Maria Santana Ferreira dos Santos Milhomem foi eleita reitora da Universidade Federal do Tocantins (UFT) para o mandato 2025-2029. Ela concorreu pela Chapa 28, ao lado do vice-reitor Marcelo Leineker Costa, e conquistou a vitória com 2.732 votos, o que corresponde a 53,84% no resultado universal e 56,27% no resultado paritário, que pondera igualmente os votos dos estudantes, técnicos e docentes.

A eleição teve como concorrentes a Chapa 1 “ReConectar UFT”, liderada por Moisés de Souza Arantes Neto e Thiago Henrique Omena, e a Chapa 4 “#UFT Protagonista – Estruturada e Valorizada!”, composta por George França dos Santos e Marli Terezinha Vieira. Maria Santana venceu em todas as categorias da consulta eleitoral, realizada pelo sistema eletrônico do Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins, com a participação de mais de cinco mil votantes.

Doutora em Educação pela Universidade de Brasília, mestre pela Universidade Federal de Sergipe e professora do curso de Direito da UFT, Maria Santana é também pró-reitora de Extensão desde 2016. Em sua trajetória, destaca-se o compromisso com a inclusão e representatividade, podendo ser a primeira mulher negra a assumir a reitoria de uma universidade federal fora da Bahia.

Entre as prioridades de sua gestão estão a ampliação do acolhimento estudantil, ações para qualidade de vida e bem-estar, além da busca por recursos para garantir o funcionamento da universidade. Ela também pretende fortalecer projetos como a Rede Cidadania e Direitos Humanos, que envolve parcerias com órgãos como o Ministério Público, a Secretaria da Mulher e a Secretaria de Segurança Pública, com foco em temas como direitos LGBTQ+ e combate à violência contra mulheres e minorias.

Nesta entrevista ao Jornal Opção Tocantins, Maria Santana fala sobre sua vitória histórica, os desafios da universidade, as metas para os próximos quatro anos e sua mensagem para estudantes e servidores.

O que passou pela sua cabeça quando a senhora venceu a eleição, mesmo com duas pessoas concorrendo contra a senhora?

Para mim, foi uma questão que não foi surpresa, porque tudo indicava que seríamos vencedores. Houve uma organização e uma comoção geral de mulheres, negros, LGBTQIA+ e outras minorias, de modo geral, tanto internamente na universidade quanto externamente à UFT. 

Eu tive um raio de atuação externo que eu não tinha dimensão do quanto eu era querida, do quanto eu era uma pessoa que estava na mente das pessoas. Fiquei encabulada com isso, porque eu tinha dimensão, de certa maneira, do que eu fazia dentro da universidade, que era algo legal, com algumas falhas, mas era legal.

Porém, fora da universidade, não tenho dimensão da quantidade de pessoas, representações e instituições que estavam torcendo por mim e replicavam meus vídeos e cards. Pessoas desde as mais humildes até aquelas com grande influência no estado.

Então, eu tive um raio de atuação muito grande. Para mim, aquilo era tranquilo, eu sabia que alguma coisa de vitória viria.

Até porque todo o trabalho que a gente faz no período da campanha é para expor melhor o que já foi feito antes. Tudo é construído durante um processo. Você não chega numa eleição para ganhar se não tem uma base. É preciso ter uma base de pessoas, uma base de trabalho, uma base de confiança em relação ao seu trabalho.

As pessoas tinham isso. Meu nome era um nome limpo para as pessoas votarem.

Então, o olhar que as pessoas tinham e ainda têm para Maria Santana é esse olhar de que eu represento praticamente todas as pessoas que estão dentro da universidade hoje – brancos, pretos, negros, LGBT, mulheres, indígenas, quilombolas, tudo isso. Eu represento todos.

Se o presidente da república confirmar, a senhora será a primeira mulher negra, e a primeira mulher negra fora da Bahia, a ocupar esse posto numa universidade federal. Qual é o peso simbólico e político de estar à frente disso?

A palavra certa que você colocou é representatividade. A palavra que caminha comigo é essa: representatividade. Quando as pessoas olham para mim, há um olhar de representação, ou seja, você me representa na universidade, representa meu filho na universidade.

