O Coletivo Somos, do PT, foi eleito como o primeiro mandato coletivo da história de Palmas e do Tocantins, conquistando 1.537 votos nas eleições de 2024. O grupo surgiu em 2020 e, antes da eleição, havia ficado como segundo suplente na Câmara Municipal. Também concorreram a vagas no legislativo estadual e federal, mas não foram eleitos. No entanto, nas eleições municipais deste ano, eles superaram diversos vereadores em exercício e foram o único grupo de um partido de esquerda a garantir uma vaga no legislativo da capital tocantinense.

Composto por Thamires Lima (administradora e porta-voz), Eduardo Azevedo (jornalista e doutorando em Ciências do Ambiente), Elba Bruno (assistente social), Luciely Oliveira (protetora animal), Natália Pimenta (professora), Alexandre Peara (servidor público federal) e Ayrton Lopes (advogado), o grupo afirma em entrevista ao Jornal Opção Tocantins que busca uma representação mais plural e democrática. Defendem causas como justiça social, direitos de mães atípicas, moradia, proteção dos direitos dos animais, proteção ambiental, direitos LGBTQIA+, transparência na administração pública e inclusão social.

Conforme o coletivo, representado, na oportunidade, por Thamires, Eduardo e Elba, a proposta é garantir que as políticas públicas sejam elaboradas de forma participativa, atendendo às reais necessidades da população palmense. Durante a entrevista eles destacam ainda que, devido à diversidade de integrantes e bandeiras, conseguem atuar em múltiplas frentes. É ressaltada a regra de que a representação do coletivo deve envolver pelo menos dois integrantes, promovendo uma abordagem mais colaborativa. Além disso, mencionam a organização em grupos de trabalho, semelhante ao método de divisão de tarefas em ambientes acadêmicos, facilitando o atendimento a diferentes demandas conforme surgem.

O Somos surgiu em 2020. Qual foi a motivação para criar um coletivo?

Eduardo: Tudo começou em 2020, quando não nos sentíamos representado nos espaços institucionais de poder. A ideia surgiu inicialmente de três pessoas, em uma conversa comum, e depois se tornou um convite para a Thamires, que estava morando em Paraíso. Ela havia terminado a graduação e retornado para lá. A chegada dela fortaleceu o grupo.

A partir desse convite, e com a decepção em relação às representações que existiam no parlamento na época, começou a se formar a ideia de uma união política, já com o objetivo de disputar as eleições que aconteceriam em agosto daquele ano. No entanto, as eleições foram adiadas para novembro devido à pandemia. Naquele momento, éramos quatro pessoas: três na linha de frente e eu nos bastidores, cuidando da comunicação.

A motivação inicial veio da falta de representatividade na Câmara, especialmente em relação à diversidade, já que éramos um coletivo 100% formado por pessoas LGBTQIA+. Isso se tornou uma pauta muito forte para nós e uma referência. Mas não éramos só isso. Já éramos pesquisadores: eu era jornalista com experiência em processo legislativo e assessoria parlamentar; Thamires era administradora e pesquisadora; Alexandre, servidor público federal e especialista em licitações e contratos públicos; e o Guto, que trabalhava muito com a juventude e ainda estudava arquitetura.

Quando vocês mencionam que não se viam representados, quais eram exatamente as pautas que sentiam falta? Além da ausência de um representante LGBTQIA+, por que vocês não se sentiam representados? Isso se deve às pautas discutidas na Câmara, que não abrangiam as questões do cotidiano de vocês? Poderiam descrever essa situação de forma mais específica?

Eduardo e Thamires: Na verdade, quando havia debate, era muito fraco. Envolvia apenas apresentações de “dia de algo” ou moções de aplausos para alguém. Não havia uma discussão real sobre a cidade e suas diversas questões. A população não participava e nós não éramos o foco desse debate. As discussões giravam em torno de pautas pessoais, interesses individuais e questões morais. Tanto que, naquele ano, processamos vereadores por homofobia e perseguição contra pessoas trans.

