Eduardo Siqueira Campos, natural de Campinas (SP), foi eleito prefeito de Palmas em 2024 pelo Podemos. Filho do ex-governador José Wilson Siqueira Campos, ele tem uma longa trajetória política, iniciada em 1988 como deputado federal e seguida por dois mandatos como prefeito de Palmas (1992-1997). Além disso, foi senador e exerceu importantes cargos no governo estadual, como secretário de Planejamento e de Relações Institucionais.

Ele voltou à prefeitura com um discurso de renovação e simplicidade, focando em um modelo de gestão participativo e no fortalecimento da cidade, principalmente por meio da mobilidade urbana e melhorias na infraestrutura. Casado com Polyanna Siqueira Campos e pai de Gabriela, Eduardo tem se destacado também por seu uso ativo das redes sociais para se comunicar diretamente com a população.

Eduardo Siqueira e família durante diplomação | Foto:

Vamos começar falando sobre a posse do senhor que se aproxima. Como está o desenvolvimento da equipe, as composições de secretarias?

Estou mais ocupado com a estruturação das secretarias. Estamos vendo aquilo que a gente vai implementar, fundir ou pretende fazer em relação ao uso da máquina, para diminuir um pouquinho. Nem falo da questão do número de secretarias, porque isso não importa tanto. O que importa é o número de cargos de Direção e Assessoramento Superior (DAS), de provimento. Enfim, precisamos dar uma equilibrada.

E com relação a essas recentes articulações na Câmara dos Vereadores. Como o senhor vê essa corrida de Marilon Barbosa para assumir a presidência da Casa?

Primeiro, temos que entender que qualquer um que seja vereador e seja apto, isso faz parte da democracia, eu não posso colocar nenhum nome ou outro em qualquer nome. Ainda mais uma pessoa que tem uma tradição política na capital, foi um vereador bem votado. 

Em relação a isso não há nada a comentar, é um direito dele. A Casa é madura o suficiente para passar por esse processo. Eu acho muito bom quando há consenso, quando não existe, há disputa. 

Bom, primeiro temos que entender que qualquer um que seja vereador e que seja apto, em uma democracia, pode concorrer. Então, assim, não posso colocar nenhum óbice em qualquer nome, ainda mais uma pessoa que tem uma tradição política na capital. O senhor Fenelon Barbosa é o pai dele, ele é irmão do governador Wanderlei Barbosa, que é um dos governadores mais bem votados. Em relação a isso, não tenho o que comentar. É um direito, e a Casa é madura o suficiente para passar por esse processo.

Acho que é muito bom quando há um consenso. Quando não há, há disputa. Agora entenda: eu fiz duas vereadoras. No segundo turno, eu recebi o apoio do PSDB, vieram três vereadores, e hoje tem outros vereadores que estão conosco no intuito de ver a gestão estável com uma base.

Me preocupo com a estabilidade que preciso para governar. Como sou bem relacionado sempre com o Legislativo, tenho experiência. Já fiz isso no Senado, na Câmara, na Assembleia e como secretário de Relações Institucionais. Tenho experiência nisso. De uma forma geral, mantenho sempre a serenidade em relação a tudo e quero crer que isso nada tem a ver com um terceiro turno, embora algumas pessoas interpretem assim.

O que registro como lamentável foi na tarde da votação do orçamento de 2025, onde percebi uma ação direta para esvaziar o plenário e não dar quórum para votar o orçamento.

Aí eu pergunto a você: esse é um movimento para presidir a Casa ou é um movimento da oposição atuando em meu desfavor? Qual é o objetivo republicano de não se votar um orçamento?

Se essa candidatura está colocada como uma pretensão e uma disputa interna dentro da Casa, mas com a disposição de termos um bom relacionamento, estabilidade e governabilidade, isso é importante para o Executivo. Esses são os aspectos que me preocupam. Por exemplo, não houve uma apresentação de fotos mostrando 13 vereadores? Eu sempre digo: ali não precisa de 13, basta 12. Se você tem 12, você fez a presidência.

Essa é uma conta simples de matemática. Quem fez 12, fez a presidência. Quem tem 13, está com voto sobrando. Agora, a eleição é no dia primeiro. Eu sabia disso e não tenho declarações a dar em relação a isso. Esse é um assunto que está sendo tratado dentro da Câmara com o atual presidente e os pares.

