Agrotins 2024: avanços tecnológicos, sustentabilidade, inovação e bioeconomia
05 maio 2024 às 00h00
COMPARTILHAR
O atual secretário estadual da Agricultura do Tocantins, Jaime Café, está no cargo desde 2021. É produtor rural e foi presidente do Sindicato Rural de Lagoa da Confusão e prefeito daquele município por dois mandatos. Anteriormente, exerceu o cargo de Secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na gestão estadual entre 2011 e 2014, como também ocupou o cargo de deputado estadual no ano de 2017. Paralelamente, é suplente de vereador em Palmas, capital do Estado do Tocantins.
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, ele aborda temas afetos a sua Pasta, como também, sobre a Agrotins, a maior feira tecnológica no ramo do agronegócio da região norte.
Os esforços da Secretaria Estadual da Agricultura para que a Agrotins seja um sucesso a cada ano são visíveis. Naturalmente, o êxito da feira agrotecnológica também a está relacionado a sua atuação enquanto gestor da Pasta. Para o ano de 2024, quais são as novidades do evento?
O governador Wanderlei Barbosa me encarregou dessa missão. É sempre bom auxiliar, trabalhar junto com quem faz desse o maior evento do agro do norte do Brasil. Fico muito feliz, muito satisfeito mesmo de poder participar desse projeto. Contudo, é uma responsabilidade imensa, sem dúvidas. Nosso papel é coordenar o evento, porque quem faz a feira de verdade são as empresas que levam seus produtos, que oferecem serviços e que levam novidades para o agro tocantinense. A cada ano isso nos tem surpreendido mais, contribuindo com o crescimento da economia do Estado, porque a gente sabe que a nossa grande vocação é produzir alimentos.
Estamos nos transformando num supermercado do mundo, produzindo grãos, frutas, carnes, etc. Fiz várias reuniões para viabilizar a feira e conversei, por exemplo, com gestores de uma “startup” que vai trazer uma novidade: a polinização de soja, visando aumentar a produtividade com sustentabilidade e ainda trazer a oportunidade para esse pessoal que trabalha com a meliponicultura aqui no Estado, além de proporcionar mais renda para eles na polinização dessas lavouras.
E quanto ao tema da feira para 2024, a bioeconomia?
A bioeconomia tem diversas vertentes para ser trabalhadas. Sempre que se fala em bioeconomia, somos remetidos a produção, extração da agrofloresta. A possibilidade de fazer a coleta do baru, do capim dourado, do babaçu na região do Bico do Papagaio. Paralelamente, temos a produção de álcool aqui em Pedro Afonso e de biodiesel em Porto Nacional. Temos atividades que estão crescendo muito no Estado, que é a produção de biodefensivos, para aplicação das lavouras, diminuindo a utilização de produtos químicos. Aliado a isso, também há os biofertilizantes. Tudo isso vai ser trabalhado de maneira bastante intensa durante essa edição de 2024 da Agrotins.
Quanto às expectativas para esse ano, quais são as perspectivas em relação aos expositores – veteranos ou novatos – que comercializam máquinas agrícolas, defensivos, fertilizantes, além dos próprios bancos que vão para financiar os empreendedores ou visitantes da feira?
Neste ano a gente tem aumentou cerca de 20% no tamanho da feira. Fizemos um ordenamento melhor, teremos universidades, empresas que trabalham também com tecnologia e farão as demonstrações dos seus produtos em uma outra região, com uma condição melhor.
Levamos a praça de alimentação para um espaço maior e mais adequado também. Já em relação às instituições financeiras, percebemos que elas estão com bastante fome de resultado (risos). Na verdade, é uma briga boa pelo bom cliente, oferecendo condições melhores, mais prazo e menos juros. Isso é um atrativo da feira, oportunizando que esses produtores possam comprar, adquirir seus produtos de maneira mais competitiva.
No âmbito do Tocantins, o governador tem dito que deseja que o agro e o desenvolvimento sustentável caminhem juntos. A conciliação de interesses não é fácil, logicamente. Qual sua visão sobre o tema?