Eu tive um trabalho muito legal com todos os cursos da universidade. Por exemplo, até nos cursos onde há poucos negros e negras, que hoje a universidade é multicolor, há muitos negros e indígenas nos cursos de medicina, direito, administração, e também nas engenharias.

Tínhamos uma preocupação em relação à votação nesses cursos, mas foi engraçado que até nesses cursos eu tive uma votação expressiva dos estudantes. Na medicina, houve um engajamento em que 80% dos professores votaram em mim, segundo o mapeamento.

Na área das engenharias, a grande maioria votou em mim. No curso de direito, que é meu curso, também tive votação expressiva. A representatividade manda muito.

Estamos num momento no país em que é a hora da mulher se protagonizar, da mulher negra se protagonizar, da mulher indígena se protagonizar. Chegou o nosso momento de estar nos espaços. Chegar até aqui foi muito difícil. As pessoas acham que foi fácil, mas não foi.

Enfrentei desafios, percalços e obstáculos. Sofro racismo, sofro misoginia o tempo inteiro. Discredibilizam meu trabalho porque sou uma mulher negra na área da educação. Tudo isso faz com que as pessoas às vezes me olhem de forma enviesada.

Mas tem outra coisa que é bacana: quando eu abro a boca para falar, as pessoas prestam atenção no que estou dizendo. Isso impacta, porque meu discurso é um discurso de união, de conciliação, de “vamos fazer”. Não importa o que aconteceu comigo ou com você, vamos juntos. Precisamos trabalhar essa questão da união, de trazer pessoas para estar junto. Isso é importante.

A chapa da senhora trouxe a pauta do acolhimento e da união, apresentando propostas para as minorias. A UFT hoje é majoritariamente composta por pessoas vulneráveis. Diante disso, quais são as ações que a senhora considera prioritárias já nesse início de gestão, quando a senhora for empossada?

Sim, serei empossada. Tenho certeza que o presidente Lula não falhará. Eu fui escolhida pela comunidade. Tenho absoluta certeza que o presidente não vai falhar. 

Na questão do acolhimento, precisamos ter um olhar para a estrutura física da universidade, bem como para a questão simbólica da instituição.Em relação à estrutura física, vamos trabalhar neste primeiro ano na construção de espaços de acolhimento.

Focaremos no acolhimento para os estudantes. Já temos a Casa do Estudante em Palmas, e os outros campi também têm casas, mas precisamos ampliar. Apesar dos recursos escassos, vamos focar nisso, na ampliação dos espaços de acolhimento dos estudantes dentro dos campi.

No campus de Palmas, por exemplo, a prainha precisa de um enfoque melhor, para que os estudantes possam estar e usufruir do espaço. É um compromisso meu trabalhar junto com o campus de Palmas para direcionar recursos. Também temos a questão da qualidade de vida, que dentro do eixo dois é saúde, bem-estar e lazer. Nesse eixo dois, vamos reunir todos os cursos que já têm ações nessa área para unir forças e criar um ecossistema de saúde, bem-estar e lazer.

Isso que temos hoje dentro da UFT já é suficiente?

Vamos discutir isso. Não é suficiente. Precisamos criar mecanismos para que essas ações estejam nos outros campi, porque a maioria está concentrada em Palmas. Precisamos trabalhar a questão multicampi. O que for direcionado para Palmas precisa chegar em Gurupi, Porto Nacional, Miracema e Arraias. As ações serão equânimes, mas têm que chegar em todos os espaços, sempre em diálogo com os campi.

A senhora acha que ficou mais fácil essas ações chegarem nos outros campi depois da separação da UFT, com a criação da UFNT no norte do Tocantins?

Não, porque ter cinco ou sete campi é a mesma coisa. É claro que a distância diminuiu um pouco. Por exemplo, Tocantinópolis fica muito mais longe de Palmas do que Arraias, que é o campus mais distante. Mas o que vamos fazer continua o mesmo. O esforço, o olhar, a maneira de tratar os campi permanecerão os mesmos. Para mim, não houve mudança quanto a isso.

