Em sua primeira candidatura, Mariana Carla de Almeida, “MaryCats da Causa Animal” nas urnas, recebeu 2.215 votos, sendo a sétima candidata a vereadora mais votada em Palmas pelo partido Podemos, o mesmo partido do prefeito eleito, Eduardo Siqueira Campos. Ela tem 42 anos e é natural de Araxá, Minas Gerais. Residente da capital há 22 anos, Mariana se estabeleceu como professora de ensino superior, voluntária em causas de proteção animal e, mais recentemente, figura pública na política.

Graduada em Administração e com sólida experiência na área de ensino, Mariana iniciou sua trajetória profissional na Federação das Indústrias do Estado do Tocantins (FIETO) como auxiliar administrativa e, posteriormente, coordenadora dos cursos de pós-graduação da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

 Em 2007, ela começou a lecionar na Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), transmitindo aulas EAD ao vivo para diversas regiões do Estado. Hoje, atua como professora no curso de Administração da Universidade Federal do Tocantins (UFT).

Além da docência, Mariana também trabalhou na Infraero após aprovação em concurso, atuando no aeroporto de Palmas e em Brasília, de onde conseguiu transferência de volta para o Tocantins. Desde 2016, ela se dedica também ao voluntariado, especialmente no cuidado de animais de rua, uma atividade que a aproximou ainda mais das pessoas.

Durante as eleições, Mariana registrou despesas de campanha no valor de R$ 78,6 mil. Com um histórico voltado ao serviço público e causas sociais, Mariana pretende continuar contribuindo para Palmas e fortalecer a representatividade das políticas voltadas ao bem-estar animal.

MaryCats | Foto: Reprodução Redes Sociais

Como começou essa sua paixão pela causa animal?

Desde criança, sempre estive cercada de animais. Na minha família, principalmente do lado da minha mãe, todos amam bichos, então esse carinho sempre esteve presente. Mas, curiosamente, nunca tinha tido um gato. Cresci ouvindo aquelas ideias comuns sobre gatos, de que são traiçoeiros e tal, mas era só preconceito. A verdade é que eu nunca tinha convivido com um.

Eu sempre pensei que estamos aqui para evoluir e ajudar de alguma forma. Então, busquei ações de caridade – já participei de bazares, sopões, atividades para ajudar pessoas –, mas eu queria algo em que realmente pudesse ser ativa. Em 2016, saí para andar de bicicleta com meu esposo, e um animal atravessou a rua bem na nossa frente. Achei que fosse um macaquinho, mas ao me aproximar, vi que era uma gatinha.

Paixão pelos animais | Foto: Reprodução Redes Sociais

Na época, eu já ajudava algumas ONGs e fazia doações financeiras. Já havia resgatado cachorros antes, cuidava deles e, depois, encontrava um lar para eles. Mas aquela foi minha primeira experiência com gatos. Levei a gatinha para casa, liguei para a veterinária, e ela orientou que eu pegasse uma caixinha de areia para ela. Como havia uma obra do lado, peguei um pouco de areia e coloquei para a gatinha. Para minha surpresa, mesmo tão pequena, ela foi direto na areia, fez xixi e cocô, e ainda enterrou. Fiquei impressionada, pensei: “Os gatos já vêm ensinados!”

Fiquei encantada! Meu esposo não gostou muito no início, pois já tínhamos uma cachorra e ele achava que a gatinha faria muito barulho. No dia seguinte, ela subiu nele cheia de carinho, e ele logo mudou de ideia. Disse: “Ela fica aqui até conseguir ser adotada.” Dez anos se passaram, e a gatinha ainda está conosco.

Depois disso, comecei a notar os gatos abandonados nas ruas. Lá no aeroporto, onde eu trabalhava na época, havia alguns gatos que tinham sido deixados por lá. Comecei a levar alguns para casa, cuidava deles no banheiro e os colocava para adoção. Com o tempo, o banheiro ficou pequeno demais para o número de resgates, então decidi construir um abrigo.

 Você realmente abraçou a causa, então?