O Brasil, na verdade, é o único país do mundo que consegue fazer isso. Aqui, trabalhamos com sustentabilidade. Temos a agricultura descarbonizada. Fora do país, há muito discurso sobre o tema, mas não se faz na prática. Não sei dizer se nos outros países existe uma legislação que tenha tantas restrições como no Brasil, mas por aqui, nossos produtos estão aptos e sendo produzidos com sustentabilidade, afinal de contas, o mercado está exigindo isso.
Por aqui, os produtores tem cumprido com as obrigações trabalhistas, não utiliza o trabalho infantil, tem os cuidados ambientais necessários, mantendo as APPs e as reservas. Temos que ofertar a esse produtor todo o cuidado e garantir as licenças que necessita, como também, as oportunidades para que ele possa se estabelecer de maneira correta aqui no nosso Estado.
Por isso, a sustentabilidade é uma é uma pegada desse governo. O Wanderlei tem sido sempre muito taxativo quanto à questão da segurança jurídica, para que quem venha investir aqui, que haja esse ambiente para que amanhã não seja penalizado por algo que Estado deixou de cumprir. Há realmente uma sintonia muito grande com a Secretaria do Meio Ambiente e seu titular, Marcello Lelis. Ele tem sido um parceiro estratégico importante, pelo conceito que tem nas questões ambientais e por ser um gestor que entende a importância do desenvolvimento do Estado de maneira segura e sustentável.
O Brasil, na verdade, é o único país do mundo que consegue fazer isso. Aqui, trabalhamos com sustentabilidade. Temos a agricultura descarbonizada. Fora do país, há muito discurso sobre o tema, mas não se faz na prática
Os campus tecnológicos avançados das universidades estão estabelecidos ao lado do parque da Agrotins, com cultivos experimentais de espécies durante todo o ano. Como o Sr. enxerga essa confluência de interesses, tanto da academia quanto da sua Pasta?
Esse foi o motivo pelo qual foi criado o nosso Parque Agrotecnológico. Temos a oportunidade de difusão da tecnologia que foi desenvolvida, que seja de uma variedade mais resistente ou mais produtiva, quer seja pela oportunidade de fazer a capacitação de jovens para o mercado de trabalho, que é tão que é tão concorrido e importante aqui para os nossos acadêmicos do Tocantins. O centro tem feito um papel importante no momento de validar os testes para a produção das mais diversas cadeias produtivas.
Dentro do parque, testes vão sendo avaliados com remineralizadores, como também, para a produção de café, da macaúba, do cacau, etc. Nesta mesma linha, também se valida a tecnologia de variedades desenvolvidas de arroz para o cerrado e, também, para as regiões de várzeas existentes no estado Tocantins, ou seja, é um parque tecnológico de fato.
Em primeira mão, anuncio que nessa edição, numa parceria e iniciativa importante do professor Bovolato, reitor da UFT, será assinado durante a abertura do evento um pacto pela inovação. Eles estão prestigiando o nosso momento na Agrotins, percebendo que a agricultura e a pecuária são as molas do desenvolvimento do Estado. Obviamente que se vai discutir inovação em diversas áreas. Entretanto, a comunidade acadêmica sabe que existe um campo muito grande, junto ao produtor rural do nosso Estado.
A assinatura desse pacto vai envolver diversas instituições do governo, várias instituições de pesquisa e, também, a iniciativa privada. Isto vai permitir que sejamos mais assertivos e possamos trabalhar políticas e ações no sentido de sermos mais eficientes para esse momento globalizado que estamos vivendo hoje.
Sobre o aspecto da agricultura familiar no Tocantins, que ainda é muito importante no perímetro do Estado, seria importante que o Sr. destacasse as políticas públicas da sua Secretaria para esse pequeno produtor…
A agricultura familiar é um foco importante no sentido de fazermos um dos arranjos necessários para que o produtor possa se estabelecer com segurança, produzir e acessar o mercado, zelando pela sustentabilidade da atividade.