Na Proex, a senhora coordenou a Rede Cidadania e a Incubadora Social. Tem planos para expandir esses projetos ou criar novos programas com esse perfil?

 A Rede Cidadania e Direitos Humanos é coordenada por outra professora. Eu,  na verdade, fui atrás do recurso e conseguimos implantar a rede. Hoje, temos dez professores atuando nela. Eu atuo a partir da Incubadora Social, que tem um coordenador específico. A rede é grande e pretendo manter diálogo com o Ministério dos Direitos Humanos, porque estamos obtendo bons resultados nesses 16 municípios. Temos 12 alunos trabalhando conosco, 11 professores e atendemos 16 municípios com ações nas áreas de intergeracionalidade e sistema prisional.

Na Clínica de Direitos Humanos do curso de Direito, estamos focados na questão LGBTQ+. A Rede Cidadania, da qual fazemos parte, é uma iniciativa que apresentei ao Ministério Público junto com nossos parceiros. Temos parcerias com diversas instituições, como o Ides, o Ministério Público, a Secretaria de Segurança Pública, a Secretaria de Saúde, entre outras.

Para atuar de forma efetiva, buscamos dados junto à Secretaria da Mulher, realizamos ações e implementamos projetos nos municípios, além de oferecer formação nas áreas envolvidas.

Em relação à incubadora, ela vai continuar funcionando em Palmas, que é onde estamos hoje. Continuaremos o trabalho, pois é um trabalho lindo. Tivemos corte e costura, vários cursos da incubadora, e este ano estamos trabalhando com formação psicossocial, atendendo 73 mulheres. Temos duas psicólogas e uma assistente social, que realizam encontros quinzenais com as mulheres, desenvolvendo atividades e planejamento para trabalhar questões psicossociais. Essas ações visam ampliar nosso trabalho.

Atualmente, a universidade no Brasil enfrenta desafios orçamentários. O presidente cortou alguns recursos, mas eles estão começando a retornar. Como a senhora pretende lidar com isso para garantir o funcionamento? 

Sim, eu falei recentemente mesmo numa reunião que, quando se tem um cobertor curto, a tendência é diminuir o raio de atuação ou encarar como um desafio e buscar outras possibilidades. Eu pretendo correr atrás dessas possibilidades.

Nossa prioridade hoje é garantir que o ensino funcione de fato e seja de qualidade. Se o recurso não permitir isso, já estaremos mal. Não adianta pensar em pesquisa e extensão se o ensino não tiver a qualidade necessária.

Se não há laboratórios adequados para o ensino, não há possibilidade de oferecer qualidade. Se há laboratórios de pesquisa que atendam também ao ensino, ótimo, investiremos nisso. Caso contrário, não há possibilidade.

O que vamos fazer, como sempre fiz na extensão e continuo fazendo, é buscar recursos extraorçamentários, com parlamentares, ministérios e editais. Vamos designar pessoas para buscar esses editais de financiamento, como os da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), para garantir recursos extras que possam ajudar a salvar minimamente a universidade para seu funcionamento.

A senhora falou da Casa do Estudante. Quando a senhora se referiu à Casa, estava falando da que será na sede do Tribunal de Contas da União?

Isso. Já foi feita a doação, temos a planta e vamos começar a mexer na reforma. Como é reforma, não precisa ter capital, é dinheiro de custeio. Já há empresa para executar o serviço.

Tem previsão para começar?

Sim, no mês de agosto. Dei esse limite para os responsáveis. Também temos o problema da frota de carros, que está velha. Estamos correndo atrás para resolver isso.

Vejo matérias falando dos gastos da educação, e conversando com as pessoas, penso: “Que gasto é esse que não vejo chegar?” Sabemos que o dinheiro está destinado, mas não está chegando. Algo está errado, pois nossa estrutura e Lei Orçamentária Anual (LOA) mostram que falta dinheiro para tudo. A universidade já foi pior, está sucateada.

Vamos continuar mostrando essa realidade. Faço reuniões com a bancada, e quero aproximar os parlamentares da universidade, mesmo com críticas e acusações de ser bolsonarista ou não ser de esquerda.