O único registro que faço até o momento, que diz respeito a mim — porque só posso falar sobre aquilo que me diz respeito —, é que no dia da votação do orçamento houve uma ação clara, por meio de telefonemas, tentando esvaziar o plenário. Se houver qualquer negativa em relação a isso, tenho os vereadores que me ligaram e confirmaram: “Fique tranquilo, há um movimento para esvaziar o plenário, mas nós não vamos sair.”

Não vou fazer julgamentos nem emitir declarações. Posso optar por não falar sobre o processo da eleição, porque quero acreditar que quem se eleger vai querer o bem de Palmas e trabalhar pela governabilidade.

O que eu questiono sobre o dia da votação do orçamento é a possível existência de uma manobra para esvaziar o plenário e impedir a votação. Aí, sinceramente, fico um pouco decepcionado, mas graças a Deus, houve a votação e por unanimidade dos 13 presentes.

O que posso imaginar que a candidata, minha adversária, que eu não preciso nem dizer, teve todos os meios que foram utilizados nessa eleição. Mas venceu a vontade do povo, venceu o candidato com menos dinheiro, com mais história. No final ali, na festa da vitória, o que que eu fiz?  Desmontei o palanque, fui atrás do governador, atrás da bancada, presidente da Câmara, presidente do Senado, fui a reunião da bancada com três senadores e oito deputados, fui a outras instituições. Fiz toda a minha jornada dizendo a todos que a eleição acabou, não existem vencidos nem vencedores. O que tem que prevalecer agora é a escolha do povo de Palmas, bandeira branca. 

O que ficou pra campanha ficou. Até o processo que tinha na Justiça, eu retirei um que eu achei que era o gesto realmente melhor.  Eu tô com 65 anos, eu não tô aqui para mentir, nem pegar nada de ninguém, eu disse o que eu gostaria. Aliás, na minha ida ao Palácio, que eu discuti com o governador, todos os projetos importantes: Cidade do Automóvel, Parque Tecnológico, porque nesses casos, o Estado e município tem que atuar juntos. Eu, como município me dispus a destravar  todos esses projetos, então eu vou continuar perseguindo a paz, vou continuar perseguindo o equilíbrio, a serenidade. Essas são as armas que eu tenho. Paciência, muita paciência. As pessoas me conhecem em articulações de mesa, do âmbito Legislativo, de Congresso.

Eu sou assim, é gelo no sangue. Para ter sangue frio, inteligência emocional, paciência, mansidão e serenidade para enxergar o cenário e agir de forma estratégica, mas eu espero que isso tudo resulte no consenso. Eu ainda vejo a possibilidade de nós chegarmos a um consenso, eu penso. Não havendo consenso, haverá uma disputa e aí é da democracia e eu vou respeitar. Espero apenas que seja qualquer que seja o resultado, eu tenha um presidente que me permita a estabilidade necessária.  

Para se ter uma ideia, isso que aconteceu na votação e eu fiquei sabendo, eu nem tratei isso, não fiz nada. Estou falando agora para ter uma conversa franca. Se houve ou não a participação desses de vereadores para não votarem o orçamento. Se não houve, eu serei o  primeiro a ligar e pedir desculpas.

Essa semana vimos no Diário Oficial do Tocantins a nomeação de quatro parentes de vereadores sendo contratados pelo Estado. O senhor acredita que isso faz parte de uma estratégia do vereador Marilon Barbosa para assumir a presidência? 

Esse é um assunto que envolve os vereadores, envolve a família, envolve a esposa. Eu não vou comentar, não posso dizer pra você se está relacionado ou não à disputa da Câmara. Eu penso que dentro dessas quatro nomeações, que eu tenho voto ali dentro para essa eleição. É um ato do governador. O governador detém os cargos, detém legitimidade para fazê-lo. Não vou entender isso como um processo que foi feito contra mim, em absoluto.

Sobre a aprovação da LOA, apesar dessa articulação, foi aprovada. Como o senhor viu esse orçamento aprovado pela Câmara?

