Cerca de 1,5 milhão de pessoas podem ser deportadas dos EUA; ao menos 38 mil são brasileiros

29 janeiro 2025 às 17h46

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Cerca de 1,5 milhão de pessoas de várias nacionalidades estão sob ordem de deportação nos Estados Unidos. Destas, ao menos 38 mil são brasileiros, de acordo com o Serviço de Imigração país referentes a novembro de 2024.
O dado é referente à cidadãos não americanos que não estão presos e consta em um documento do Serviço de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE). Esse número engloba indivíduos que entraram ou estão nos Estados Unidos de forma ilegal e que já tiveram o processo analisado por ao menos um juiz.
Segundo a pesquisa da Pew Research Center, divulgada em julho de 2024, apontam que 11 milhões de pessoas estavam em situação irregular nos Estados Unidos. De acordo com o Itamaraty, a estimativa é de que cerca de 2 milhões de brasileiros estão nos Estados Unidos, porém não é especificado o status desses cidadãos.
Em 2024, 1.859 imigrantes brasileiros foram deportados dos Estados Unidos. Mesmo sendo expulsos, existem formas de eles retornarem ao país.
Voo de deportados
Na noite desta sexta-feira, 24, o Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, será palco do primeiro voo de deportados dos Estados Unidos desde a posse de Donald Trump para um novo mandato. Ao todo, 158 pessoas estarão a bordo da aeronave, com a chegada prevista para o período da noite.
Segundo a Polícia Federal, este é o segundo voo com deportados a desembarcar na capital mineira neste ano. O primeiro, ocorrido no último dia 10, foi durante a gestão de Joe Biden, presidente democrata. Segundo o Itamaraty, 88 dos deportados são brasileiros.
O anúncio do voo foi feito em meio ao fortalecimento das políticas de imigração do governo Trump. Na manhã de sexta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, divulgou em redes sociais que, desde a posse de Trump, 538 imigrantes ilegais de diversas nacionalidades haviam sido presos, incluindo membros de gangues, criminosos sexuais e até um suspeito de terrorismo.
Leavitt também anunciou a deportação de centenas desses indivíduos em voos militares, destacando o início do que classificou como “a maior operação de deportação em massa da história dos Estados Unidos.”
O foco no endurecimento das políticas anti-imigração tem sido uma marca da administração Trump. Leavitt, com um tom de firmeza, ressaltou que as promessas feitas pelo presidente estavam sendo cumpridas, sinalizando a continuidade de medidas drásticas para enfrentar a imigração ilegal.
A política de deportação é apenas uma das diversas ações que Trump anunciou logo após sua posse, no dia 20 de janeiro. Em um pacote de medidas para endurecer o controle migratório, o republicano definiu o restabelecimento da polêmica política “Permaneça no México”, que obriga imigrantes a esperar do lado de fora dos EUA enquanto seus pedidos de asilo são processados.
Além disso, Trump autorizou a retomada da construção do muro na fronteira com o México e prometeu punir com pena de morte imigrantes ilegais que cometam assassinatos de cidadãos americanos.
Outra medida que gerou controvérsia foi o fim do asilo para quem cruzar a fronteira ilegalmente. No campo da segurança, Trump anunciou o envio de militares e da Guarda Nacional para reforçar a vigilância na fronteira, e classificou os cartéis de drogas como “organizações terroristas estrangeiras”, o que abre caminho para ações mais agressivas. Além disso, o republicano declarou estado de emergência na região fronteiriça, autorizando o uso das forças armadas.
No primeiro dia de mandato, Trump também revogou diversos decretos assinados por seu antecessor, Joe Biden, incluindo um que permitia a reunificação de famílias de imigrantes separadas na fronteira. O presidente republicano ainda suspendeu a concessão de refúgios por pelo menos quatro meses, anunciando uma revisão do sistema de análise desses pedidos.
A chegada do voo de deportados em Belo Horizonte simboliza o início de uma nova fase da política migratória dos EUA, que promete intensificar a repressão à imigração ilegal e gerar novos desdobramentos tanto para os imigrantes afetados quanto para as relações bilaterais entre Brasil e Estados Unidos.
Comissão deve cobrar embaixada
O presidente da Comissão sobre Migrações e Refugiados do Congresso, deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE) afirmou que acionará a embaixada e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos para conversar sobre o tratamento dado aos brasileiros deportados. A informação é da coluna do Igor Gadelha, do Metrópoles.
“Nosso papel agora, como representantes do Congresso Nacional, será acolher, garantir o tratamento adequado aos brasileiros, além de cobrar respeito, denunciando e dando visibilidade ao caso em âmbito mundial. Nossas leis não podem ser submissas a essa política autoritária, violenta e intolerante característica da ultradireita”, disse o deputado.
Na segunda-feira, 27, o Itamaraty convocou o encarregado de Negócios da embaixada dos Estados Unidos, Gabriel Escobar, para prestar esclarecimento sobre o que o ministério classifica como “distúrbios” na última deportação de brasileiros.
O encarregado foi ouvido no Ministério pela secretária de Assuntos Consulares, embaixadora Márcia Loureiro. Márcia está à frente da embaixada temporariamente após a então titular deixar o posto, no fim de 2024.
Segundo relatos, Escobar afirmou que os deportados já viajaram algemados em voos anteriores e que esse é um procedimento adotado pelos americanos. Ele prometeu apurar as denúncias de violação de direitos humanos.