Não me interessa. Estou na gestão da universidade e não sou filiada a partido algum. Claro que, por minha origem e cor, a esquerda é o que mais me atrai, mas desde que entrei na pró-reitoria meu partido é a universidade.

Se meu partido é a universidade, vou dialogar com parlamentares de qualquer partido, não importa se são do Bolsonaro, Lula ou outro. O importante é trazer recursos para a universidade, para que as minorias que precisam estudar aqui possam se manter.

Tem que haver política de assistência estudantil, política para negros, negras e indígenas, que é diferente da questão social.

O negro, a negra e o indígena sofrem muito mais porque enfrentam discriminação, vêm da roça, da aldeia. Coloque um menino pobre na cidade e depois um indígena ou quilombola; o quilombola e o indígena sofrem muito mais.

A universidade tem que garantir a permanência dessas pessoas com sucesso.

A senhora falou na campanha que a universidade vai além da sala de aula. Qual é o papel da UFT na construção de políticas públicas para enfrentar desigualdades?

É muito importante que a universidade seja essa luz que aponta e direciona para os desafios do estado. Qualquer universidade pública do Tocantins deve lançar um olhar iluminador para os problemas do estado e dos municípios. Não pode ser uma instituição que olha só para dentro dela.

Quando falo que a universidade tem que estar além da sala de aula, é esse o olhar que temos para o que está externo, a partir da pesquisa e da extensão.

Mas como fazer pesquisa e extensão? Escutando, lendo os indicadores, entendendo o que a comunidade realmente precisa.

Não adianta eu fazer um projeto de pesquisa e extensão que não coaduna com os problemas que aquelas pessoas estão precisando. Então, eu vou fazer um projeto, vai ser um projeto para mim, para meu Lattes, e aí eu chego lá, vou implantar, as pessoas não vão ser impactadas. Elas podem até participar, porque às vezes é um projeto que elas olham e falam: “legal”, mas não vão ter transformação.

O fato de a gente estar fora da sala de aula é justamente para sair desse espaço acadêmico e ir encontrar a comunidade lá fora, ou que ela saia de lá e venha para cá, para que possamos fazer esse trabalho em conjunto, reunindo saberes e conhecimentos. É essa luz que a gente tem que lançar sobre os problemas do dia a dia da população.

Para a senhora, qual a importância dos movimentos sociais dentro dessa discussão, de trazer a comunidade para dentro da universidade, levar a universidade para a comunidade e fazer essa transformação social que a senhora está falando?

Com certeza, os movimentos sociais são centrais nesse debate. O movimento social, quando criado, nasce justamente como resistência para enfrentar um problema na sua localidade, no seu grupo. Por exemplo, o movimento de mulheres: por que foi criado? Como resistência. E se é resistência, para nós, enquanto universidade, isso nos dá a força que precisamos para consolidar essa luz que temos que lançar.

Eles nos dão essa força porque têm pautas emergentes enquanto movimentos. Essas pautas podem vir para dentro da instituição como pauta da própria instituição, e aí a instituição trabalha em cima das dificuldades que o movimento social aponta. Eles têm propriedade porque estão no diálogo direto com os problemas de cada segmento em que atuam. Então, é um movimento de resistência importante.

Qual vai ser a primeira coisa que a Maria Santana pretende fazer como reitora?

Reunir-me com os servidores e fazer um diálogo franco, aberto, apresentar o que foi dito na campanha e dizer: “Vamos juntos? caminhar juntos e juntas?” Porque do contrário, se eu entrar naquela sala e achar que aquele é o melhor lugar para ficar, eu não vou avançar. Aquele espaço só vai me servir para fazer reuniões, às vezes externas, ou para receber um servidor que venha conversar comigo. Mas não serve para mais nada. A representação do espaço de uma reitoria é para isso: espaço aberto de diálogo, mas também de liderança.

É preciso ter liderança dentro da universidade, é preciso comandar. Ou seja, para onde vamos? Quem tem que dar esse tom são a reitora e o vice-reitor. Nós temos que dar esse tom.