Eu tenho que agradecer aos 13 vereadores que se mantiveram no plenário. Agradecer pela compreensão de que eu criarei novas secretarias, trarei um governo digital para essa cidade. Trarei de volta os programas sociais, vou lutar pelo nosso hospital de urgência e emergência, vou lutar pelas nossas duas pontes, a ponte do Bertaville, o prolongamento da Teotônio Segurado. Vou lutar pela infraestrutura da região Sul. Vou lutar por uma Smart City, uma cidade inteligente. Nós vamos começar por bairros, com projetos piloto, a implantação das subprefeituras, a zeladoria. Eu estou com muitos sonhos. Nós temos a Fundação de Apoio Científico e Tecnológico do Tocantins (Fapto) que está aqui. Nós vamos buscar levar desenvolvimento tecnológico para dentro da gestão, esses são os princípios que me movem. 

Espero que este projeto encante a sociedade de Palmas. Que eu faça juz e seja realmente um contratado pelos palmenses, que vai fazer entregas. Penso sempre em entregar mais do que me comprometi. Tenho uma gratidão inicial por essa Câmara que está com seu mandato se expirando. Tenho muito a agradecer pela   confiança em mim, por ter me dado esses 13 votos, para que eu tenha um orçamento e neste orçamento existe uma margem de remanejamento bastante satisfatória.

Então meu tom será sempre conciliador. Sou nascido em 4 de março, data em que nasceu Tancredo. Ele é uma inspiração para mim. Sempre o vi sereno, com inteligência emocional e preparo necessário para se compreender e transformar as dificuldades em oportunidades. 

O senhor já visitou a Câmara de Palmas três vezes depois da eleição. Mesmo com toda essa articulação, independente da presidência, o senhor acredita que consegue fazer uma maioria?

Acredito que o que eu vou apresentar para a Câmara e para a sociedade de Palmas, não deixará margem de dúvidas para aprovação. Espero na Câmara que se algo puder ser aperfeiçoado receberei com prazer. A minha relação com a Câmara será de recebê-los semanalmente. Eu penso que nós somos independentes, mas somos harmoniosos e essa harmonia implica em respeitar a independência, respeitar a divergência e entender que pode haver o aprimoramento. Mas eu não vejo a preocupação de não aprovar projetos que sejam importantes para a Capital.

O senhor vislumbra conseguir eleger algum presidente da Casa? Algum nome forte para apostar?

O Podemos elegeu, na minha coligação, ele tirou dois vereadores dos 23, depois agregamos no segundo turno mais alguns e há um número expressivo de vereadores hoje da nova bancada e querem participar da base do governo, então há um presidente em exercício, ele luta pela reeleição. Esse é um assunto da Câmara.  Agora, a minha única preocupação é garantir a estabilidade, a governabilidade e não vou além disso. 

Foto: Djavan Barbosa/Jornal do Tocantins

Agora falando da sua gestão, no sentido da infraestrutura de Palmas. O senhor sabe que os palmenses convivem durante toda a temporada de chuvas com os alagamentos e até pequenas enchentes, inclusive na região central, perto do Palmas Shopping?

Na época de minha gestão nós fizemos galerias celulares de 4 por 3 e com emissário de lançamento que preservaram aquela área que é uma área que não inunda. Agora acontece que não dá para tratar a questão de alagamentos com apenas uma questão de drenagem. Você tem que ter um conceito maior que é de ter um Plano Diretor de micro e macro drenagem. É o conceito da cidade esponja. Digamos que nós tenhamos em Palmas 50 mil residências, óbvio que não estou contando aqui os edifícios e tal, mas mesmo assim eles têm área de lazer, tem área de piscina.

Você imagina se todos os quintais dessas casas forem totalmente cimentados. Às vezes é costume de nossa população fazer, e o que ocorre, você está impermeabilizando e deixando a água com mais dificuldade para voltar para o lençol freático. Então, o homem depois da Revolução Industrial, quantos quilômetros quadrados pavimentou? 

Quando falo pavimentou, isso serve para asfalto, concreto calçada, cimento e impermeabilização. Quando voltamos ao conceito dos 50 mil quintais cimentados, que às vezes para não ter poeira, é uma tradição. É meio que um costume. Mas se houver um trabalho, se a cidade estiver trabalhando com consciência de cidade esponja que já é aplicada em grandes capitais do mundo. Recentemente o Ministério das Cidades abordou o assunto como um programa do governo federal.

