Edy César: “Vender patrimônio tem que acontecer só se a gente não tiver outra opção”
14 janeiro 2024 às 08h15
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Coordenador da Campanha eleitoral do presidente Lula no Tocantins em 2022, o advogado Edy César dos Passos Júnior foi o primeiro escolhido para comandar órgãos federais no Tocantins neste terceiro governo do presidente Luís Inácio Lula da Silva. Desde então, vem fazendo uma gestão diferente de gestores anteriores da Superintendência de Patrimônio da União (SPU), um órgão vinculado ao Ministério da Gestão e que até então era pouco visível aos olhos da população.
Desde julho do ano passado, Edy já conseguiu regularizar áreas em cidades e foi o primeiro no atual governo em todo o Brasil a conceder a titulação de uma área quilombola. Em decisão inédita, o prédio público que sediar a representação do Tribunal de Contas da União (TCU) passará a abrigar a Casa do Estudante Universitário da Universidade Federal do Tocantins (UFT). “O prédio do Tribunal de Contas União (TCU) estava com apenas cinco servidores ocupando 1.800m²”, explicou
Edy também trabalha para ofertar áreas para construção de moradias através do programa Minha Cada Minha Vida, o que pode oferecer cerca de 10 a 20 mil moradias, quando o déficit é de 40 mil. “Ao longo dos próximos 3 anos. Não vai atender o déficit, mas vai reduzir em 90%”, enfatiza.
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, em nossa sede em Palmas, Edy César também fala da ideia do governo anterior de vender o patrimônio da União para conceder auxílio a caminhoneiros e outras categorias e até para pagar dívidas do governo. “Essa não é a visão que a gente tem hoje, esse negócio de vender patrimônio tem que acontecer só se a gente não tiver a opção”. O maior objetivo de uso deste patrimônio ele diz que tem que ser em favor da população que necessita, como recomendou o presidente Lula.
Alvaro Vallim – A SPU era um desses órgãos federais que pouco aparecia, as pessoas não viam a sua importância. Mas é um órgão que tem uma importância grande, que é cuidar do patrimônio da União. Então, a pergunta é: após sua indicação para chefiar a SPU no Tocantins, como veio a ideia de mudar esta visão que existia?
Eu terminei ano de 2022 coordenando a campanha do Lula no Tocantins e fui para a transição. Lá na transição eu fiquei junto com a ministra Esther. A Esther veio a ser ministra da gestão, e na época era o trabalho do planejamento e orçamento de gestão. Aí viraram dois ministérios aí, Planejamento e Orçamento e Gestão e Inovação. E aí eu fiquei no relatório do patrimônio da União, então eu peguei os relatórios nacionais e a gente viu alguns problemas que já estavam acontecendo, que era a utilização de terras públicas federais para venda, privatização.
A grande ideia do governo passado era privatizar o litoral brasileiro e depois avançar, seguindo hotéis e ilhas em locais de controle ambiental e privatização das praias. Então havia uma proposta do governo anterior de levar o patrimônio público a ser privado. Hoje a União tem mais ou menos uns R$ 2,5 trilhões de reais em patrimônio e aqui no Tocantins R$ 20 a R$ 30 bilhões, o patrimônio da União aqui. Então se você faz uma venda no governo de um trilhão de reais em patrimônio, é muito dinheiro que o governo arrecada, certo? E aí pode virar muita coisa, como a ideia de dar auxílio para caminhoneiros, enfim, uns auxílios que eles pensavam na época, e pagar parte das dívidas do próprio governo.
Essa não é a visão que a gente tem hoje, esse negócio de vender patrimônio tem que acontecer só se a gente não tiver a opção, né? Então, usar ali na habitação popular, ou atendendo uma prefeitura, aí sim. Então acho que é bem isso. Esse ano a gente fez grandes entregas, só de titulação de cidades nós tivemos São Bento e Sítio Novo. Então foram mais de 4 mil famílias que foram tituladas pela União, terras que eles não tinham antes, né? Então é uma preocupação grande. A gente está muito preocupado em fazer a primeira titulação de comunidade quilombola, governo Lula III no Brasil que deve ser a Comunidade São Vicente.
A grande ideia do governo passado era privatizar o litoral brasileiro e depois avançar, seguindo hotéis e ilhas em locais de controle ambiental e privatização das praias. Então havia uma proposta do governo anterior de levar o patrimônio público a ser privado.
