“Antes mesmo de eu chegar ao Salão Oval, eu terei resolvido rapidamente a guerra desastrosa entre Rússia e Ucrânia. Farei com que os problemas sejam solucionados de forma ágil. Não demoraria mais que um dia.”

As palavras acima foram ditas por Donald Trump em março de 2023, quando o conflito entre os países liderados por Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky tomava proporções cada vez mais preocupantes.

O norte-americano, que na época ainda articulava sua candidatura à presidência (tentativa que viria a ser bem-sucedida), afirmava ter capital político e influência suficientes para encerrar a guerra, sobretudo por sua suposta boa relação com ambos os líderes.

Mais de dois anos depois, não apenas a guerra entre Rússia e Ucrânia continua, como o presidente dos Estados Unidos conseguiu envolver seu país diretamente em outro conflito de grandes proporções.

No último sábado, 21, os EUA, que até então se posicionavam como aliados de Israel em sua escalada de tensões com o Irã, iniciada neste mês de junho, decidiram intervir diretamente, atacando três instalações nucleares iranianas. Sabemos, caro leitor, que o apoio dos Estados Unidos em conflitos armados raramente se limita a declarações diplomáticas.

A ofensiva aconteceu poucos dias após uma série de manifestações públicas do presidente, que variava entre ameaças belicistas ao Irã nas redes sociais e aparentes preocupações sobre os riscos de uma guerra prolongada. Agora, esse cenário se concretiza.

A entrada dos EUA em uma guerra já marcada por trocas diárias de mísseis e foguetes entre Israel e Irã embaralha o tabuleiro geopolítico e espalha temor em escala global.

Horas após os ataques norte-americanos, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araqchi, afirmou que os EUA “cruzaram uma linha vermelha muito grande” ao bombardear instalações nucleares no país. “Aguardem nossa resposta primeiro. Quando a agressão terminar, então poderemos decidir sobre diplomacia”, declarou.

Hossein Shariatmadari, influente conselheiro do líder supremo iraniano, já defendeu, por exemplo, ataques com mísseis contra navios da Marinha dos EUA, além do fechamento do Estreito de Ormuz (medida essa que foi aprovada pelo Parlamento iraniano neste domingo, 22).

Essa faixa marítima estratégica entre o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico é responsável pelo escoamento de 20% a 30% do petróleo global. Ou seja: seu bloqueio vai provocar desequilíbrio nos mercados internacionais e um aumento expressivo no preço do petróleo, atingindo em cheio a economia mundial.

A situação se agrava ainda mais diante da postura impulsiva de Trump, que parece ter sido movido por interesses pessoais e egocêntricos. Os ataques às instalações iranianas ocorreram sem autorização do Congresso americano, desrespeitando um princípio constitucional básico.

A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez classificou a ação como uma grave violação da Constituição e afirmou que se trata de “um claro e absoluto motivo para impeachment”. Outros democratas endossaram a acusação e iniciaram articulações para buscar apoio de republicanos insatisfeitos com Donald.

Com decisões unilaterais e escaladas militares, Trump conduz os Estados Unidos, e, por consequência, o mundo, a um cenário de horror: o da guerra. Em vez da paz prometida, Trump atiça uma nova guerra no Oriente Médio, com potencial nuclear, impacto econômico imediato e consequências geopolíticas imprevisíveis. A promessa de resolver conflitos em “um dia” se transforma, na prática, em combustível para uma nova crise que pode durar anos.