O Padre Aderso, o icônico Padre da Galera, de Palmas, Tocantins, está novamente no centro de uma polêmica envolvendo sua postura despojada fora da Igreja e a vigilância permanente da Arquidiocese de Palmas, que acompanha suas aparições nas redes sociais com a preocupação de preservar a imagem da igreja. Desta vez a Arquidiocese de Palmas resolveu aplicar uma punição em forma de benefício. Aderso foi afastado do comando da Paróquia São Francisco de Assis, no Jardim Aureny II e estará em 2024 de ano sabático, licença obrigatória para acompanhamento psicológico e tratamento de saúde.

Aderso lamenta o que considera mais um equívoco. Mas decidiu aceitar a punição sem contestar. Explica, porém, que o vídeo que provocou a punição, em que aparece dançado e supostamente fazendo um strip-tease, nada tem de escandaloso, como foi apresentado nas redes sociais. Aderso conta que participava de um aniversário de família, em um flutuante no Lago de Palmas, quando em determinado momento resolveu mergulhar e foi filmado tirando a bermuda para entrar na água. O padre aproveita o episódio para reafirmar sua forma de ser que tem muito de espontaneidade, coerente com sua linha de atuação, evangelizar com alegria.

“Eu não sei cantar. Mas nunca tive inveja de um padre Fábio de Melo, de um padre Alessandro Campos, de um padre Antônio Maria e dos outros padres aqui mais próximos de nós por não saber cantar, mas Deus me deu um dom muito especial que é a alegria, que é conquistar as pessoas pela nossa presença. Para mim é natural estar em uma festa, estar na missa. O que acontece com o padre Aderso é algo natural, não é forçado. Infelizmente, os seres humanos precisam descobrir, sobretudo alguns padres, que eu não quero roubar a cena nem ocupar o lugar de ninguém”, ressalta, decepcionado com a punição.

Aderso tem um profundo apego pela sua missão religiosa. Tem uma forte atuação social em sua comunidade, e se faz presente em momentos tristes e difíceis, em casos de doença e morte, mas também em momentos de alegria. “Eu experimento a graça de ser padre. Não por causa de bispo, de papa, ou de qualquer pessoa. Eu experimento porque é a graça espiritual. É a presença do Espírito Santo que vem através da Eucaristia, das orações católicas, que me faz ter respeito e comunhão com as religiões, seja lá qual for. Mas o que me alimenta, o que me sustenta é a doutrina católica. É a Eucaristia, sobretudo. Eu tenho certeza que o acolhimento é fundamental”, aponta.

Em entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, Padre Aderso Alves dos Santos, 45 anos, abre o coração e conta um pouco da sua trajetória de garoto do interior de Goiás, que um dia sonhou em ser padre e teve que ter muita persistência para conseguir realizar o sonho. Fala sobre o assédio dos partidos para ser candidato, comenta sobre a tentativa da Igreja em enquadrá-lo e da sua luta para manter o espírito livre, guiado pela sua fé e o compromisso de ajudar. “Nunca desrespeitei uma criança ou um jovem. Nunca deixei de rezar uma missa por causa de festa. Mas a nossa presença é ensinar aos jovens que é possível brincar se divertir sem deixar de ser de Deus. Sem deixar de ter dignidade”, defende.

Eu comecei com os padres missionários redentoristas, de Trindade, onde ingressei para ser padre

Ruy Bucar – Padre Aderso, o sr. é goiano, mas toda a sua história de padre, sua trajetória religiosa está no Tocantins, onde o sr. foi ordenado, e onde conquistou muitos admiradores. Como foi essa história?

