes. Ou não. Talvez a simples história e trajetória política de ambos os candidatos não seja suficiente para convencê-los. Serão, portanto, os fieis da balança.

Em Guaraí, a conjuntura política se forma com três candidatos

No próspero município de Guaraí já estão definidas três candidaturas majoritárias declaradas: Professora Lires Ferneda (Podemos), Saboinha JR (Republicanos) e Fátima Coelho (UB), a atual gestora.

A atual prefeita, Fátima Coelho, foi vereadora na cidade. Não teve – à época – uma atuação destacada, mas é preciso reconhecer que sempre foi muito atuante na área social, especialmente no que se refere a idosos e enfermos. Isso lhe rendeu mandatos parlamentares consecutivos. Em 2020, de maneira inesperada, Lires Ferneda – a ex-prefeita – a indicou para substituí-la, o que surpreendeu a todos. Após algum tempo, como quase sempre acontece, houve o rompimento de ambas. O grupo político em sua maioria resolveu ficar com a prefeita Fátima e isso, logicamente, a fortaleceu. Ela já recebeu o apoio do deputado Luciano Oliveira (PSD), segundo o site Guaraí Notícias. Logicamente, tem o apoio da presidente do UB no Estado, Senadora Professora Dorinha. É provável que o candidato a vice nesta chapa seja um dos vereadores do PL, base forte da gestora na Câmara, incluindo o atual presidente da Câmara, Gleidson Bueno. O nome do ex-vereador por cinco mandatos, Antônio Martins, também é cogitado. Tudo vai depender da articulação do grupo político.

Montagem: Jornal Opção Tocantins

Já a adversária, Professora Lires Ferned, já tem vice definido: o médico Dr. Alan Carlos (PSDB). A candidata governou a cidade entre 2017 e 2020. Seu esposo, Genésio Ferneda, também foi prefeito entre 2013 e 2014, contudo teve seu mandato cassado e não chegou até o fim de sua administração. O interessante é que a família (Genésio e Lires) possui boa avaliação junto à população, entretanto, têm dificuldade em formar grupos políticos. A maior prova disso foi a árdua missão de montar a nominata para chapa de vereadores.

Pré-candidato palaciano entrou na disputa

Por fim, o pré-candidato Saboinha JR é figura conhecida na cidade. Secretário municipal da juventude entre 2014 e 2016, também foi presidente da Câmara de Vereadores entre 2019 e 2020. Já em 2022, foi candidato a deputado estadual pelo Solidariedade, contudo, sua votação não foi suficiente e acabou ficando como terceiro suplente.

No último dia 21/05, ele solicitou exoneração do cargo de Secretário Estadual de Ações Estratégicas do Governo do Estado – Pasta que comandava desde maio do ano passado – para concorrer ao cargo de prefeito em Guaraí. Em 2020, ele já havia disputado o mesmo cargo pelo partido Solidariedade, sem obter êxito, em que pese ter obtido robusta votação: 45,9%, contra 54% da candidata vitoriosa.

Sua chapa já está formada e terá como candidato a vice-prefeito, o vereador Mikéias Feitosa (PDT). Coincidentemente, repetem a dobradinha do Palácio Araguaia – Republicanos na cabeça da chapa e PDT como vice. Evidentemente, Saboinha JR terá os extensos braços palacianos sustentando sua candidatura, quer seja de forma direta ou indireta. É preciso considerar também que, nos debates políticos da cidade, a população tem dito que as adversárias já tiveram suas chances de administrar a cidade. Neste contexto, talvez tenha chegado a hora de eleger o “novato” Saboinha JR.

Três nomes de peso e votação pulverizada

Na ampla maioria das vezes, nas cidades em que não há segundo turno, a pulverização de candidaturas costuma favorecer o gestor da máquina administrativa. Neste caso, esse fenômeno pode se repetir. A prefeita Fátima Coelho também possui seus “contatos” junto ao Palácio Araguaia. É que ainda há uma espécie de dívida de gratidão do governador Wanderlei Barbosa (REPU) com ela, uma vez que na eleição de 2022 – ao invés de acompanhar a Professora Lires, candidata a vice-governadora na chapa do então candidato rival Irajá Silvestre – a gestora municipal preferiu se aliar ao governador vitorioso na eleição.

Como já foi dito, a conexão de Saboinha JR com o Palácio também existe, uma vez que até pouco tempo, ele fazia parte do primeiro escalão do governo estadual. Portanto, há neste contexto, uma divisão das atenções palacianas na cidade, o que pode levar o governador Wanderlei a permanecer neutro na disputa. O certo é que o vice, Laurez Moreira, certamente estará no palanque de Saboinha JR, afinal o candidato a vice na chapa é pedetista.  

Enfim, cada qual, ao seu modo e legado, são nomes de peso na disputa municipal. Por enquanto, impossível arriscar palpites. A construção de alianças, com também, aquisição de mais musculatura política – após as convenções partidárias – certamente contribuirão para a definição do futuro político do município.