O que é uma cidade esponja? É respeitar as margens das nascentes dos ribeirões, é não brigar com a água. O homem tem um costume de canalizar e querer que a água vá para onde ele quer do jeito que ele quer. A água não respeita isso e com as mudanças climáticas, está tendo um fenômeno que não havia antes, são trombas d’água com volume muito maior do que os esperados. 

Vemos cidades que estão completamente drenadas e que estão passando por esse problema de chuvas, que são trombas d’água. No nosso governo vamos implantar a Secretaria do Meio Ambiente, Mudanças Climáticas, Cerrado e Amazônia. Esse será o conceito em que vamos trabalhar. Nós temos soluções pontuais a serem dadas em todas essas áreas e temos que não pensar apenas nesse alagamento. Temos que pensar por que que ocorre esse alagamento, de onde vem essa água? Aí eu volto ao pequeno quintal. Ah, mas você está tratando com o quintalzinho de uma casa? Sim, mas são 50 mil, se nós tivermos como drenar mais essa área para os lençóis freáticos, com menos impermeabilização, mais nós avançaremos. Temos que ter um plano, um grande projeto de plantio de árvores. Às vezes nas calçadas, as árvores que estão ali, numa calçada totalmente cimentada. Vemos em outras cidades que eles deixam uma área de terra, bota uma grade, mas por ali a água desce, então em pequenos conceitos chegaremos a grandes resultados.

Nosso conceito é fazer de Palmas uma cidade esponja, ou seja, uma cidade que permite o máximo de retorno desta água ao lençol freático, nós vamos perseguir esse objetivo. Nós temos um Plano Diretor com macro e micro drenagem. Agora com estes conceitos vamos incorporar o que está sendo feito no mundo. Copiar, não tem problema nisso, qualquer coisa boa nós temos que copiar é lógico.

Alguns sites anunciaram que o senhor pretendia chamar cinco mulheres para comporem a sua gestão. Já existe a definição de todos esses nomes?

Isso ainda está em processo de definição. Em conversa com a jornalista Roberta Tum, mencionei um nome durante nossa visita que gerou repercussão. Na ocasião, compartilhei meu desejo de contar com um dos melhores engenheiros da área, formado em planejamento urbano, com vasta experiência em gestão e profundo conhecimento sobre problemas de drenagem. Trata-se de um profissional que já transformou uma cidade onde atuou, foi presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) ou da Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (Fieto) e participou da fundação da Federação das Indústrias. É amplamente reconhecido por sua expertise técnica, e o convidei para contribuir com a implementação de projetos estratégicos, como o Plano Diretor de Macrodrenagem.

Um dos nomes que foram anunciados recentemente, que deve compor uma das secretarias é o ex-prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas. Existe algum outro nome que o senhor possa adiantar pra gente?

Fiz esse convite porque reconheço nele uma capacidade comprovada e amplamente admirada, estou falando do engenheiro civil Ronaldo Dimas. Ele recebeu o convite com entusiasmo, e espero tê-lo em minha equipe de administração. Sua participação traria um ganho significativo de credibilidade, especialmente considerando a complexidade dos desafios enfrentados por Araguaína. Diferentemente de Palmas, que foi planejada como capital, Araguaína enfrenta problemas estruturais graves, e Ronaldo deu soluções extraordinárias ao criar corredores, parques, vias e promover melhorias na mobilidade urbana.  

Ronaldo Dimas foi um prefeito excepcional, e seu sucessor, Wagner, é ainda mais admirável. Ele é um dos prefeitos que mais respeito, uma referência em gestão. Acredito que profissionais talentosos, verdadeiros craques, devem ser trazidos para o nosso time. Eu me orgulho disso – de formar equipes competentes e estratégicas.  

Araguaína é outra cidade hoje. Existe uma clara diferença entre o que era antes e o que se tornou após a gestão de Dimas e Wagner. Wagner, que venceu as eleições com quase 80% dos votos, segue na mesma linha, aprimorando ainda mais a cidade. É um estilo de trabalho que me identifico muito, inclusive em minha rotina. Como ele, também faço questão de estar presente na cidade e dirigir meu próprio carro, mesmo com a idade avançando. Esse contato direto com as pessoas sempre foi uma marca em minha trajetória.

Uma das novidades que o senhor anunciou durante a campanha foi que pretende implantar subprefeituras em Palmas. Já existe definição dos setores, de como será o funcionamento delas? 