De Jaupaci para o Brasil e o mundo (risos). Eu nasci na cidade de Iporá, Goiás, só que eu só nasci. A minha cidade é Jaupaci, que é muito pequena, tem três mil habitantes apenas. Então, meus pais, seu José e Dona Alzira, como último filho, minha mãe tinha que operar, e eu nasci em Iporá, no dia 15 de dezembro de 1978. Fiquei até aos 18 anos morando em Jaupaci, lá no Mutum, na fazenda, de propriedade dos meus avós, hoje dos meus pais, onde eu estudei até a 4ª série na roça. Depois da 5ª série até o 3º ano [do ensino médio] eu estudei lá em Jaupaci. Depois fui para Goiânia. Durante 10 anos eu morei em Goiânia, onde cursei Filosofia, Teologia e dois anos de Psicologia. E nesse intervalo de dez anos, em 2001, eu fiz estágio pastoral na cidade de Faina [Norte de Goiás], então esse foi o nosso período acadêmico.

O período religioso, eu comecei com os missionários redentoristas, através de Trindade, [Santuário do Divino Pai Eterno] onde ingressei para ser padre. Depois, por seis anos, estive em Rubiataba, com o [bispo] Dom José Carlos, foi quando conheci muita gente que veio para Palmas, e depois de seis anos, terminei o nosso estudo. Sendo que depois de 11 anos e seis meses, fui ordenado padre aqui em Novo Acordo, no Tocantins. Morei seis meses em Novo Acordo, dois anos em Rio Sono, onde fui ordenado diácono. Ainda tive a oportunidade de ser professor tanto em Novo Acordo como em Rio Sono.

Fui o primeiro padre da paróquia Bom Jesus da Serra, em Taquaruçu Grande, zona rural de Palmas

Ruy Bucar – Com a sua presença a Paróquia Bom Jesus da Serra, de Taquaruçu Grande, deu um salto, conforme defendem os moradores da região. A Paróquia projetou o seu trabalho para todo o Estado. Como o sr. avalia essa experiência?

As pessoas dizem assim, padre de Taquaruçu Grande, aliás, Palmas ainda diz o padre de Taquaruçu Grande, sendo que hoje é o meu amigo e irmão Padre Alexandre [Peixoto] quem é pároco de lá, também goiano. Mas, eu diria que Taquaruçu Grande ganhou muito, talvez com a nossa presença. Se tornou conhecido com a nossa presença, diante dos grandes eventos que fizemos lá durante seis anos. Lembro que durante um festejo religioso, nós tivemos 22 shows na programação de 10 dias de festa. Então, Taquaruçu Grande também me projetou. Eu acredito assim, foi uma via mão dupla. Muitas pessoas falam assim, “mas Padre, Taquaruçu Grande é zona rura!”, não interessa, porque hoje o Brasil me conhece a partir de Taquaruçu Grande. Então, o meu primeiro dia de padre foi em Taquaruçu Grande. Então, eu ordenei padre em 14 de julho de 2008, tirei um tempo de férias com a minha família, celebrei a minha primeira missa lá em Goiás, e no dia 29 de julho de 2008, eu chegava como padre em Taquaruçu Grande. Ainda não era paróquia. No dia 17 de agosto, do mesmo ano, [o arcebispo] Dom Alberto Taveira celebrou a missa elevando a capela de Taquaruçu Grande à condição de paróquia e eu já morava ali há 18, 19 dias. Eu fui o primeiro padre da paróquia Bom Jesus da Serra, e Bom Jesus da Serra a minha primeira paróquia.

Jesus é o centro da nossa fé cristã. Ele nunca desprezou um ser humano, mas nunca concordou com o erro

O sr. é adepto de uma linha de atuação religiosa que se denomina de evangelização com alegria, que valoriza a música, a diversidade cultural, e sobretudo, a identificação com os jovens. O sr. inclusive se autodenomina de padre da galera. Mas nem todos aprovam essa forma de evangelizar. Como o sr. avalia os questionamentos à sua forma de atuar na Igreja?