Inclusive, em Araguaína, tivemos o caso de um vereador que foi condenado. Na verdade, ele entrou em um acordo na esfera cível para pagar cestas básicas, mas o processo criminal ainda está em andamento.

Além disso, houve a questão do racismo, que também levamos ao Ministério Público. O vereador Alcivan José foi chamado de “negro bom” e “negro de alma branca” pelo presidente da Câmara de Araguaína, o vereador Marcos da Silva. Na época ele não reagiu, mas ficou chateado. Dava para ver claramente o constrangimento dele. O racismo é algo extremamente estrutural. Quando alguém se posiciona, há uma reação imediata. Mesmo quem é pesquisador e militante às vezes fica travado, gerando um constrangimento silencioso. Quem entende um pouco de linguagem corporal percebeu o desconforto dele no vídeo.

E não foi só sobre essas questões. Fizemos também um trabalho social efetivo. Conseguimos intermediar doações para mais de 25 famílias LGBTQIA+ e para uma comunidade no Santa Helena, com 60 famílias, durante a pandemia.

Distribuímos mais de 5 toneladas de alimentos, milhares de cestas básicas, durante todo o período da pandemia. Foi um trabalho que fizemos seguindo rigorosamente as regras da Organização Mundial da Saúde (OMS). Também lutamos para que Tocantins tivesse acesso às vacinas. Instituímos o projeto “Toca Vacina para Cá”, época em que entramos em contato com os oito deputados federais e os três senadores, argumentando que, no cálculo de distribuição de vacinas, o estado estava muito abaixo, proporcionalmente à sua população. Como resultado desse movimento, a quantidade de vacinas destinadas ao Tocantins quase triplicou. Salvamos vidas.

Depois, incentivamos essas mesmas pessoas, que estavam com muitas dúvidas sobre se vacinarem ou não, e elas nos ouviram porque criamos um vínculo de confiança. As famílias que atendemos e ainda atendemos até hoje se vacinaram. Combatemos também as fakes news, principalmente nos grupos de WhatsApp, que a extrema direita usava para disseminar informações falsas sobre a vacina.

Além disso, tivemos um projeto relacionado à cultura. Mobilizamos deputados federais e estaduais para apoiar a aprovação das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc, trazendo investimentos para o setor cultural, especialmente focado nos fazedores de cultura do Tocantins.

Também fizemos um movimento contra a venda do Jalapão. Fizemos a primeira mobilização virtual e informamos as pessoas do que estava acontecendo, já que muitos não sabiam. Eles se organizaram e vieram para cá.

E outras pautas surgiram dentro das questões de Palmas, como o lado que hoje consideram mais viável para vocês.

Eduardo e Thamires: Também enfrentamos a prefeita [Cinthia Ribeiro] na época, especialmente em questões de igualdade racial, quando criaram a pasta e uma pessoa branca assumiu. Sempre nos posicionamos, criticando quando necessário e elogiando quando era o caso. Acho que amadurecemos muito nesses anos. Uma prova desse amadurecimento é a ampliação do coletivo. Hoje, somos sete pessoas e apenas três são LGBT. Uma dessas conquistas está aqui conosco, nossa querida Elba Bruno, militante pelo Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM).

Esse é um pequeno resumo do nosso início. Disputamos a eleição de 2020 e tivemos 877 votos, ficando como segunda suplência. Não fomos eleitos naquela ocasião. Chegamos a quase ter nossa posse deferida, mas, devido a articulações e manobras políticas, a atual candidata à prefeitura (Janad Valcari) conseguiu se organizar e, por causa disso, não assumimos naquele período.

Com a vitória do Coletivo SOMOS, muitos vereadores com mandatos históricos foram desbancados. Gostaria de saber o que vocês acharam disso.

Eduardo e Thamires: Acredito que isso representa um retorno da população sobre o que deseja e como quer ser representada. O Coletivo Somos surge como uma resposta a essas demandas, trazendo um frescor à política não apenas em Palmas, mas em todo o Tocantins. Sabemos que somos uma vitrine para o futuro político do estado, indo além das responsabilidades que assumimos e das bandeiras que defendemos diariamente.