Falamos muito em sustentabilidade ambiental, mas a principal sustentabilidade é a da atividade. Se não houver cuidados, fatalmente a área vai ficar improdutiva e não cumprirá o seu papel. Vivemos em um Estado de população bastante rarefeita, com uma das menores densidades demográficas do país, onde o que é produzido pelo pequeno produtor precisam ser produtos que tenham valor agregado. É importante que ele possa acessar os mercados de maneira assertiva e que possa ter lucro. Senão, qual o sentido de trabalhar no sol quente, no dia a dia, numa atividade que não é possível auferir lucro e dar uma condição de vida melhor para sua família?
Essa busca, temos feito de maneira muito incisiva. Na Agrotins desse ano, promoveremos um encontro da cultura do cacau, onde será discutido e mostrado os projetos que estamos elaborando a quatro mãos com cooperativas e bancos, para que a gente fomente essas atividades muito importantes. O cacau é uma “commoditie” de valor agregado muito alto e tem um potencial de produção muito grande aqui no estado do Tocantins. Podemos acessar o mercado interno hoje, que demanda muito pelo produto. Estamos importando cacau para que o Brasil consiga ter o abastecimento desse produto. Além disso, poderemos fazer a busca de mercados lá fora. Quando conseguirmos colocar isso para o pequeno produtor, conseguiremos agregar mais valores ainda nesse produto e nas demais atividades da fruticultura.
Enfim, o pequeno produtor tem sido assistido de maneira importante pelo governo do estadual, com programas de melhoramento genético para ele possa produzir uma bezerra que vai produzir mais leite ou uma bezerra que vai ser uma mãe mais habilidosa. É possível, também, que produza bezerros de melhor qualidade, com um valor de mercado mais atrativo.
Falamos muito em sustentabilidade ambiental, mas a principal sustentabilidade é a da atividade. Se não houver cuidados, fatalmente a área vai ficar improdutiva e não cumprirá o seu papel
Muito interessante, mas há também a doação de insumos e fertilizantes por parte do governo estadual, não é mesmo?
Sim, também trabalhamos com um projeto de distribuição de calcário e outro projeto de distribuição de sementes de olerícolas (hortaliças). É uma busca por aquele pequeno produtor hipossuficiente, que necessita da mão do poder público. Dentro do projeto da Agrotins, o Estado faz uma busca forte nesse sentido. Quem idealizou e fez com que a Agrotins virasse uma realidade foi a agricultura empresarial. Todavia, é preciso reconhecer que o pequeno produtor é um alvo importante do governo e nós o buscamos nas diversas regiões do estado.
Aliado a isso, o Estado disponibiliza linhas de ônibus para vendas de produtos, organiza as acomodações, distribui a alimentação para esses pequenos produtores que vem das diversas regiões do estado. O objetivo é que eles possam conhecer essas novidades e ter a oportunidade de levar esses avanços para a sua propriedade, para a sua região, difundindo tecnologia e oportunidades.
E no que concerne as atrações artísticas do evento?
O governador Wanderlei Barbosa inaugurou uma agenda na Agrotins que está sendo muito importante. Ano retrasado foi o Wesley Safadão. Já no ano passado, foi o Leonardo. Esse ano, o governo do Tocantins vai trazer as duplas Di Paulo e Paulino, Humberto e Ronaldo e o conhecidíssimo cantor e compositor Dorgival Dantas.
Tem shows para todos os gostos e esses eventos acontecem antes da feira, ou seja, um anúncio do evento, que ocorre uma semana antes da feira, para o pessoal poder curtir, aproveitar, vamos ter, portanto, música sertaneja raiz, o forró e música sertaneja universitária para os mais jovens. Todo mundo vai poder apreciar esse momento.
Muito obrigado pelas suas informações. O Sr. está de parabéns pelo trabalho que desenvolve na Secretaria da Agricultura e na Agrotins.
Agradeço muito. Obrigado pela oportunidade de poder comunicar contigo e estamos às ordens sempre.