Ruy Bucar – Essa pretensão, no passado, terminou criando uma antipatia. Dizendo que é muito patrimônio para nada, e que custa também manutenção, edifícios no Rio ainda, quando era capital, em Brasília, que estão abandonados. Pelo menos foi essa imagem que foi colocada. Eu queria também colocar essa análise desse patrimônio do ponto de vista da necessidade de moradia, porque a gente não está falando só de terras, estamos falando também de prédios, de edifícios, de construções, diante da enorme necessidade que a gente viu também, aumentar o número de pessoas sem casas próprias, sobretudo em função também de não ter programas como Minha Casa Minha Vida. Como é que você coloca esse questionamento que foi feito e foi apresentado para a opinião pública pelo governo anterior?
É justo, né? Se você pegar somente o patrimônio da União em Brasília, são mais de 400 apartamentos funcionais que vão voltar lá na ditadura militar, e a democratização foi adquirindo imóveis. Então tem muito imóvel. A gente tem o problema até de ocupação de imóveis públicos federais em São Paulo, como aconteceu recentemente, nos imóveis da SPU.
Não é o caso do Tocantins. A gente tem lote no Tocantins e poucos prédios. Agora, por exemplo, o prédio que a gente estava com o prédio do Tribunal de Contas União (TCU), por exemplo, ele estava com cinco servidores apenas ocupando 1.800m². A gente viu que não dava. A gente tinha que dar uma nova destinação, um novo planejamento, fazer uma casa de estudante dentro de um prédio público. Por quê? Não dá para fazer habitação familiar, mas dá para fazer um departamento, extensão, colado com a ideia de fazer uma casa de estudante com residentes médicos. Resolveu o primeiro a residência médica da universidade. Economiza, porque o aluguel social, a universidade paga R$ 800,00 por pessoa. Então, 75 pessoas são R$ 800 mil por ano.
Eu estou propondo criar um Minha Casa da Minha Vida no centro de Gurupi. E aí tenho sofrido alguns problemas com alguns atores políticos, que acham que não tem que ter a habitação popular faixa um no centro da cidade. E Eu estou querendo fazer isso aqui em Palmas também. A gente tem alguns lotes de 10.000m², que dá para verticalizar. A gente tinha pensado ali de frente à OAB, perto da Receita Federal, nos nossos imóveis próximos da Praça dos Povos Indígenas. Mas já tem gente dando pulo.
Eu estou propondo criar um Minha Casa da Minha Vida no centro de Gurupi. E aí tenho sofrido alguns problemas com alguns atores políticos, que acham que não tem que ter a habitação popular faixa um no centro da cidade. E Eu estou querendo fazer isso aqui em Palmas também.
A cidade foi pensada para colocar o faixa 1 ali. Os contrários acham que tem outros locais certos de colocar pobre. Mas a ideia do nosso presidente mesmo, ele falou muito assim, “olha, o Minha Casa da Minha Vida vai ser priorizando as áreas públicas federais”. Está acontecendo isso. A entidade, ou prefeitura, ou estado que tem uma área federal destinada para o Minha Casa da Minha Vida, e a Caixa vem e financia. Então eu acho que a gente vai dar uma enxugadinha e resolver um problema habitacional. Não resolve tudo, mas já dá uma amenizada.
Elâine Jardim – Porque o déficit hoje é de quase 40.000 pessoas.
No Tocantins. E aí a gente está falando um Brasil de 8 milhões de déficit habitacional. E a gente está falando de um país que tem 5 milhões de moradias que não estão habitadas. 4, 5 milhões. E que o próprio governo federal tem muitos locais que podem atender. É por isso que a gente não resolve o problema assim. Mas pelo menos o governo tem falado em 15 a 20 mil aqui no Tocantins. Ao longo dos próximos 3 anos. Não vai atender o déficit, mas vai reduzir em 90%. Vamos ver se a gente consegue executar. Principalmente no Minha Casa da Minha Vida Entidades. Isso que é importante. Que a entidade constrói, ela faz e tal.
Ruy Bucar – A senadora Dorinha tem feito um discurso muito veemente, no sentido de que o governo do estado precisa apresentar proposições para que o governo federal deixe de ter tantas áreas. Ela cita claramente a margem da Belém-Brasília, que para a construção da estrada a União requereu para si uma área muito extensa. E hoje você tem o perímetro urbano das cidades que nasceram na margem da rodovia, e que não tem regularização. E você também tem as propriedades mais valorizadas do estado. Ela ainda não disse o que por trás. Ou qual é a verdadeira intenção. Você acha que está embutido ainda esse discurso de transferir para a iniciativa privada. De tirar da União e cobrar com rapidez. Mas não é pensando em uma destinação, da terra cumprir a função social. É mais realmente a pressa de transferir. É mais esse discurso ainda da terceirização. Ou seja, passar o que é público para a iniciativa privada?