Perfeito. Por último, gostaria de saber qual mensagem a senhora gostaria de deixar para as mulheres negras que veem a senhora como exemplo de trajetória e possibilidade de vida. Que mensagem a senhora quer deixar para essas mulheres e meninas que olham para a senhora como exemplo?

Eu digo sempre para minha filha, e quando digo para ela, digo para outras crianças também: que elas devem chegar à universidade. Eu digo para minha filha: primeiro, sempre focar no estudo. É preciso estudar. Para chegar aonde eu cheguei, tem que estudar, tem que saber alguma coisa.

A segunda questão é não ter medo, é avançar sempre. Às vezes recua, chora, e isso aconteceu muito comigo. Chorava, ficava desesperada, mas no outro dia eu já estava pronta novamente para a batalha. Nunca deixei me abater por mais de dois dias. No segundo dia eu já estava pronta para entrar no confronto.

Tive momentos de baixa, momentos de choro, mas isso também nos enriquece porque faz a gente pensar que somos seres humanos.

Eu lembro quando morava na roça, quando vim para a cidade, morava sozinha em Dianópolis, e andava com muita dificuldade. Às vezes não tinha o que comer, não tinha absorvente para usar, usava pano. Eu pensava: “Qual dia vou chegar na minha história, vou poder ter absorvente para usar, uma maçã para comer, vou ter tranquilidade de passar meu cartão e comprar minha comida?” E eu me lembrava: “Já vou entrar na faculdade, e quando eu entrar, tenho certeza que vou passar no concurso.”

Para quem é negra ou negro, a primeira coisa que temos que pensar é estudar e passar no concurso. É a estabilidade, porque negro e negra muitas vezes não chegam aos espaços que gostariam de ocupar, porque somos barrados. Eu fui barrada várias vezes, várias vezes quando não trabalhei por concurso. Chegava aqui em Palmas, via emprego, fazia entrevista, as pessoas olhavam para mim e depois diziam que eu não fui selecionada. Era só cadastro de reserva. Eu sabia que era por ser negra e não estar no padrão que esperavam.

Então, antes de terminar a universidade, fiz um concurso e passei. Fiz vários concursos. Minha relação hoje com a universidade é de gratidão por ter estudado, e por ter passado em concursos. Não dependo de política, de ninguém para sobreviver, para pedir emprego.

Quando vim para cá, tinha 19, 20 anos, fiz o concurso e passei. Desde então fui subindo, trabalhei no estado em vários cargos. Sou muito falante, interajo bem, as pessoas me veem com destaque, apesar de causar impacto por ser uma mulher negra.

Tenho bom relacionamento com todas as pessoas, dialogo bem, há empatia. Eu sei que sou uma pessoa às vezes difícil, mas quem não é? Para mim, uma coisa chave é me colocar no lugar do outro, e por isso erro menos.

Gosto de ajudar, acolher. Para mim, o cargo serve para ajudar outras pessoas. Um cargo que só ajuda você mesmo não serve para nada.

Não tenho aquela energia de “agora sou reitora”. Sou a pessoa mais comum. É muito natural isso.

Aqui as pessoas falam que sou a única pró-reitoria aberta para todo mundo, porque meu celular é aberto, as pessoas vêm conversar comigo em qualquer lugar, e eu respondo, apesar da correria. Tem pessoas que usam cargos para se afastar dos outros, achar que são maiores, mas cargos são passageiros.

O mundo é um círculo. Hoje estou aqui como reitora, daqui quatro anos saio. E as pessoas que eu maltratei podem estar aqui, e aí, como será essa relação? Muitas vezes as pessoas fecham a porta para mim, falam mal, mas também há quem peça desculpas.

Aqui na equipe os meninos no começo achavam que eu era “professora”, depois viram que eu só queria que eles trabalhassem, porque aqui é emprego público, é atendimento às pessoas, tem que cumprir horário, fazer as coisas.

No início fui rígida, mas depois eles entraram no ritmo. Já tenho nove anos aqui, não sou mais menina. Já sabem quem é Maria Santana.