Em nossas vidas, seremos a base para que outros grupos se inspirem a fazer o que estamos fazendo. Vejo as candidaturas coletivas como o futuro da democracia.

Uma das características das candidaturas coletivas é a necessidade de paciência e de deixar o ego de lado. É fundamental olhar para o outro com carinho e paciência, entendendo que não se trata apenas de uma pessoa, mas de um grupo com individualidades e histórias distintas que se organizam politicamente em prol de um bem maior, que são suas bandeiras.

Isso não significa que a organização política seja algo simples ou fácil; exige muito controle emocional, pois, no final do dia, todos somos seres humanos. Temos divergências de pensamento, e isso enriquece nossos debates, contribuindo para uma democracia mais robusta.

Como vocês organizam o processo de alinhamento das ideias e estratégias para vencer o debate, considerando que são sete integrantes, cada um com suas próprias perspectivas e experiências de vida?

Thamires: No final do dia, a gente tem um bem maior, que é a população. No final do dia, todas as nossas interseccionalidades nos atravessam e chegam no mesmo ponto: pessoas. Então é por isso que eu falo para que nessa hora a gente tem que se despir do ego, se despir da vaidade. A gente conversa, se se organiza, se alinha, dá um passo para trás para dar um salto para a frente. A gente já fez isso diversas vezes. Mas se nós temos hoje um bom resultado nas urnas é porque a continuidade desses alinhamentos e desses trabalhos e dessas bandeiras, essas ampliações, nos trouxeram até aqui. Acertamos mais do que erramos

Desbancar a candidatura de Solange Duailibe, que é a única candidatura histórica do Partido dos Trabalhadores na Câmara de Palmas, gerou algum ciúme ou ressentimento entre os membros do partido?

Elba: Acredito que a entrada do coletivo não gerou ciúmes; na verdade, foi um reflexo do trabalho bacana que eles fizeram. O mandato coletivo que surgiu foi uma inspiração para nós, mostrando que a união pode trazer resultados positivos. Na próxima eleição, teremos mais mandatos coletivos do PT, e estamos prontos para ajudar.

Como vocês veem a necessidade de diálogo com as alas mais conservadoras na Câmara?

Thamires: Sim, é essencial. Mesmo que a maioria da casa seja de novatos, isso pode ser um ponto positivo para nós. Agora, acabou a eleição, e todos precisam trabalhar pelo povo. O que for benéfico para a população será apoiado, e o que não for, será contestado. Um dos segredos da política é o diálogo. Com paciência e entendimento, conseguimos conversar com grupos diferentes em prol da população. As pessoas podem achar que somos briguentos, mas não é isso; somos articulados e lutamos pelo que é certo para o povo. Todas as nossas discussões têm como foco a justiça social. O coletivo promove o debate e o diálogo, além de respeitar as diferenças.

Elba: Quando entrei na política, percebi que amadureci bastante. Sempre fui envolvida na militância, mas estar na linha de frente me ensinou muito. Lembro de quando diziam que eu entenderia melhor as nuances ao me candidatar, e realmente, é uma experiência transformadora. Hoje, mesmo sendo a mais novata do coletivo, vejo que há muito a aprender. Estou aberta a críticas e orientações para melhorar, porque acredito que ainda tenho muito a oferecer.

Eduardo: E é exatamente isso. O diálogo é essencial. Não estamos de portas fechadas, pelo contrário. Quando você treina sua voz, você melhora na comunicação; e o mesmo acontece com a escrita e com a articulação política. Nós já viemos de um espaço de debates intensos, o que nos prepara para atuar de forma madura nesse cenário. Saber até onde ceder, sem comprometer nossas bandeiras, é uma arte. Temos certeza de que o Coletivo Somos vai saber dialogar muito melhor do que grande parte dos novos eleitos, inclusive com aqueles de ideologias opostas, como a extrema direita. Nosso discurso é voltado para o futuro e para o bem comum, e a defesa de quem não tem voz no parlamento. Quando nossa porta-voz assumir a tribuna no dia 1º, o recado do Coletivo Somos será claro.