É que tem o PL 1199. O PL até trouxe ele aqui. Artigo 1º. São transferidos para o domínio do estado de Tocantins. As terras da União nele localizadas. Artigo 2º. Estão excluídos os que estão em natureza constitucional. O que é natureza constitucional? Ilhas, rios, etc. E tudo que é de natureza que gleba arrecadada é o Incra. Então o grande problema do PL 1199 é que o Incra perde a sua possibilidade de titulação. E passa para um outro ente.
Se você imaginar que o maior latifundiário do estado do Tocantins em quantidade de terras é o Itertins. O Itertins tem uma quantidade de terras absurda que tem que regularizar. Eles têm um corpo funcional para fazer isso? Eles têm executado uma política, mas ainda tem muita coisa para fazer. Se o PL 1199 passa, a gente vai aumentar em 40%, 50% o tamanho das áreas que o Intertins vai cuidar. E aí talvez não seja tão pragmática essa ideia do estado. Por quê? Sendo que o Incra tem cuidado.
Eu propus isso para o Robson. Conversei com o Procurador-Geral do Estado sobre isso. Conversei com o Deputado Ricardo Ayres e decidi o seguinte. Vamos fazer um grupo de trabalho. E esse grupo de trabalho faz a gente pensar junto uma saída nesse problema.
A gente está falando de uma margem da rodovia de 100 km de cada lado. São pessoas que não estão tituladas. Agora, se passar por o Itertins, elas vão ser tituladas? Vai ser mais rápido que o Incra? Ou não vai ser? Já que o Itertins já tem os seus próprios problemas. Então, é muito disso. Então, quem quer a ideia? Seriam nós, o Patrimônio da União, o Incra, enquanto União e a AGU, de um lado. De outro lado, o Itertins, a Companhia Imobiliária do Estado de Tocantins e o Procurador-Geral do Estado. Junto com o Interveniente, o Ministério Público Estadual e Federal.
Seria esse grupo de trabalho para a gente tentar achar uma saída para esse PL 1199. Para ver como é que faz. Porque mesmo as áreas que o Incra tem cuidado, o Incra hoje criou cerca de 390 assentamentos no Estado. É um trabalho grande.
Então o grande problema do PL 1199 é que o Incra perde a sua possibilidade de titulação. E passa para um outro ente (governo do Estado). Se você imaginar que o maior latifundiário do estado do Tocantins em quantidade de terras é o Itertins. O Itertins tem uma quantidade de terras absurda que tem que regularizar. Eles têm um corpo funcional para fazer isso?
Alvaro Vallim – Você falou com relação à titulação em cidades. A gente sabe que, por exemplo, Araguaína, Gurupi, cidades grandes, Paraíso, tem problemas de titulação das terras urbanas. Como é que a SPU pode ajudar esses municípios nesse sentido?
Depende muito. A gente tem o Reurb (Programa de Regularização Fundiária Urbana) e hoje os municípios têm grande autonomia e capacidade de titular a população com regras fundiárias. Você tem hoje o Tribunal de Justiça, através da Corregedoria Tribunal de Justiça, que vem ajudando os municípios a titular. O Tocantins talvez seja a unidade da federação que mais titula. Isso os municípios, o Estado e a própria União.
E temos muitos atores interligados. Hoje a União, o Estado, o município e o Tribunal de Justiça estão muito interligados para dar resultados de milhares e milhares de titulações anualmente. Então, eu acho que o Tocantins está muito no caminho certo. A União costuma, quando é área nossa, a gente comunica o município que aquela área é nossa, a gente comunica que tem os moradores em cima e dá autorização para o município titular.
Aí ele faz o cadastro, a parceria com o Tribunal de Justiça. E o município já entende a situação fática. Aí eu vou lá, faço um documento e passo para o município. O município titula individualmente. E nós vamos lá entregar os títulos conjuntamente. O Estado, a União, o município, o Tribunal de Justiça. É um projeto bonito. Eu acho que os outros Estados têm que seguir. Porque aqui está funcionando. Está fazendo bem. Em Palmas mesmo, a prefeita, entregou muitos títulos recentemente.
