Pe. Eduardo Zanom: “Enquanto celebrarmos a Páscoa é sinal de que a nossa humanidade tem jeito”

20 abril 2025 às 08h00

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Padre Eduardo Zanom, sacerdote há 15 anos e pároco da Catedral Divino Espírito Santo, em Palmas, é um defensor da evangelização infantil, com grande carisma para transmitir a fé às crianças de forma lúdica. Em sua trajetória, criou o projeto “Turma do Padre Dudu”, que, ao longo dos anos, se consolidou como uma importante ferramenta de educação religiosa, com músicas, livros e agora um programa diário na TV Evangelizar.
Nesta entrevista ao Jornal Opção, Pe. Eduardo reflete sobre o significado da Páscoa para os cristãos, explicando como a ressurreição de Cristo traz uma mensagem de esperança e renovação. Ele fala também sobre a importância dos rituais da Semana Santa e de como a celebração pode transformar a vida dos fiéis, especialmente das crianças, que encontram na fé cristã um guia para a vida cotidiana. Ao longo da conversa, o padre também compartilha sua visão sobre o papel das famílias na educação religiosa e a relevância de ensinar valores cristãos de forma concreta e prática.
Hoje é domingo de Páscoa. Qual é a principal mensagem que esse dia traz?
A Páscoa significa para nós a vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. A principal mensagem é que Cristo nos preparou para a vida eterna. Ele nos abre as portas do paraíso. Portanto, o cristão passa por esse mundo, hoje, renovando a esperança de que, em Cristo, seremos sempre vencedores e alcançaremos a salvação. A morte, do ponto de vista teológico, é o compêndio de todos os males. Então, Cristo ao vencer a morte nos ensina que, unidos a Ele, seremos capazes de vencer todos os males. Essa é a nossa esperança.
A ressurreição de Cristo é o ponto alto da fé cristã. Como esse acontecimento pode transformar a vida das pessoas hoje, em pleno 2025? Afinal, é algo que aconteceu há mais de 2 mil anos.
É importante dizer que, para nós cristãos, não estamos apenas relembrando a Páscoa, mas celebrando a Páscoa. Isso significa que aquele mistério de mais de 2 mil anos atrás se faz atual hoje. Eu não estou apenas lembrando da ressurreição de Cristo, mas estou celebrando agora, pelo mistério da fé, a ressurreição do Senhor. O mistério acontece hoje e, ao participar dele, sou convidado a renovar minha vida, minha fé e minha esperança em todas as promessas de Deus.
E quais promessas de Deus o senhor destacaria para reforçar essa mensagem?
A principal promessa do Senhor é: “Eu estarei convosco todos os dias até o fim do mundo.” Essa é a essência. Deus não está morto. Ele está vivo, quer caminhar conosco e ter espaço e presença na nossa vida.
Durante a Semana Santa, muitos fiéis participam das procissões, vigílias, jejum e da cerimônia do lava-pés. Qual o valor desses rituais na preparação para a Páscoa?
A Semana Santa celebra a entrada de Jesus em Jerusalém. Ele chega para doar a sua vida. Todas as procissões, todo o esforço que fazemos, é para adentrar nesse mistério da paixão do Senhor. Ele doa a sua vida por nós. A Semana Santa não é tempo de chorar por Jesus, mas de chorar pelos nossos pecados, porque tudo o que Ele fez, fez consciente, doando-se. Os rituais e as formas de espiritualidade da Semana Santa nos fazem recordar esse mistério da entrega de Cristo. Uma das celebrações mais significativas é a procissão do Encontro, em que os fiéis representam, em oração, o encontro de Maria com Jesus no caminho do calvário.
Hoje em dia, há muitas pessoas cristãs que não conseguem sentir a Páscoa, ou não percebem a presença de Deus em suas vidas. Como alguém pode se reconectar com a fé nesse período? Ainda é tempo?
Sempre é tempo. O mais importante é entender que a fé não depende do que sentimos. A fé é uma verdade que eu acolho ou não. O mundo hoje confunde muito fé com emoções e sensações. Mas a fé é muito mais profunda. Ela é um convite a acreditar na verdade de Deus e se lançar nela. A primeira coisa que precisa ficar clara é que celebrar a Páscoa não é sobre sentir algo, mas sobre vivenciar e acolher esse mistério. E, a partir disso, trazer essa realidade para a nossa vida. Quando a fé deixa de ser fria? Não é quando começo a sentir, mas quando passo a agir de acordo com essa verdade que ilumina a minha vida. Não é sobre sentir — é sobre acreditar e viver.