Quais serão as principais pautas que vocês querem implementar dentro da Câmara?

Thamires: Nossas bandeiras estão interligadas. A pauta climática, por exemplo, está diretamente conectada com a justiça social. Não existe justiça social sem uma justiça climática. A defesa do meio ambiente será uma prioridade, pois entendemos que é crucial para o futuro. E a Procuradoria da Mulher será outra prioridade, que atualmente só existe no papel e precisa de ações efetivas.

Essas são as frentes que vamos trabalhar. Onde existir justiça ou injustiça social, ou justiça ou injustiça climática, o Coletivo Somos estará lá para erguer sua voz. É algo que sempre digo: todos nós temos voz. Não precisamos dar voz aos outros; precisamos unir nossas vozes. O Coletivo vai atuar nesse sentido, levantando as vozes que não estão sendo ouvidas em nossa cidade.

Falando em clima, Palmas enfrenta sérios problemas com áreas verdes. Temos muitos lotes e bairros novos, mas as árvores não foram replantadas. Os rios estão poluídos.

Eduardo: Sim, temos muito trabalho nessa frente. Queria que o Alexandre estivesse aqui para comentar sobre isso. Ele mencionou que, para cada voto que o Coletivo recebeu, ele plantaria uma árvore. Nós tivemos 1.537 votos, então ele vai plantar 1.537 árvores. O Coletivo Somos vai plantar 1.537 mudas. Já conseguimos as mudas com a prefeita, que já garantiu as espécies nativas do cerrado. Vamos convocar estudantes, centros acadêmicos e atléticas para se juntar a essa iniciativa. Estamos buscando informações sobre os melhores locais para o plantio.

Além disso, é importante que as discussões que temos na universidade sejam levadas para a Câmara Municipal de Palmas. É crucial trazer essa visão acadêmica e científica para as decisões políticas. Nós precisamos discutir mudanças climáticas, eventos climáticos. Nós hoje temos o único mandato do PT na capital do estado do Tocantins. Então nós temos acesso direto ao governo federal. E lá, por exemplo, pegando esse gancho da pauta do meio ambiente, nós temos reuniões já previstas com a ministra do meio ambiente, Marina Silva.

Falando sobre a pauta do meio ambiente, temos muitas ideias em discussão na universidade. Outras cidades também são celeiros de boas propostas. O Tocantins, hoje, é um local que ainda não debateu o protagonismo que pode ter nas questões que envolvem o Cerrado e a Amazônia. Por que não podemos ser um estado que avança nesse contexto? O debate ambiental não se restringe à nossa cidade; ele está sendo discutido no Brasil e fora dele. No próximo ano, com a Conferência das Partes (COP) entre os países que compõem a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), isso será ainda mais relevante, especialmente por estarmos em um corredor que demanda ações para fortalecer o Cerrado, que, por sua vez, garante a saúde da Amazônia. Não precisamos debater apenas a Amazônia, mas também o Cerrado, que é uma bandeira que defendemos.

Palmas é uma cidade quente e precisamos discutir como amenizar o desconforto climático. Água e árvores são fundamentais. Quando as pessoas andam pelas praças, elas precisam de um lugar para beber água e descansar. É básico, mas parece que ninguém se importa com isso. Para mim, deveria ser óbvio.

E, além disso, observamos que as calçadas carecem de árvores. As pessoas precisam ter um espaço agradável para caminhar.

Elba: Sobre a questão do autismo, as escolas exigem laudos para que as crianças possam ter acompanhamento. Mas não há profissionais adequados na rede pública para atendê-los. É uma situação complicada. Precisamos de um acompanhante, mas os profissionais não estão disponíveis. A maioria dos serviços é particular, e a fila é imensa. Essa é uma pauta que também precisamos abordar. Estamos buscando visitar lugares, como Porto Nacional e Araguaína, que tem bons exemplos nesse tipo de atendimento e conhecer as demandas locais, como o Anjo Azul.