Elâine Jardim – Você disse que entregou o primeiro título para uma comunidade quilombola, da intervenção recente. Tem pessoas lá que estão sendo até ameaçadas de morte. Aí eu queria saber como é que tem sido o trabalho da SPU junto com outros órgãos para manter a segurança daquele povo que está sofrendo? Mesmo com essa entrega dessa titulação que diz para eles que a terra é inteiramente deles.
O programa de doação dessas terras vai iniciar em 1888. Então o problema agrário só vai acentuando. É a segunda maior ilha fluvial do Brasil, inteiramente fluvial. Estou falando do tamanho da Ilha de São Vicente. E aí você tem esse problema das comunidades quilombolas de São Vicente que vem lá da doação após a abolição da escravatura dos senhores escravos lá do passado, que deu para a família e vem até hoje.
E aí é preciso mover ações para integração de posse. Que quem move é o Incra. Outro passo é retirar os ocupantes, os chacareiros. E aí é um processo um pouco traumático. Porque os chacareiros não querem sair. O INCRA quer tirar. A procuradoria do INCRA também está pronta. A Justiça Federal já está delimitando isso. A titulação não acaba. Não dá fim à coisa em si.
É só o começo. Então, nesse meio aí, eu fui lá duas vezes na ilha. A primeira vez eu fui sozinho. E na segunda vez a gente foi acompanhado pela Justiça Federal. A gente estava com a Ouvidora Agrária Nacional, que é uma juíza federal. Então a gente ficou preocupado. Ela foi pessoalmente. E nós conseguimos o apoio de três agentes de polícia nos acompanhando. A gente acha que resolve isso em um ano, um ano e meio. A comunidade tem assessoria, advogados. Que tem orientado eles nesse sentido. Mas não é fácil.
Ruy Bucar – Edy, a gente poderia passar para a política? Fazer um balanço com o primeiro ano do governo Lula. É possível fazer um balanço? Você acha que afetivamente a gente já viu resultado prático? E que a gente pode dizer que mudou o balanço?
A gente teve a formação do governo Lula e eu estive na transição. A posse dos ministros em janeiro. Estava todo mundo a pleno vapor já. Aqui no Tocantins a administração federal começou em julho.
Eu fui o primeiro a ser nomeado da administração do governo Lula aqui. E um dos primeiros do país a ser nomeado nos estados. Mas os outros foram demorando. Mas a gente já vê muitos resultados. Com relação ao Tocantins, por exemplo, vamos pegar o Incra. Que titulou mais de 500 famílias. Isso é um resultado prático rápido.
O trabalho que o Ibama retomou agora com relação ao planejamento e a execução de operações nas ilhas federais, nos rios. Isso já tem impacto na redução das queimadas nos estados. Já é medido.
Você tem o retorno do Minha Casa Minha Vida para o Tocantins. E aí você já tem o papel da Caixa Econômica Federal desenvolvendo muito forte. Acho que um destaque para o Tocantins ficou a Conab, que tinha um orçamento no ano passado de R$ 1 bilhão de reais para comprar alimentos para distribuir para a população. Já foi para 20. Em 2025 vai para 30. É um avanço muito grande enquanto política pública para a execução.
E no Brasil a gente está vendo o primeiro ano muito complexo. Mas com grandes resultados na área ambiental. Principalmente na pauta econômica. A pauta econômica bateu bem. Mas a polarização ainda existe. O Natal foi agora. A gente vai ouvir piada. Faz o L. Está chovendo, está alagando. Cadê o amor? A gente vai ouvir piada. A gente vai conviver isso. Talvez. Para sempre. Esse processo de polarização, não sei se ele tem retorno. Não adianta.
Alvaro Vallim – O mundo está polarizado.
Não adianta. Porque se a gente apresenta o produto secundário com o crescimento do PIB 3,5% e o Brasil ser top 10 do no mundo em economia. Para o outro lado, a gente tem alguns problemas que a outra parte vai dizer o problema é esse. Então não tem como agradar todo mundo. Mas eu acho que é um grande primeiro ano economicamente e ambientalmente. Então eu acho que são os dois pontos. O retorno do PAC e do Minha casa Minha Vida.
E no Brasil a gente está vendo o primeiro ano muito complexo. Mas com grandes resultados na área ambiental. Principalmente na pauta econômica. A pauta econômica bateu bem. Mas a polarização ainda existe.
Alvaro Vallim – Porque todo mundo do outro lado apostava que a economia do Brasil ia ser um fracasso?