Sim, foi algo que foi crescendo. Comprei um lote e, escondido do meu esposo, comecei a construir um gatil. Decidi comprar um lote para abrigar os animais. Eu fiz um consignado no meu salário, já que eu era concursada, e comecei a pagar aos poucos para construir o espaço onde poderia acolher os bichinhos. Já se passaram oito anos desde que iniciei esse projeto.

Com o tempo, fui percebendo a importância de entregar os animais castrados, vacinados e com microchip. Para isso, fiz parceria com um pet shop, que tem critérios exigentes. Nós vacinamos e realizamos microchipagem, enquanto eles expõem os animais para adoção. A cada adoção, eles também oferecem um ano de consultas grátis para os novos donos.

Gatil | Foto: Reprodução Redes Sociais

E em meio a esse trabalho com os animais, surgiu a ideia de se candidatar a um cargo parlamentar em Palmas. Como isso aconteceu?

Desde que comecei, muitas pessoas pediam ajuda, especialmente para repostar informações sobre animais necessitando de abrigo. A situação era caótica e desesperadora, com muitos bichos nas ruas precisando de atenção. Vi que os grupos de protetores e ONGs buscavam ajuda política, mas muitas vezes não recebiam o apoio necessário.

Um colega sugeriu que formássemos um coletivo para concorrer ao cargo de deputado estadual. Eu entrei, mas não como a candidata principal, pois estava receosa em relação a essa dinâmica coletiva. Eu sou muito cuidadosa com a tomada de decisões e queria ter certeza de que tudo seria feito corretamente. Por isso, optei por uma candidatura mais individual, onde eu pudesse ter um controle maior sobre as ações.

A primeira campanha foi pelo Podemos?

Na verdade, foi pelo PSB para disputar uma cadeira na Assembleia. A campanha foi bem rápida e não tivemos muitos recursos ou apoio, focamos principalmente nas redes sociais. Apesar disso, conseguimos uma ótima votação, com mais de 3.000 votos. Isso me alertou para a necessidade de uma ação mais efetiva, já que apenas resgatar um animal não é suficiente; sempre há muitos outros precisando de ajuda.

Você se surpreendeu com os mais de 2.200 votos que recebeu nesta campanha de vereador?

De certa forma, sim. Embora eu esperasse que as pessoas se identificassem com a causa, essa quantidade expressiva de votos me mostrou a urgência e a demanda que existem. É um ciclo: por cada um que conseguimos salvar, muitos outros aparecem necessitando de ajuda.

Trabalhamos muito durante a campanha. Visitamos diversos locais e conversamos com muitas pessoas. Focamos bastante nas redes sociais, especialmente no WhatsApp, alcançando aqueles que são envolvidos com a causa animal, como protetores e pessoas sensíveis aos animais. Recebemos um retorno muito positivo; sempre que entregávamos um panfleto, muitas pessoas já diziam que iriam votar em mim. Isso me deu a sensação de que a mensagem estava se espalhando pela cidade.

Vereadora eleita em Palmas | Foto: Reprodução Redes Sociais

Você sempre acreditou na sua vitória?

Eu sou uma pessoa otimista, então sempre acreditei que daria certo. Ficava pensando: “2000 votos, 2000 votos”. Quando comecei a acompanhar a apuração e vi meu nome junto com políticos conhecidos, como o Márcio Reis, fiquei em choque. Fui andar de um lado para o outro em casa, não sabia se rezava ou gritava. Meu esposo estava lavando o carro e eu sozinha lá em casa, pensando: “Meu Deus, será que isso está acontecendo mesmo?”

Estar entre os políticos mais famosos me deixou impressionada. E foi um momento de renovação; muitos políticos tradicionais não foram reeleitos.

Como foi a sua relação com outros políticos durante a campanha?

Conversei com o Eduardo, que já tinha um histórico com a causa animal. Queria me aliar a alguém que realmente se importasse, não apenas por estar na política. Ele tem sete animais em casa, um deles ele havia adotado comigo há dois anos. As filhas dele também são protetoras de animais, o que me fez acreditar que ele faria a diferença.

