Advogado é apontado como mensageiro que alertou governador Wanderlei sobre ação da PF na segunda fase da Fames-19

Na manhã desta quarta-feira, 12, a Polícia Federal cumpriu 24 mandados de busca e apreensão em Palmas e Santa Tereza do Tocantins, como parte da Operação Nêmesis, nova fase das investigações sobre supostas tentativas de obstrução da Operação Fames-19, que apura desvios de recursos públicos durante a pandemia de Covid-19. Segundo decisão do ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), o advogado Thomas Jefferson Gonçalves Teixeira, ex-secretário de Parcerias e Investimentos do Tocantins, aparece como peça-chave no suposto vazamento que teria alertado o governador Wanderlei Barbosa sobre o cumprimento dos mandados da Fames-19, em setembro de 2025. Naquela fase da operação o gestor acabou afastado.

Segundo o documento, Thomas Jefferson, que é sócio de Rerison Antônio Castro Leite, filho do governador, teria visitado a residência de Wanderlei e da primeira-dama Karynne Sotero Campos em Palmas na noite de 2 de setembro, às 23h07, poucas horas antes do cumprimento das ordens judiciais. Câmeras de segurança registraram o advogado chegando ao local e permanecendo por cerca de sete minutos, tempo considerado suficiente para “transmitir uma mensagem presencial”, conforme a PF.

Logo após a saída do advogado, as imagens mostram Wanderlei, Karynne e a filha de saída do imóvel às pressas. Pouco tempo depois, o celular do governador foi rastreado a caminho da Fazenda Santa Helena, onde ele acabou sendo localizado pelos agentes federais.

A PF sustenta que Thomas Jefferson também teria ido, na mesma madrugada, até o condomínio onde mora Leo Barbosa (Republicanos), outro filho do governador, e depois se deslocado para conversar com Rerison, o que, segundo o documento, reforça a suspeita de que ele teria atuado como “mensageiro” de um vazamento sobre a operação.

Escritório

Além de sua ligação com a família, Thomas Jefferson é citado como sócio do escritório Castro & Gonçalves Advogados Associados (CNPJ 28.132.290/0001-46), onde trabalharia em parceria com o filho do governador. A polícia considera o laço profissional como parte de um “núcleo de confiança” usado para coordenar reações aos desdobramentos da investigação.

O relatório ainda detalha que, após a visita do advogado, houve “fuga organizada” do casal e movimentações suspeitas de malas e caixas em imóveis ligados à família Barbosa, inclusive em endereço associado à sogra do governador. O STJ autorizou novas buscas com base nesses indícios.

Franquia

Ainda de acordo com a decisão do ministro, a Polícia Federal constatou que Thomas Jefferson, além de ex-secretário de Parcerias e Investimentos do governo de Wanderlei, tornou-se proprietário da franquia de chocolates Lugano em Palmas, adquirida da própria Karynne Sotero Campos, esposa do governador. O documento destaca que essa transação comercial reforça os vínculos pessoais e financeiros entre Thomas Jefferson e a família Barbosa, o que, segundo os investigadores, ajuda a compreender a relação de confiança que teria possibilitado sua atuação

Fames-19

A decisão assinada por Campbell em 30 de outubro de 2025 afirma haver “fortes razões” para crer que Thomas Jefferson “levou mensagem presencial que determinou a intensa movimentação observada às vésperas do cumprimento das decisões judiciais”.

A Operação Fames-19 investiga supostos desvios de recursos públicos em contratos com secretarias estaduais e institutos sociais entre 2020 e 2021. Essa é a terceira fase da ofensiva que já mira o governador afastado, familiares, assessores e parlamentares do Tocantins.

Defesa

Em nota anterior, a defesa de Wanderlei Barbosa nega qualquer irregularidade e sustenta que “não houve vazamento” e que “todas as ações da família foram legítimas”.

Thomas Jefferson e Rérisson também se manifestou por meio de nota, leia abaixo.

Nota de Thomas Jefferson: ”O advogado e ex-secretário de Participações e Investimentos Thomas Jefferson comunica que nunca trabalhou para causar qualquer embaraço às investigações. Sua atuação junto ao governador Wanderlei Barbosa se deu na condição de secretário de estado, sendo absurdas as tentativas de criminalizar a sua atividade laboral.”

Nota de Rérisson Castro: ”O advogado Rérison Castro lamenta profundamente as acusações infundadas feitas contra ele. Informa ainda que colabora com as investigações, que vão demonstrar a sua inocência no transcorrer do processo.”