Inflação, né? A queda da Bolsa de Valores chegou a 140 mil pontos. E agora tem alta de 5 mil pontos. É um recorde histórico.
Alvaro Vallim Nós tivemos o PIB com mais de 3. Todo mundo apostava em menos de 2.
Tivemos o retorno à nona economia mundial, que estava 12º, 13º.
Alvaro Vallim – E isso aconteceu com juros acima de 12%.
Na administração pública, o primeiro ano você planeja as grandes políticas. O segundo ano você executa. O terceiro ano você executa também. O último ano avalia. Então em tese o grande momento do governo vai ser 2024 e 2025. Então vamos ver. Eu tenho outras expectativas.
Ruy Bucar – Pelo volume do recurso do PAC e do Tocantins é algo assim inimaginável. R$ 35 bilhões é quase que o PIB do Estado. Mas era justamente isso que eu queria saber. Porque no Estado você tem duas grandes obras que são as maiores do Brasil. E eu queria saber sobre essa agenda do presidente que nem na campanha não tem condições obviamente pela necessidade mesmo eleitoral. Mas assim, a vinda do Lula está relacionada a essas duas obras. A gente sabe de outras grandes obras também que estão sendo feitas que são rodovias. Mas como é que é a agenda dele em relação a sobretudo a execução do PAC que é o grande volume do Tocantins?
Não deu para ele vir na campanha e para a gente dar a condição de campanha foi um alívio. Porque a gente não tinha a condição de atender o tamanho do Lula aqui em uma campanha. A gente estava sem ninguém da estrutura política institucionalizada com a gente. Foi uma campanha bem periférica contra todos os grandes atores políticos. Então o Lula não tinha condição nem para construir um palanque aqui no Tocantins. Não dava para trazer ele.
Mas agora, no primeiro ano, o Lula veio atender uma necessidade internacional muito forte para que o Brasil volte a ser destaque no exterior. Ele não teve grande tempo para rodar o Brasil. E a promessa é que ele vai rodar o primeiro semestre. Então ele vai começar agora na segunda e quinzena de janeiro e vai parar até junho. Junho, mais ou menos. Porque também ele não vai para as campanhas eleitorais abertamente. Só no município. E aí, ele volta para o Tocantins em março, provavelmente. Dependendo do prazo da entrega da ponte de Xambioá. Eu estive lá junto com o Renan, que é o Superintendente do Dnit. E está pronto. Está muito encaminhada.
Então, eu estava falando com a prefeita de Xambioá, que ela esteve com o presidente Lula, com o presidente Temer, com o presidente Bolsonaro e agora com o presidente Lula. As quatro fases. Do planejamento à execução final, foram quatro presidentes dessa ponte.
Não deu para ele vir na campanha e para a gente dar a condição de campanha foi um alívio. Porque a gente não tinha a condição de atender o tamanho do Lula aqui em uma campanha. A gente estava sem ninguém da estrutura política institucionalizada com a gente.
Ruy Bucar – Mas o PT está concluindo a obra.
Começou. Planejou, botou a pedra fundamental. O Temer construiu bastante. O Bolsonaro em quatro anos construiu também. Não foi um grande governo de obras, mas construiu também. Nós vamos entregar. Isso é bacana. Porque tem outro play também que a gente está falando sobre a vinda do Lula, que é a entrega do título de Cidadão do Tocantins na Assembleia Legislativa. Está aprovado também um título de cidadão palmense aqui da Câmara Municipal.
Temos ainda o título de Doutor Honoris Causa, do presidente Lula. E todos os órgãos federais e entidades que trabalham para o governo tem pautas positivas para apresentar. Então seria um dia para fazer tudo isso.
Alvaro Vallim – Falando aí nessa agenda política, como é que está o PT no Tocantins? O que o PT está planejando para os municípios?
O PT saiu da eleição de 2022 sem deputado estadual, sem deputado federal, sem o Célio Moura na Câmara Federal. Complicado, né? E numa análise bem real, bem fria atualmente, nos municípios do estado do Tocantins, a gente não tem prefeito espontâneo. A gente tem trabalhadores. Tem o Salomão, tem seis, sete prefeitos, até oito, dez mais prefeitos que a gente pode ganhar, mas acho que deve ficar em torno de quatro ou cinco.
Essa é a quantidade de prefeitos que a gente deve fazer. Talvez tenha um retorno do Júlio César para o PT de Couto Magalhães, que é um PT histórico, foi presidente do PT. Talvez isso aconteça na janela. Não precisa ser na janela, mas ele quer fazer junto.