Eu avalio o seguinte: se o padre que é padre, é natural que esteja na galera, que esteja dançando, no flutuante, na boate, em qualquer espaço de festa de família ou mesmo social. “Porque eu também, que sou jovem, jovem da balada, não posso estar rezando como padre?” Eu acredito que, assim: quando o padre vai até aos jovens, até à sociedade, não deixa de ser padre. Isso é importante ressaltar. Muitos confundem. Não, eu não faço nada de errado. Por mais que alguns não concordem, eu respeito. Mas eu não deixo de ser padre por estar dançando. Então, hoje, graças a Deus, são 15 anos de padre. Nunca desrespeitei uma criança ou um jovem. Nunca deixei de rezar uma missa por causa de festa. Mas a nossa presença é ensinar aos jovens que é possível brincar, se divertir, sem deixar de ser de Deus. Na paz, sem deixar de ter dignidade.

É a presença do Espírito Santo que vem através da Eucaristia, que me faz ter comunhão com as religiões, seja lá qual for

Eu defino o meu perfil em duas palavras. Alegria e acolhimento. Eu acredito que hoje a Igreja precisa acolher as pessoas sem concordar com o erro dos outros. Jesus é o centro da nossa fé cristã. Ele nunca desprezou um ser humano, mas ele nunca concordou com erro. Então, essa é a minha linha, eu diria, de nossa teologia, de carisma. Além de ser padre da Igreja Católica, não abro mão dessa comunhão, porque eu tenho a formação. Eu experimento a graça de ser padre. Não por causa de bispo, de papa, ou de outro ser humano. Eu experimento porque é uma graça espiritual. É a presença do Espírito Santo que vem através da Eucaristia, das orações católicas, que me faz ter respeito e comunhão com as religiões, seja lá qual for. Mas o que me alimenta, o que me sustenta é a doutrina católica. É a Eucaristia, sobretudo. Então, eu acredito que o acolhimento é fundamental.

Uma vez ao ano, nossa casa é aberta. E todos que me conhecem sabem disso. “Padre, eu quero receber o sr. no meu aniversário. Padre, eu quero a sua presença no encontro de família. Padre, eu quero o sr. na minha festa…” no final da semana, estou lá à disposição, de quem quer que seja. É só agendar. Mas, uma vez ao ano, nós abrimos a nossa casa, para acolher todos os tocantinenses, pra almoçar conosco. Foi o que aconteceu no último dia 17, quando mais de três mil pessoas passaram por lá [Instituto Quem Diria]. Ninguém pagou alguma comida, ninguém pagou a entrada e foi um grande momento de confraternização e manifestação de solidariedade. Ainda arrecadamos 208 cestas básicas para doar a quem mais precisa e mais de R$ 24 mil em leilões que serão investidos no projeto social.

Deus me deu um dom muito especial que é a alegria, que é conquistar as pessoas com a nossa presença

Ruy Bucar – O sr. tem outra característica bem acentuada, participação muito ativa na vida da cidade, sobretudo nas festas religiosas. O que gera ciúmes, por parte de outros padres. Como o sr. avalia a punição anunciada pela Arquidiocese de Palmas?

Eu fiquei surpreso diante dessa situação. E lamento muito porque somos bilhões de seres humanos. Ninguém tem a digital igual a do outro. Então, assim, cada um tem as suas características, o seu perfil, eu diria, a sua identidade. Eu, por exemplo, tenho uma coisa que não vivo sem. Que é a música. Eu não sei cantar. Nunca quis ser um padre Fábio de Melo, um padre Alessandro Campos, um padre Antônio Maria e outros padres aqui mais próximos de nós, não sei cantar, mas Deus me deu um dom muito especial que é a alegria, que é conquistar as pessoas pela nossa presença. Para mim é natural estar aqui com você, estar em uma festa, estar na missa. O que acontece com o padre Aderso é algo natural, não é forçado. Por mais que muitos pensem que é forçado, não é. Infelizmente, os seres humanos precisam descobrir, sobretudo alguns padres, que eu não quero roubar a cena, nem ocupar o lugar de ninguém. Eu apenas nunca vou deixar de ser eu, nunca vou deixar de ser o homem Aderso e hoje o homem Aderso padre. Porque se eu deixo de ser o homem Aderso para agradar como padre algumas pessoas, eu vou me perder pelo caminho e depois eu vou deixar de ser o ser humano, de ser o cara lá de Jaupaci, o menino do seu Zé Alvino e da dona Alzira e não vou me encontrar como padre. Naturalmente, vou entrar em depressão e ninguém vai querer o padre frustrado, o padre que não é homem, que não é ser humano.