Tem muita gente que, às vezes, na igreja, pode se emocionar em algum momento. Isso significa que a vida da pessoa foi transformada?
Nem sempre. Porque a fé não depende do sentir. Tem pessoas que se emocionam no momento da missa, uma procissão ou numa oração, mas não mudam nada em sua vida. A verdadeira fé se concretiza na prática. Muito mais do que sentir algo, é agir em conformidade, em comunhão com aquilo que eu acredito. E isso é o que vai transformar. É não olhar para trás. Jesus não procurou se vingar de ninguém, Ele seguiu sua missão. O Senhor nos ensina a perdoar aqueles que não sabem o que fazem. E, quantas vezes, as pessoas falam de nós e não conhecem a nossa história, a nossa vida. Os mistérios do Cristo são plausíveis na nossa realidade. Se eu acredito nisso, basta configurar a minha vida com essa verdade.
O senhor também tem se dedicado muito à evangelização infantil. Por que é importante falar de Páscoa também com as crianças?
Eu sempre digo que a excelência só é alcançada pela prática. Se a gente não ensinar a criança desde cedo a praticar a fé, ela corre o risco de chegar à maturidade sem referência, sem norte, sem direção, sem espelho. Semear a fé no coração dos pequenos é um dever de quem vive a fé não só como ideia, mas como valor a ser partilhado. Celebrar a Páscoa com as crianças é importante para formar, desde cedo, uma base sólida para a vida cristã.
Como essa fé pode ser vivida de maneira concreta nas famílias hoje, diante de tantos desafios, como o uso excessivo de telas e as redes sociais?
É preciso ter clareza de que a vida espiritual é real, não virtual. Educar alguém na fé e viver a fé em família é exigente. Não adianta dar uma informação e achar que está tudo certo. Educar é transmitir um valor, é agir para que nossas atitudes estejam em sintonia com aquilo que acreditamos. Eu costumo lembrar da paciência de Jesus com os discípulos. Ele dizia que subiria a Jerusalém para doar a vida, e no caminho eles discutiam quem era o mais importante. Ele voltava, corrigia, insistia. Assim também é a vida em família. Exige paciência, diálogo, testemunho. As famílias devem viver a Páscoa e a fé a partir dos ensinamentos e valores de Jesus, contextualizando isso na realidade de hoje.
E o senhor poderia contar um pouco sobre o projeto Turma do Parque Dudu? Como ele nasceu e se desenvolveu?
A Turma do Parque Dudu nasceu na pandemia. Quando tudo parou, Deus colocou no meu coração que era hora de investir na evangelização infantil. No início, relutei, porque já tinha muitas atividades — construção da catedral, trabalhos na diocese — e pensei: “Não tenho tempo para começar algo do zero.” Mas o Senhor foi tirando minha paz, e eu fui perdendo o sono. Até que me rendi e disse: “Senhor, tudo bem, mas o Senhor precisa me dar o norte.” Porque a gente não tinha referência. Nem na Igreja e nem fora dela, em termos de produção cultural infantil com espiritualidade, é muito pouco no Brasil.
O grande desafio foi criar um dinamismo que funcionasse com as crianças de hoje, porque aquilo que funcionava na minha infância, não funciona mais. Hoje as crianças estão jogando videogame com violência, com sangue, então não adianta apresentar uma fé toda purinha, sem linguagem acessível a elas. A Turma do Parque Dudu veio disso: cada personagem com um perfil psicológico diferente, que se complementa. Crianças até 3 anos se identificam com o cachorrinho, as maiores com o menininho ou a menininha. Um projeto só dá certo quando a criança se enxerga naquilo. E nisso, graças a Deus, a gente tem acertado.
Ao longo desses cinco anos — vamos completar agora em outubro — já produzimos mais de 30 músicas autorais e diversos conteúdos infantis. E seguimos nesse trabalho, acreditando que evangelizar as crianças hoje é garantir cristãos fortalecidos amanhã.