Mas acho que o grande objetivo do PT hoje é fazer vereadores. Eu conversei com a Solange Duailibe para que ela não sair do partido. Ela tinha falado que quer acompanhar a prefeita. A gente conta com ela aqui em Palmas.
A gente conta com candidaturas fortes em Araguaína, como Bismarck. É a condição de ter 1.500 votos ou mais em Araguaína. A gente pode fazer um vereador lá. O Cabo Carlos tem tocado em Gurupi algumas coisas, mas acho que o plano do PT é fazer vereadores. Prefeito não está acontecendo muito. Talvez a gente apoie o Porto Nacional o Ronivon. Está bem encaminhado isso.
Talvez o PT apoie a Josi Nunes em Gurupi. Tem esse diálogo muito forte nesse play. Colinas do Tocantins, infelizmente a gente não tem candidato. Depois de quatro mandatos, a gente não tem ninguém para lançar. O prefeito está muito forte, o Casarim. Não sei o que vai acontecer lá também. Não é um bom momento Para o PT Tocantins. Tem uma aproximação do PT Tocantins com o Governo do Estado.
Alvaro Vallim – Eu ia perguntar exatamente sobre isso. Como está a relação do PT com o governo do Tocantins?
Tem essa aproximação. Para a gente, que é da Administração Federal, é importante. A gente estar interligado no plano político. Já que o Governo do Estado está muito alinhado ao governo Lula e os deputados federais têm votado, como o Ricardo tem votado com o Governo Federal,
Acredito eu que seria um caminho natural o PT estar junto ao Governo do Estado. Eu converso exclusivamente com o Deocleciano da importância da gente estar junto. Mas eu acho que precisa de uma sinalização do Governo do Estado para fazer a oficialização do convite do partido. Para a gente também não ter problemas de embates eleitorais na próxima eleição.
Ruy Bucar – Pelo menos na vinda do Padilha me parece que o governo teve um aceno para mostrar que tinha uma simpatia. Ou seja, prestigiar um ministro que tem força no governo. Ele foi muito bem tratado aqui. Esse aceno indica que o governo também tem disposição para esse diálogo que vocês estão colocando?
Eu acho que teve um aceno forte do governo para disposição para um diálogo para o PT estar vindo próximo ou estar na própria estrutura da base do Governo do Estado. Eu estou falando isso como filiado do partido. Eu vejo essa necessidade do PT estar próximo e eu acho que o Governador deveria avançar em trazer o partido para estar na própria estrutura formal do governo com secretarias. Porque é assim que entra na estrutura formal.
Assim como o Republicanos, partido do governador, entrou na estrutura formal da Presidenta da República, da mesma forma o PT deveria entrar aqui na base. Isso é um ponto que não é consenso no PT, mas eu acho que conta com a maior parte dos militantes hoje. De entender que é a próxima unidade aqui no Palácio. Não temos grandes problemas com o Governador.
Ruy Bucar – Os líderes do Estado costumam fazer uma análise de que aqui não tem essa polarização que em nível nacional tão forte. O Wanderlei esteve com o Bolsonaro claramente fazendo a opção, não havia necessidade na campanha dele. Mas efetivamente ele foi lá e agora ele faz um aceno para o governo. E o PT também aceitando essa possibilidade. Isso na sua opinião confirma essa tese de que a polarização não é tão forte no Tocantins que é possível esses extremos conviverem na construção de um centro direita que sempre dominou a política Tocantins.
É engraçado que a votação do Governador foi muito parecida com a votação do Lula aqui no Tocantins, 54, 53%. Acompanhou. Uma parte dos eleitores do PT e do Lula votaram no Governador. Então mostra como as eleições nacionais não influenciam tanto aqui nas eleições locais. Se influenciasse, o Lula com 55% do voto do Estado, a gente tinha deputado federal do partido. Tinha prefeitos, tinha outras estruturas de poder que não existem hoje. Então a população não tem problema de votar um Governador que defende um outro presidente e num outro presidente que é do outro lado.
Até porque a aproximação do Wanderlei com o Lula foi muito orgânica e funcionou bastante. Começou já na COP do ano passado antes da posse do Lula, e eles se deram muito bem. E o Lula já se falava várias vezes e ele tem muito acesso aos ministros. Então é um Governador muito alinhado ao governo. Independente de em quem ele votou, não importa mais. Agora é gestão. Importa a eleição daqui a três anos.