Não deixo de ser padre, não deixo a comunhão da Igreja e não deixo Palmas

Ruy Bucar – Padre Aderso, em 2013 a famosa campanha Fica Padre Aderso extrapolou o Tocantins e fez a Igreja tomar uma decisão inédita, recuar na sua transferência de paróquia, mas ao final aplicou uma punição mais severa que a censura do Vaticano ao Frei Leonardo Boff, quando desautorizou a Teologia da Libertação. O senhor se sentiu também um pouco perseguido nessa linha dos padres que se diferenciam em busca de um maior contato com o povo?

Nos deixou muito triste esta atitude da igreja. Mesmo com todo o nosso testemunho, trabalho religioso e social, no final de 2023 se repetiu a cena de 2013. De uma forma agora talvez mais adulta da minha parte de encarar. A gente espera resolver tudo de forma mais pacífica. Agora já resolvido, venho a público dizer isso: a partir de um vídeo que desvirtuou o que eu estava fazendo, que na verdade recortou a minha imagem, não mostra onde eu estava nem como eu estava. Mostra apenas eu sem camisa, tirando a bermuda de cima e ficando com a bermuda de baixo, para entrar na água com um grupo de amigos e a família que celebrava o aniversário de uma pessoa amiga de 55 anos. Então, alguém recortou e caracterizou como se eu estivesse fazendo strip-tease em uma cadeira embriagado em uma boate. Sendo que já tem 17 anos que não bebo nada de bebida alcóolica, o que faço, faço de forma transparente, consciente e sem enganar ninguém, pois somos padre 24 horas por dia. Isso [episódio] tomou uma dimensão nacional, entrei em sites nacionais que já chegaram a milhões de acessos e compartilhamentos, a qual agora eu busquei o caminho da interpelação judicial. E a instituição, em vez de me defender, me puniu severamente.

Como eu hoje estou muito resolvido, muito decidido em defender minha vida de padre, eu não deixo de ser padre, essa frase é muito forte, eu não deixo de ser padre, não deixo a comunhão da Igreja e não deixo Palmas. “Então, o bispo é obrigado a te tolerar?” Não. Ele pode me suspender da batina, de ordem, a qualquer momento. Ele é o nosso superior de Palmas, como arcebispo, é naturalmente o superior de todos os padres da Arquidiocese. Mas eu não vou deixar minha vida de padre, porque o bispo me aprovou, ou me reprovou, porque quem me ordenou padre foi o Espírito Santo, há 15 anos atrás. O Dom Alberto me ordenou padre, ele foi instrumento de Deus, mas quem me sagrou padre foi Espirito Santo. Dom Alberto foi para o Pará, eu fui atrás dele? Não fui. Eu fiquei aqui porque eu sou padre da Arquidiocese de Palmas. Eu fui ordenado padre para essa Arquidiocese. O Dom Pedro chegou tem 13 anos, daqui a cinco anos ele vai embora. Vai vir outro bispo, então, ele hoje é o bispo, que eu devo obediência e comunhão, mas eu jamais vou deixar de ser eu, deixar de ser gente, porque o bispo e alguns padres dizem que você tem que ser esse manequim, esse fantoche que eu jamais vou aceitar. Ele pode se suspender de ordem? Pode, se ele achar que dançar não é de Deus, ele pode fazer essa análise, agora isso é ele, eu sei o que estou fazendo. A única coisa que ele pode fazer é me suspender de ordem pelo tempo necessário, se for o caso. Eu esperei foi 12 anos para ser padre. Eu espero muito bem o prazo que for preciso, se vier acontecer, para rezar a próxima missa. Mas já foi resolvido. Ele não me comunicou, mas já publicou na mídia da Arquidiocese que estou de ano sabático em 2024.