Thamires: Trago minha experiência como pesquisadora na área, além de ser mulher, mulher preta e lésbica. Nossas vivências são nossas lutas. Precisamos nos inspirar em bons exemplos e boas ideias. Como a Elba disse, é essencial visitar lugares como Porto Nacional e outras cidades, para entender como elas estão lidando com essas questões.

Tudo isso é qualidade de vida para a população. É qualidade de vida para as famílias de Palmas, para as mães de Palmas. Eu me lembro de algo que a Elba disse em seu primeiro discurso, que nunca esqueci: em uma pesquisa, foi descoberto que o estresse que uma mãe de uma criança com deficiência enfrenta é comparável ao estresse de um soldado em combate.

Então, o que precisamos, enquanto vereadores, é encontrar formas de proporcionar uma melhor qualidade de vida para a população e atender essas mães atípicas, que muitas vezes são as únicas responsáveis pelas famílias e que vêm da periferia e de comunidades de baixa renda. Quem está olhando para essas famílias? Quem está cuidando dessas mães? Hoje, a figura da Elba como vereadora é de extrema importância nesse cuidado.

A Thamires será a representante do mandato. Todos os integrantes do Coletivo terão cargos na Câmara? Alguém irá trabalhar externamente? Como será a divisão de funções?

Thamires: Ainda não conseguimos pensar nisso com muitos detalhes, porque a nossa campanha ainda não acabou. Estamos em uma missão para derrotar Janad Valcari. Só vamos conseguir pensar na estrutura do gabinete depois do segundo turno. Temos esse tempo até lá. Hoje, nossa principal articulação é derrubar a Janad.

Mas nem todos os membros do Somos estarão dentro do gabinete, porque, por exemplo, o Alexandre é servidor da Superintendência do Patrimonio da União.

Por mais que ele tenha poder de decisão, assim como a Elba, o Edu e eu, ele não estará no gabinete todos os dias. Ele vai participar das discussões e do que precisarmos, mas continuará no mesmo trabalho. Então, isso ainda não está definido.

Eduardo: Precisamos discutir isso muito mais. Conversei um pouco com alguém que já tem um mandato coletivo, de lá de São Luís. E lá as frentes funcionam de diversas maneiras. Tem gente que trabalha em linha diferente com o governo federal em Brasília, outros fazem articulação política a nível estadual dentro do partido. Alguns acompanham o vereador no gabinete, enquanto outros estão no governo, trabalhando a política pública do gabinete dentro do executivo. Então, são atos somados. Precisamos nos sentar e discutir isso com todos. Precisamos entender onde cada um quer atuar.

Onde você pode atuar da melhor forma, contribuir de maneira mais efetiva e onde se sente mais à vontade? Acredito que isso facilita muito, pois você já entra sabendo quem será a equipe que vai trabalhar com você, esse pessoal que estará presente no mandato, entendendo o papel de cada um.

Thamires: Quando dizemos que somos uma nova forma de fazer democracia, é porque não nos prendemos à estrutura tradicional da política. Inclusive, a Mídia Ninja mencionou que somos um movimento político que nada contra a maré do tradicionalismo conservador, justamente por termos essas possibilidades de agir dentro de um mandato. É como se fôssemos um povo, com diversas vozes, alcançando diversas frentes. Para nós, isso é extremamente vantajoso.

Supondo que eu seja a única pessoa que precisa continuar ali, o que eu preciso cumprir é o rito da justiça eleitoral. Mas todos são livres para atuar em nome do Somos, em nome deste legislativo municipal, em diversas frentes. Isso é ótimo, porque amplifica nossas vozes e nossas atuações. Não precisamos ficar presos dentro de um “Castelinho” na casa legislativa; podemos nos reunir e discutir as demandas.

Eduardo: Enquanto um de nós está lá nos representando, eu posso estar no meu grupo em Santa Helena fazendo audiências. Posso estar na 1.306 Sul, levantando demandas, enquanto Lucy está se reunindo com ONGs de proteção animal. Enquanto estamos ali como vereadores, nossas vozes também estão na comunidade. Temos projetos itinerantes, visitando as quadras, ouvindo associações e movimentos sociais. Há muitas formas de articular essa participação.

