Clairton Thomazi: “a participação do eleitorado fortalece a democracia pois aumenta a representatividade”
06 outubro 2024 às 08h00
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Clairton Thomazi é servidor público federal no Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) há 19 anos, onde atua como coordenador de Educação e Desenvolvimento. Ele possui graduação em Psicologia pelo Centro Universitário Luterano de Palmas (2006) e é responsável pela capacitação de servidores e pelo desenvolvimento de programas permanentes de formação no tribunal.
Clairton é membro da comissão permanente de acessibilidade e inclusão, do comitê de compliance e da comissão de conduta e integridade do TRE-TO, além de representar o tribunal no Laboratório de Inovação da Justiça Eleitoral (LIODES-JE). Ele também possui especialização em Governança e Gestão de Sistemas de Tecnologia da Informação, Gestão Pública e Qualidade, e Gestão Estratégica de Recursos Humanos.
Como uma pessoa com deficiência visual, Clairton destaca o apoio recebido do TRE-TO para desenvolver seu trabalho de forma eficiente, utilizando tecnologia adaptativa e liderando uma equipe de 18 pessoas. Em sua rotina, ele atua diretamente na implementação de recursos voltados à acessibilidade e no uso da tecnologia no processo eleitoral. Além disso, Clairton realiza palestras sobre inclusão e acessibilidade em órgãos da Justiça Eleitoral e outras instituições.
Seu trabalho no tribunal é voltado para garantir que pessoas com deficiência possam participar plenamente das atividades, especialmente durante os períodos eleitorais. Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, o servidor fala sobre sua história no Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TRE-TO) e a importância do voto para a manutenção da democracia.
Gostaria que você contasse um pouco da sua trajetória no TRE, quando entrou, e por quais cargos já passou. Veio de outro TRE ou sempre esteve aqui?
Sim, sou deficiente visual. Entrei no tribunal há 19 anos, e o TRE do Tocantins é a minha primeira experiência na Justiça Eleitoral.
Sempre no Tocantins?
Sempre no Tocantins. Foi meu primeiro concurso federal, depois de um concurso estadual. Fiz o concurso para o tribunal e comecei no cartório eleitoral de Palmas. Mais tarde, fui para a secretaria na área de educação e desenvolvimento. Hoje, estou à frente da Escola Judiciária Eleitoral e da Coordenadoria de Educação e Desenvolvimento do tribunal. Cuido de toda a parte de capacitação e treinamento, além dos programas permanentes.
Como é a sua rotina de trabalho? Quantas pessoas você coordena hoje nessas áreas?
Hoje, coordeno cerca de 18 pessoas. Com o avanço da tecnologia e o apoio do tribunal, consigo realizar um trabalho com um alto nível de adaptação. Todo o processo adaptativo, seja com softwares ou com a sensibilização das pessoas, me permite, mesmo com a deficiência visual, exercer minhas funções plenamente. Sou cego total, mas consegui me adaptar e colocar minhas competências a serviço do tribunal. Já atuei um tempo na área de tecnologia e gosto muito dessa área. Tanto que, nas eleições, direciono minha energia para trabalhar com a equipe de tecnologia.
O trabalho nessa área se intensifica durante as eleições, correto?
Sim, o trabalho fica muito mais intenso. As eleições envolvem muita tecnologia, mas é importante entender que o processo eleitoral não é só tecnologia. Ele é composto por tecnologia, processos e, principalmente, por pessoas. É uma tríade: pessoas, processos e tecnologia.
Vendo você falar sobre o TRE, percebo que você está bastante realizado. Sei que você também faz muitas palestras fora do Estado. Pode falar um pouco sobre isso?
Sim, ao longo da minha trajetória no tribunal, acabei sendo chamado para falar sobre acessibilidade, carreira e como evoluí no tribunal. Já fui convidado para ministrar palestras em outros órgãos da Justiça Eleitoral, como o TRF-4 e agora estou dando treinamentos no TRF-3, em São Paulo. Também fiz palestras para empresas privadas. Gosto muito dessa área porque acredito que a sociedade precisa entender que as pessoas com deficiência têm muito a contribuir. Nós temos algo de muito positivo para oferecer e, quando a sociedade nos dá oportunidade, como o tribunal me deu, conseguimos colocar nossas competências a serviço da instituição e da sociedade.