Éramos duas candidatas da causa animal, que estavam no mesmo partido. Ele fez questão que fizéssemos parte da equipe dele e isso me deixou muito feliz. Ele entendeu a importância de unir forças pela causa.

Como foi a sua relação com o Eduardo durante a campanha?

O Eduardo me deixou bastante à vontade para conduzir minha candidatura da maneira que eu quisesse, sem pressão. Ele não me cobrava reuniões políticas, o que é incomum na maioria das campanhas. Assim, conseguimos fazer uma política leve, diferente do padrão tradicional.

Eu percebi que mesmo onde não consegui ir pessoalmente, as redes sociais tiveram um grande alcance. Eu recebi muitos comentários positivos. As pessoas se engajaram bastante, e isso foi um incentivo.

Apoio de Eduardo Siqueira Campos | Foto: Reprodução Redes Sociais

Quais são os projetos que você pretende implantar na área da causa animal?

Eu estudei outros vereadores que trabalham com a causa animal no Brasil. Ao me candidatar, eu sabia dos problemas, mas não tinha um conhecimento profundo das soluções. Aprendi que devemos começar pela base antes de avançar. Um exemplo é a criação de leis municipais para combater maus-tratos. A lei federal não tem funcionado bem, então as leis locais com multas específicas foram muito mais eficazes.

Que tipo de legislação você pretende propor?

Pretendo trabalhar em uma lei municipal de maus-tratos que defina claramente o que são maus-tratos e estabeleça multas. Também quero implementar a educação sobre bem-estar animal nas escolas, conscientizando as crianças desde cedo. Isso é crucial, especialmente considerando casos recentes de crueldade com animais.

Você mencionou a castração em massa como uma das suas propostas. Como pretende viabilizá-la?

A castração em massa é fundamental para controlar a população de animais abandonados. Pretendo buscar emendas com deputados e trabalhar em parceria com a prefeitura para facilitar esse processo. Já sabemos que o CCZ tem limitações, então planejo fazer parcerias com clínicas veterinárias para aumentar a capacidade de atendimento.

Como isso será realizado na prática?

Quero criar um sistema de transporte que leve os animais até as clínicas para castração e depois os devolva. Assim, conseguimos atingir áreas onde as pessoas têm dificuldade de acesso ao CCZ. Essa abordagem facilita a participação da população e ajuda a controlar o número de abandonos.

Há outros projetos em andamento que você gostaria de destacar?

Sim, existe um projeto de um castramóvel, que está em andamento, mas parece que enfrentou algumas dificuldades. Não sei exatamente o que está impedindo, se é falta de recursos ou articulação política, mas é um projeto que pode fazer uma grande diferença na cidade.

Então você está buscando alternativas para garantir que essas iniciativas aconteçam?

Minha intenção é trabalhar em conjunto com as clínicas, a prefeitura e outros órgãos para implementar essas soluções. E, claro, manter a população informada e engajada na causa animal.

A população já ajudou muito ao me eleger com uma votação expressiva, dando voz aos animais. Isso mostrou que a causa animal é importante e precisa de políticas públicas. Para continuar esse trabalho, é essencial que a sociedade se mantenha unida e atenta, participando nas reuniões da Câmara e apoiando a aprovação de projetos.

Cuidados com os animais | Foto: Reprodução Redes Sociais

Além das iniciativas relacionadas à proteção animal, o que mais você planeja implementar em seu mandato?

É importante lembrar que, embora eu tenha sido eleita, não posso resolver todos os problemas sozinha. A população precisa fazer sua parte, cuidando dos animais e não deixando tudo nas mãos do poder público. O governo deve agir, mas a comunidade também precisa se unir e ajudar. Cada um pode contribuir à sua maneira.

A conscientização é uma parte fundamental desse processo. Muitas pessoas ainda não entendem a importância de cuidar dos animais e de agir em conjunto. Precisamos educar a sociedade sobre como podemos todos contribuir para melhorar a vida dos animais, desde ações simples até a participação em campanhas de proteção e adoção.