Como será o trabalho de articulação nos próximos anos? Como vocês enfrentaram a resistência que muitos partidos de direita apresentaram durante a campanha?

Thamires: Para resumir a campanha do Somos, eu diria que ela se baseia em duas palavras: força e coragem. Estando na linha de frente, precisei ter muita força e coragem para lidar com a extrema direita que me atacou. Não é fácil receber tantos ataques sobre quem você é, sobre sua vida, sobre a cor da sua pele e tudo o que as marcas sociais trazem. Isso não é fácil. No entanto, todos esses ataques reverberaram em mim como uma motivação para continuar. A árvore que dá frutos leva pedradas, certo? Se estávamos recebendo tantos ataques, era porque estávamos dando frutos. Com o apoio de todos e muito jogo de cintura, conseguimos trabalhar e ter êxito nas urnas.

Sabemos que isso não acabou. Quando digo que não acabou, é porque a derrocada da Janad representará um avanço do progressismo em Palmas. As pessoas não querem o extremismo; elas desejam o direito de pensar de maneiras diversas. Quando temos uma Câmara que caminha apenas em uma direção, isso empobrece o diálogo. A diversidade política enriquece o debate, e isso, consequentemente, traz bons resultados. A extrema direita não representa nada disso; ela representa ataques, retrocessos, notícias falsas e o voto do cabresto, algo que os palmenses não almejam mais no dia a dia.

Elba: Estou no movimento há um tempo e, na verdade, minha trajetória profissional começou através de famílias que foram despejadas há muito tempo. Naquela época, já sentia um amor pelo serviço social, e isso me fez perceber que queria seguir essa carreira devido a essas famílias. O que mais almejo é tirar essas famílias das periferias e trazê-las para o centro de Palmas, especialmente as mães atípicas, que são as que mais sofrem. O acompanhamento e os tratamentos geralmente são realizados no centro, e isso facilita para que elas tenham uma vida melhor, pois o tratamento para uma criança atípica é diário.

Se uma criança passa uma semana sem tratamento, ela regride, principalmente no caso do autismo. A repetição é essencial. Elas precisam do acompanhamento diariamente, então, centralizar esses serviços facilita muito para elas.

Eduardo: Sem contar que nossas pautas estão intimamente ligadas ao governo federal. Nós somos o único partido de esquerda, o único partido do PT, do presidente Lula, aqui na capital do estado do Tocantins.

Nos grandes centros, temos um poder de representação na Assembleia Legislativa. Para se ter uma ideia, as pautas de moradia são uma prioridade. Como mencionamos, temos a possibilidade de trabalhar com Marina Silva e com outros membros do nosso partido, como a deputada que também está conosco.

Com a Câmara dos Deputados e nossa bancada, podemos construir uma grande força. Hoje, fazemos parte dentro do PT de uma corrente chamada CNB, que é composta por diversas correntes.

Isso facilita ainda mais nosso trabalho. Nós fazemos parte de uma dessas correntes internas, o que facilita muito o acesso a recursos e informações. Estamos na mesma corrente que o presidente Lula e a atual liderança do partido também.

Thamires: Não acabou a eleição. Eu, particularmente, digo que precisamos agora mostrar nossa grandeza, porque sempre fomos muito maiores do que esses ataques. Tem pessoas que atacaram a camisa, mas que vão precisar das políticas públicas que nós, do movimento “Juntos Somos”, vamos implementar. Algumas pessoas atacaram a Elba e vão precisar das políticas que ela vai criar e, no futuro, voltarão para agradecer. É assim que mostramos nossa grandeza: com trabalho e dedicação.

E sempre haverá pessoas ruins, sempre haverá quem ataque. O que fazemos é o que faz a diferença. Precisamos pensar no que podemos fazer pelos outros, não no que estamos recebendo. Eu acredito que, para a maioria da população de Palmas, esse mandato será muito saudável, pois será efetivo e grandioso. Isso vai inspirar movimentos sociais, movimentos sindicais, conselhos profissionais e a sociedade civil organizada, mostrando que, ao nos organizarmos, conseguimos vencer esses obstáculos e superar adversidades.