A zeladoria cuida do cotidiano do cidadão: calçadas, acessibilidade, iluminação, sinalização vertical e horizontal, reparos em vias, manutenção de gramados, revitalização de praças, feiras e praias abandonadas. É um projeto abrangente que está em fase de implantação. Após sua consolidação, pretendo expandi-lo de forma integrada, alcançando todos os bairros. Para isso, as subprefeituras desempenharão um papel fundamental, atuando como responsáveis pela zeladoria em suas respectivas regiões.

A sua principal adversária, a deputada Janad Valcari (PL), contava com uma base de apoio bem maior e mais tempo de TV em comparação ao senhor. Já a sua candidatura apostou em uma estratégia de maior proximidade com o eleitor. Como o senhor avalia os fatores que foram decisivos para a sua vitória? Além disso, como responde às críticas sobre a aliança com ex-prefeitos, que alguns classificaram como uma associação à ‘velha política’?

“Eu entendo que chamar minha vitória de ‘velha política’ é algo completamente fora de sintonia com a realidade. Recebi apoio, sim, mas sem jamais mudar minha proposta. O candidato a prefeito fui eu. Enquanto isso, eles se apoiaram em figuras de peso o tempo todo, mobilizando toda a força do dinheiro, poder político, poder financeiro e até opressão. Veja bem quem eu tive ao meu lado.  

Caminhei praticamente sozinho, com uma aliança com o Pastor Carlos Eduardo Velozo (Agir). Nossas reuniões eram pequenas, mas extremamente produtivas. Minha campanha foi marcada por visitas de casa em casa, apertos de mão, muito diálogo e uma verdadeira conexão com as pessoas. Eu diria que foi o sentimento que venceu o dinheiro.  

Quando falam em ex-prefeitos e tentam rotular meu apoio como ‘velha política’, pergunto: e os ex-prefeitos do lado deles? A Nilmar Ruiz não foi ex-prefeita e estava com eles? O Fenelon Barbosa não era ex-prefeito? E os ex-governadores Marcelo Miranda e Carlos Gaguim, que estavam alinhados ao atual governador? Por que ignorar isso e focar apenas no apoio que recebi de figuras como Raul e Amastha? A análise precisa ser mais ampla e imparcial.  

Minha campanha teve apenas 32 segundos na televisão. Ainda assim, saímos vitoriosos. Estou profundamente feliz e honrado. Devo essa vitória ao povo de Palmas. Foi um resgate histórico, marcando a eleição mais linda de todas as disputas na cidade. E digo isso com muita emoção e humildade.

Dedico essa vitória ao meu pai e ao povo de Palmas, comprometendo-me a fazer aquilo que Deus nos pede: governar para os humildes, para aqueles que mais precisam.

Quero destacar duas mulheres que foram fundamentais nesta campanha: Polyanna, minha esposa, e Gabriela, minha filha. A base familiar foi essencial, mas elas foram além disso. Polyanna demonstrou uma garra admirável, percorrendo toda a cidade e, em muitos momentos, me fazendo lembrar de minha mãe, dona Aureny. Já Gabriela, transformou-se em uma publicitária e estrategista de campanha inigualável. Era como ter um Duda Mendonça dentro de casa. Astuta, rápida, excelente com redes sociais e brilhante na definição de estratégias, ela as ajustava constantemente, deixando os adversários sem rumo.  

Foi algo digno de comparação com a tática de guerra do Vietnã: uma grande potência enfrentada por uma comunidade menor, que usou inteligência e criatividade para vencer. Nossa campanha foi uma espécie de guerrilha urbana, mas baseada em elos fortes com o sentimento da população e na superação de um enorme poderio econômico.  

Entretanto, a campanha terminou. Foi um período bonito, carregado de emoção, mas agora é um momento de agir, de transformar as propostas em realidade. Para mim, a campanha acabou, e espero que tenha acabado também para os meus adversários. Ainda assim, é difícil compreender como, mesmo após a derrota, alguns insistem, como foi noticiado, em tentar buscar vereadores em suas casas. Isso já não me cabe julgar.  

O que cabe a mim é trabalhar. Meu foco agora é fazer o que prometi e honrar o apoio que recebi.