Mas voltando a atenção para o pleito deste ano, qual a importância das pessoas irem votar neste domingo?
A importância do comparecimento do eleitorado às urnas está no exercício do voto e da cidadania. É por meio desse voto que escolhemos as pessoas que vão representar a sociedade. No caso dessa eleição específica, é uma eleição municipal, então elegemos nossos representantes para a prefeitura, que é o poder executivo, e para a câmara de vereadores, que compõe o poder legislativo. A nível municipal, essa eleição define nossos representantes no município.
Como o TRE tem trabalhado para incluir as pessoas que, por muito tempo, estiveram ausentes, como as pessoas com deficiência, quilombolas e povos indígenas?
O tribunal tem um conjunto de medidas que envolvem a sensibilização e conscientização dessas pessoas sobre a importância do voto. No caso dos indígenas e quilombolas, também levamos a atualização do cadastro eleitoral ao longo do ano de 2023. No ano passado, estivemos presentes nessas comunidades para garantir a atualização do cadastro eleitoral. Para as pessoas com deficiência, temos um trabalho voltado à acessibilidade, identificando e melhorando os locais de votação. Este ano, contaremos com uma novidade: uma central de libras virtual para apoiar eleitores com deficiência auditiva, tanto no ato de votar quanto para auxiliar os mesários. Quando um eleitor com fluência em libras chega ao local de votação, ele pode se comunicar com essa central e o intérprete irá acompanhá-lo no processo, desde a identificação até a votação. Este é o primeiro ano em que implantamos esse projeto, que deve ganhar força nos próximos pleitos, sendo uma experiência piloto para verificar sua importância. Outra questão de acessibilidade é a urna eletrônica, que está equipada com teclado em braille, fone de ouvido e um sistema de leitor de tela para deficientes visuais, além da inclusão de intérprete de libras. A Justiça Eleitoral preza pela inclusão de todos, afinal, o exercício do voto é um direito de todos.
Essas zonas de votação são adaptadas conforme a presença de pessoas com deficiência na região, ou todas elas já contam com adaptações?
A adaptação para intérprete de libras estará presente em todas as urnas, com um software que faz a transcrição em libras. No caso de eleitores com deficiência visual, o sistema os identifica automaticamente, desde que o cadastro esteja atualizado. Se o eleitor não for identificado no cadastro, o mesário pode, no momento da identificação, ativar o sistema de áudio da urna eletrônica, permitindo que ele vote com tranquilidade, mesmo sem o cadastro atualizado.
Como o TRE tem reforçado a importância do voto consciente?
A Justiça Eleitoral, como um todo, e o TRE Tocantins, em particular, têm desenvolvido campanhas voltadas à segurança do processo eleitoral e à conscientização do voto. Essas campanhas são contínuas, mas, no período próximo às eleições, intensificamos as ações contra a desinformação, que é um grande fator de dúvida na sociedade. O voto é seguro, e o processo eleitoral é construído para garantir essa segurança.
Como o TRE tem combatido as informações falsas, considerando os desafios atuais, não só no Tocantins, mas em todo o Brasil?
Temos um portal chamado “Fato ou Boato”, que está disponível no site do TSE. Ele reúne todas as fake news que chegam até a Justiça Eleitoral e apresenta um processo completo de esclarecimento. Se você receber uma fake news, um vídeo ou uma imagem que levante alguma dúvida, basta acessar esse portal. Se for de fato uma desinformação, ela estará listada lá, com toda a explicação necessária.
Como a participação nessas eleições fortalece a democracia?
A participação do eleitorado fortalece a democracia ao aumentar a representatividade. Quando a população comparece às urnas, ela reconhece o candidato eleito como seu representante. Isso cria uma conexão com o processo, onde o eleitor se vê como parte ativa na escolha. Quanto maior a participação, maior a certeza de que a pessoa eleita foi escolhida por você ou por alguém próximo a você. Mesmo que seu candidato não seja o vencedor, a certeza de ter participado do processo democrático prevalece. A democracia não é impositiva, mas sim baseada na escolha da maioria.
Que mensagem o TRE gostaria de deixar para o eleitor que vai votar neste domingo?
Compareça às urnas e vote com tranquilidade. A Justiça Eleitoral está totalmente preparada para recebê-lo com segurança e garantir a tranquilidade do processo democrático. Exerça seu direito de escolha.