Todos nós precisamos de conversão, de mudança, de tratamento, sobretudo de terapia, mas não sair de Palmas e ficar internado em algum lugar

O que é ano sabático, Padre? É um ano de licença, como se fosse uma licença-prêmio. Juridicamente, se olhar lá no ano sabático, o padre está de licença, depois de 15 anos, o padre tem esse direito. Então ele tira o ano sabático, assim, toda a despesa por conta da Igreja, o salário normal, plano de aposentadoria e salário. E o padre vai ficar livre para descansar ou celebrar onde ele quiser, ou for convidado. A Arquidiocese de Palmas, então, publicou esse ano sabático sem a minha resposta e ainda tentando me convencer de fazer um ano de tratamento, emocional e psicológico, fora de Palmas. Todos nós precisamos de conversão, de mudança, de tratamento, sobretudo de terapia, mas não a esse ponto de sair de Palmas e ficar internado em algum lugar. Eu não aceitei e não aceito. Eu vou fazer [tratamento] ADI, que é uma coisa que eu prezo para a minha saúde, qualidade de vida e qualidade de atendimento das outras pessoas, mas morando no [Instituto] Quem Diria, em Palmas. Então, assim, agora ele aceitou, me deu esse documento, dizendo que aceitou eu viver um ano sabático, quer dizer, um ano sem paróquia, um ano sem igreja, celebrando onde os padres me convidarem oficialmente e me obrigou, de certa forma, a fazer um tratamento científico fora de Palmas.

Pastores evangélicos me ligaram e fizeram vigília, jejum, para essa situação, para que terminasse em paz

Alvaro Valim – Bom, eu gostaria de saber e o que o sr. vai fazer nesse ano sabático? Qual que é a sua programação? O sr. vai pra praia? Vai cair no forró, vai pra missa? Vai conversar com as pessoas? O que que o sr. vai fazer?

Mesmo que ele tivesse me suspendido de ordem, tirado a batina de mim por um tempo sequer, eu não deixaria de ser padre e não deixaria de morar em Palmas, não deixaria de cuidar das pessoas como padre. Eu não exerceria a função de padre como rezar missa, batizado e confissão, mas eu jamais vou me afastar da Eucaristia, eu iria na missa como leigo. Eu vou seguir minha vida de consagrado, de ordenado até o dia em que Deus me chamar deste mundo.

Respondendo à pergunta, eu fui para os meus pais, onde pude refrescar a cabeça, descansei, porque só Deus sabe o que eu passei nos últimos 30 dias. Eu optei por estar em oração e ao mesmo tempo preparando o maior evento do ano que nós programamos, que foi o aniversário do instituto Quem Diria e a comemoração do meu aniversário. Foi justamente uma coisa junto com a outra. O aniversário foi um sucesso, quer dizer, as pessoas, pelo menos as que estiveram confraternizando conosco não demonstram nenhum tipo rejeição, como alguns estavam pesando que o povo estava renegando o padre, que fez aquilo no flutuante. Alguns reprovam, eu respeito, mas eu tenho certeza que pelo menos a maioria de Palmas, que me conhece, inclusive pastores evangélicos me ligaram, fizeram vigília, jejum, para essa situação, para que terminasse em paz, como graças a Deus terminou. Permitindo assim que continue residindo em Palmas, morando como eu já moro no Instituto Quem Diria, oportunidade que vou ter para me dedicar ao instituto, quer dizer, tudo o que eu queria porque estava muito sobrecarregado, ser pároco e cuidar do projeto social que está crescendo muito. Então agora, este ano, para quem pensava que o padre Aderso iria ficar quieto, pelo contrário, nós vamos dar vida ao Instituto. A partir de agora, todas as doações, os eventos, meu tempo e minhas atividades, vão ser todas para o Instituto Quem Diria.