A derrota de Janad, mesmo com todo o apoio político que o senhor mencionou, evidenciou que o nome Siqueira Campos continua muito forte no estado. Como o senhor avalia o impacto desse apoio para 2026? Já existem nomes em vista para o senhor apoiar?

Não, eu vou assumir a prefeitura e me dedicar integralmente ao meu mandato. Quando digo ‘não façam da Câmara um terceiro turno para que não transformemos 2026 em um quarto turno’, estou movido pelos melhores sentimentos. Não quero enfrentamento. Já venci essa eleição, não derrotei ninguém, apenas conquistei a vitória. Por isso, faço um apelo por leveza e nobreza no processo. 

Quando vejo participantes da campanha encararem a derrota como algo pessoal e, como mencionei, tentarem buscar vereadores em casa, penso: meu Deus, tudo o que não desejo é um terceiro turno. Mas, se insistirem em prolongar essa disputa, acabaremos gerando um quarto turno. Minha responsabilidade agora é governar. Estou totalmente comprometido com Palmas, e posso afirmar: não abro mão de um dia do meu mandato. Se a população me der a oportunidade, farei mais quatro anos depois desse primeiro. Não trocarei nenhum pedaço do meu mandato por qualquer outro projeto.  

Eu não tenho outra ambição. Não pretendo disputar o governo do estado nem voltar a Brasília; já fui senador e deputado federal. Minha vida é aqui, em Palmas. Amo essa cidade. Meu pai e meu filho estão enterrados aqui, e eu quero que, um dia, meu descanso seja ao lado deles.  

Por isso, vamos focar no presente. O futuro será discutido no seu devido tempo. Agora, o importante é falar do hoje e trabalhar pela nossa cidade.

Então, vamos falar sobre o presente. O transporte público de Palmas tem sido um assunto que gerou bastante discussão, especialmente em relação à gestão de Cíntia Ribeiro. Há muitos usuários que reclamam da superlotação, da demora dos ônibus e da cobrança pelo transporte durante feriados e finais de semana, o que não deveria acontecer, já que a gratuidade foi instituída por uma lei encaminhada pela própria prefeitura em 2023. Como o senhor enxerga a situação do transporte público na capital?

Eu sempre defendi, durante a campanha, que a solução para o transporte público de Palmas seria a adoção de um modelo de concessão, que pode evoluir para uma PPP (parceria público-privada). Esse modelo exigiria, em primeiro lugar, qualidade nos ônibus, com ar condicionado, georreferenciamento, pagamento por quilômetro rodado e wi-fi. É isso que busco e é isso que vou oferecer à população. Claro que isso levará algum tempo. Não quero nenhuma interrupção no serviço, pois reconheço a gravidade da situação atual. No entanto, é uma questão pontual e vamos resolvê-la. Palmas tem outros problemas, e, com o tempo, a cidade se esquecerá dessa situação. O objetivo é transformar a mobilidade urbana de forma ampla, não apenas focar no transporte coletivo.

O senhor pretende mudar a sede da Prefeitura e fazer uma sede própria?

Meu gabinete retornará para o Bosque dos Pioneiros. Assim que possível, vamos estudar o projeto para a construção do complexo administrativo. Em minhas visitas a outras cidades, observei unidades compactas que abrigam todas as secretarias, e acredito que devemos apostar na simplicidade. O prédio onde funcionará o meu gabinete será plano, sem andares. Estou absolutamente apaixonado pela ideia de voltar a governar dali. Embora não seja possível no dia primeiro, assim que for viável, estarei lá.

Agradecemos muito a entrevista, há mais alguma coisa que o senhor queira acrescentar para nossos leitores?

Olha, eu só peço às pessoas: respeitem a decisão do povo. Vamos desmontar os palanques e evitar um terceiro turno. Permitam-me, permitam ao povo de Palmas, ter o prefeito que eles escolheram. Isso significa garantir governabilidade e uma base sólida. Não é uma questão de obediência cega, mas de valorizar os vereadores, permitindo que aprimorem os projetos e, se necessário, rejeitem uma matéria para apresentar uma proposta melhor. Tenho muita experiência no Legislativo, foram 24 anos de mandato, e no Executivo, são 8 anos, somando os quatro anos como prefeito e quatro como secretário de estado. Com toda essa experiência, vou buscar essa paz e união para a cidade.