A Guerrilha do Araguaia foi um movimento armado organizado por militantes do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), entre as décadas de 1960 e 1970, com o objetivo de combater a ditadura militar instaurada no país. Apesar de ter sido derrotado pelo Exército, o movimento se tornou um marco simbólico na resistência ao regime, segundo o historiador Afrânio Castro, professor da Universidade Católica de Brasília.

Um dos integrantes foi o médico João Carlos Haas Sobrinho, natural do Rio Grande do Sul. Sua trajetória é contada no documentário “Doutor Araguaia”, exibido em Brasília na terça-feira, 8.

Atuação na região do Araguaia

A guerrilha foi organizada na região que abrange partes do Pará, Maranhão, Tocantins, Mato Grosso e Goiás, tendo como eixo o rio Araguaia. Os militantes viviam em pequenas comunidades e buscavam apoio da população local, especialmente de camponeses, realizando ações contra as Forças Armadas.

Os confrontos ocorreram principalmente na divisa entre Pará, Goiás e Maranhão. Estima-se que cerca de 60 pessoas tenham desaparecido durante os conflitos, e a maioria nunca foi localizada.

João Carlos prestava atendimento médico a moradores de áreas rurais em municípios como Porto Franco (MA) e Xambioá (TO). Em setembro de 1972, ele foi morto pelo regime militar. O corpo nunca foi entregue à família.

João Carlos Haas Sobrinho, médico gaúcho que integrou a Guerrilha do Araguaia. — Foto: Reprodução

A produção do documentário

O documentário “Doutor Araguaia” é dirigido por Edson Cabral e tem roteiro de Sônia Haas, irmã de João Carlos. Ela conta que o filme é resultado de uma longa investigação pessoal sobre o paradeiro e a trajetória do irmão.

“Desde os meus 20 anos, venho buscando respostas. Nunca recebemos oficialmente informações sobre quando ou como ele foi morto”, afirma Sônia.

O filme percorre lugares por onde João Carlos passou e resgata relatos de pessoas que o conheceram. A produção já foi exibida em diversos estados, incluindo Rio Grande do Sul, Maranhão, Tocantins, São Paulo e, agora, o Distrito Federal.

“Queremos contar essa história para que ela não seja esquecida”, diz a roteirista.

Outras formas de resistência

Além da luta armada, o período da ditadura militar foi marcado por outras formas de resistência. O professor Afrânio Castro destaca que o movimento foi diverso e contou com vários setores da sociedade.

  • Estudantes: protestos organizados por movimentos estudantis, como a Passeata dos Cem Mil, em 1968, no Rio de Janeiro, foram marcos importantes da oposição ao regime.
  • Sindicatos: greves organizadas principalmente no final da década de 1970, como as do ABC Paulista, tiveram papel importante na retomada das lutas trabalhistas.
  • Imprensa alternativa: jornais e revistas independentes utilizavam a sátira e o humor como formas de crítica à censura e ao autoritarismo.
  • Igreja Católica: lideranças religiosas, como Dom Paulo Evaristo Arns, denunciaram a repressão e defenderam os direitos humanos.
  • Cultura e arte: músicas, peças teatrais e outras manifestações artísticas também serviram como instrumentos de resistência.

Segundo Afrânio, a Guerrilha do Araguaia se insere nesse contexto mais amplo de resistência e continua sendo um episódio que provoca reflexões sobre a história política e social do Brasil.