O instituto, Quem Diria, é uma instituição filantrópica e não tem nada a ver com religião, seu foco principal é a casa universitária

Alvaro Valim – Explica para a gente o que esse instituto, o que faz e como é que ele trabalha?

O Instituto Quem Diria é uma instituição filantrópica e não tem nada a ver com religião criada há oito anos por nós e hoje o foco principal do instituto é uma casa universitária com sede própria, já com investimento de mais de R$ 800 mil e o projeto é contar com 28 suítes que estão em construção. Nós já temos quatro suítes prontas e tudo funciona na casa, refeitório escritório, área de convivência; já dispomos de 16 banheiros prontos, enfim, resultado desses mais R$ 800 mil de investimento e é um instituto que não tem nada a ver com religião, com a igreja e que pode receber dinheiro público tanto federal, estadual e municipal. Estamos reconhecidos pelo governo federal pelo governo estadual e municipal, estamos 100% redondo e as instituições, empresas privadas que queiram abater o imposto de renda do ano para a gente, então assim o instituto, Quem Diria, acolhe o jovem estudante universitário em situação de vulnerabilidade, que vem do interior, sem família, sem condições financeiras. No instituto nós oferecemos moradia, alimentação e estudo, então assim, nós já temos seis jovens formados, temos gente que já fez mestrado em educação, tem jovem que morou com a gente nove anos e seis meses, que hoje é engenheiro agrônomo; tem um jovem que é engenheiro de minas, enfim, nós temos seis jovens formados e agora vamos em 2024 acolher uns três jovens novamente e remunerando essa ideia com o apoio dos empresários que queiram nos apoiar e com o poder público que queira investir na educação através do Instituto Quem Diria.

Visitar site

Ser padre me realiza, me completa, é tudo para mim, então eu tenho não é medo, mas eu tenho esse cuidado

Ruy Bucar – Padre, com a popularidade em alta, o sr. tem sido assediado por partidos políticos que o querem como candidato a deputado, a vereador, já foi convidado também para ser candidato a prefeito?

Já. Já sim. Por três grupos de Palmas. Eu tenho uma frase que me ajuda muito. Eu observo a vida dos outros para cuidar da minha. Eu tenho três amigos, irmãos padres, tem um, inclusive, que temos sangue em comum. Eles foram bons padres e que se tornaram prefeitos e nenhum deles voltou a ser padre. Um voltou a ser padre, mas acaba de abrir mão novamente depois de um ano de ministério e pediu licença, não sabemos o motivo ainda, mas é coisa pessoal, mas eu digo assim: não quero isso para mim, porque ser padre me realiza, me completa, é tudo para mim.

Tenho esse cuidado de dizer, eu não vou ser prefeito, porque depois de prefeito posso frustrar quem confiou em mim

Eu tenho não é medo, mas tenho esse cuidado, tenho esse cuidado de dizer, eu não vou ser prefeito, porque depois de prefeito posso frustrar quem confiou em mim. Tenho medo de não conseguir fazer o que às vezes, de repente a sociedade espera e eu vou depois colocar em segundo lugar o ser padre e isso não vai dar certo. E é muito pouco tempo, quatro anos, oito anos. Eu não vou ser prefeito para sempre e padre é para a vida toda. Então assim eu não aceito, eu acredito que religião e política não combinam. Estou envergonhado com o cenário da político do Brasil, decepcionado e muito preocupado com Palmas, com os pré-candidatos, que às vezes a maioria deles não tem um projeto para cidade, tem para conquistar o poder, isso me preocupa e me deixe envergonhado de ser palmense. Acabei de receber o título de cidadão palmense já tinha o título de Cidadão Tocantinense e agora de Palmas porque eu entendo que política é promover o bem comum, infelizmente os grupos políticos estão pensando em si mesmos, pensando nos seus interesses e esquecendo da sociedade, do bem comum. Palmas, infelizmente, não foge a esta realidade. Isso nos preocupa muito, mas para a minha pessoa, é só ser padre e como padre e ser humano pagador de impostos, cobrar dos políticos uma boa gestão e fazer a minha parte.