Existe algo mais que você gostaria de destacar sobre seus planos para o mandato?

Quero que as pessoas entendam que a causa animal é um trabalho contínuo e coletivo. Estou comprometida em trabalhar em legislações que beneficiem os animais e buscarei sempre ouvir a comunidade. Juntos, podemos fazer a diferença e garantir que os direitos dos animais sejam respeitados.

Eu quero explorar todas as possibilidades na Câmara. Não se trata apenas de apresentar projetos de lei; também existem requerimentos que são solicitações à prefeitura. Pretendo percorrer todos os bairros, ouvir a população e entender os principais problemas para buscar soluções em diversas áreas, além da proteção animal.

O Eduardo é o prefeito da causa animal, o que é fundamental para mim. Ter um aliado comprometido na prefeitura é uma grande oportunidade para transformar a causa.

Com a composição da Câmara, você acredita que a oposição será um impedimento para a pauta de vocês?

Acredito que não. As pessoas perceberam que a causa animal é importante e que, se a oposição for muito contra, isso pode prejudicá-los com a população. Muitos candidatos já propuseram ações em favor dos animais, o que mostra que a causa está em alta. Além disso, já estou recebendo contatos de deputados eleitos que querem colaborar em projetos.

Acredito que a Câmara pode atuar de forma colaborativa, mesmo com a oposição. Muitas pessoas estão cientes da importância da causa animal, e espero que os opositores não queiram se queimar com a população.

O que os eleitores podem esperar de você nos próximos quatro anos?

Estou trabalhando com uma equipe maravilhosa e técnica, composta por pessoas que me apoiaram na campanha. Vamos manter um contato próximo com a população, ouvindo suas demandas e utilizando as redes sociais para interagir. Queremos um trabalho inovador que traga resultados concretos.

Tive uma campanha leve, sem promessas a ninguém. Estou montando uma equipe de assessores técnicos, mas também mantendo a autonomia. Temos algumas áreas mais técnicas em que estamos avaliando as melhores opções.

Você mencionou que tem uma responsabilidade grande em rhelação aos animais. Como é essa rotina?

É um desafio enorme. Tenho sete gatos, um cachorro e cuido de muitos outros. A responsabilidade é pesada, e se os voluntários não puderem ajudar, eu preciso ir lá. Já passei por situações difíceis, mas sempre priorizo o cuidado com os animais. É um trabalho muito exigente e, muitas vezes, solitário.

É difícil, e sinto um peso por não conseguir ajudar todos os animais que precisam. Recebo muitas mensagens com pedidos de ajuda, e às vezes me sinto sobrecarregada. Tento explicar que não posso acolher todos, mas faço o que posso para amenizar essa situação. É um desafio constante.

Como você vai conciliar seu trabalho na Câmara com as aulas e o cuidado com os gatinhos?

Irei analisar se conseguirei conciliar as atividades docentes com a parlamentar. O gatil continuará funcionando; não posso simplesmente fechá-lo, e não quero. Há cerca de 30 gatos lá, e alguns não são adotáveis, como os que têm problemas de saúde ou que são mais ariscos.

Você pretende continuar como protetora de animais de forma responsável?

Sim, quero conciliar meu trabalho como vereadora com o cuidado dos animais, mas sem aumentar a quantidade de gatos no abrigo. Meu foco será em ações mais amplas na Câmara. Estamos organizando para reunir voluntários e captar mais recursos. A equipe responsável está montando uma comunicação para facilitar a entrada de novos voluntários.

Quero agradecer a todos pelo apoio e pela confiança. A causa animal é uma responsabilidade coletiva, e precisamos da união da população para fazer a diferença. Cada um pode ajudar de alguma forma, seja adotando, doando ou se voluntariando. Vamos juntos transformar a realidade dos nossos animais e garantir que tenham uma vida digna e saudável. Estou aqui para ouvir e trabalhar por vocês. Obrigada!