Em um mercado de trabalho historicamente dominado por homens, a artesã Karolline Vitória Assunção Costa, se tornou em 2023 a primeira mulher ourives em Palmas. Com a microempresa Kavi Joias Artesanais, Karol, como é conhecida no ramo, atua com a criação de peças exclusivas em ouro e prata, inspiradas na natureza do Tocantins. Em entrevista ao Jornal Opção Tocantins, a empresária contou como tudo começou, os desafios e conquistas da realização de um sonho.

Antes de empreender, Karol vendia joias e percebia a falta de peças que tivessem um significado pessoal e afetivo para seus clientes. Em 2022, sua então namorada, Jaquelinne Cardoso de Melo, a apresentou à ourivesaria quando juntas produziram suas alianças. No ano seguinte, Karol fez o pedido de noivado com o primeiro anel solitário criado por ela mesma. A partir desse momento, descobriu sua paixão pela arte da ourivesaria e, aos poucos, montou seu próprio ateliê.

Processo de fundição | Foto: Luiz Henrique Machado

Entre os desafios enfrentados pela empreendedora, um dos principais foi quebrar a barreira do machismo no setor. “Já ouvi comentários de que eu era mais lenta que os homens, mais fraca, que não conseguiria puxar um fio ou manusear os equipamentos de produção”, contou Karol. Ela também destacou que essa discriminação vem de longa data: “Na Grécia Antiga, as mulheres não podiam ser ourives. Muitas lutavam para ingressar nas guildas de artesãos, mas eram proibidas. Desde sempre houve esse preconceito, as mulheres eram privadas de sua liberdade”. Apesar dos desafios, em 2024, Karol decidiu formalizar seu negócio e, com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), cadastrou-se como Microempreendedora Individual (MEI), tornando a Kavi Jóias Artesanais uma empresa oficialmente registrada.  

Algumas das produções autorais | Foto: Rozeane Feitosa

O Sebrae, ao longo dos anos, tem desenvolvido um papel fundamental quando entra em cena no suporte aos MEIs do Tocantins, contribuindo diretamente para o crescimento de 17,98% no número de registros nos últimos dois anos. Em 2023, o estado tinha 62.084 MEIs. Em 2024, o Sebrae fechou o ano com 70.970 MEIs e, até esta sexta-feira, 14, esse número já chegou a 73.249.

O Sebrae oferece capacitações, consultorias especializadas e acesso a informações estratégicas para que os profissionais possam se estruturar e expandir seus negócios. A instituição, que apoia microempreendedores como Karol, proprietária da Kavi Joias Artesanais, proporciona diversos benefícios que ajudam a fomentar e fortalecer o empreendedorismo feminino, oferecendo o suporte necessário para a expansão de negócios liderados por mulheres.

Ourivesaria no Tocantins | Foto: Luiz Henrique Machado

Arte milenar

Mesmo a ourivesaria sendo uma arte milenar, até dos dias de hoje são usadas técnicas antigas, como o uso da cera e a fundição do ouro, que hoje custa mais de R$ 500,00 a grama. “Como faziam as armas, todas essas técnicas a gente também usa até hoje, como a fundição e a modelagem com cera”. 

Diante das dificuldades, Karol, apaixonada por Palmas, capital do Tocantins, busca na natureza tocantinense inspiração para a produção de suas joias, utilizando ouro e prata, e pedras preciosas para criar peças que tenham significado e beleza. 

“Eu gosto muito de me inspirar no nosso próprio estado, o Tocantins. Eu gosto muito de misturar elementos da natureza, do Cerrado tocantinense, e acima de tudo do amor pelas histórias dos casais, isso tudo me inspira. Quando eu vou fazer alguma joia que a pessoa está sem ideia, a primeira coisa que eu pergunto é ‘o que vocês gostam como casal?’ E daí vem a principal inspiração”, destacou a Karol, que tem em seu ateliê peças criadas inspiradas no sol, nas dunas do Jalapão, no cajuí, e na flor de pequi. A empresária ressalta ainda que ama o Tocantins, e se tiver que ir embora devido às dificuldades do ramo, levará consigo suas raízes na fabricação das peças.

Peças inspiradas na natureza tocantinense | Foto: Reprodução redes sociais Kavi

No ramo da ourivesaria, o cliente tem grande participação, pois é ele quem define o tipo de joia que deseja adquirir. Na Kavi, além dos detalhes básicos, como a escolha do metal, seja ouro ou prata, o cliente tem a oportunidade de criar sua própria peça, sob a orientação da artesã. “Teve uma aliança que o rapaz veio fazer, e dentro dela havia uma frase que eles costumavam usar, como uma piada interna entre eles. Assim, aquela piada ficou gravada na aliança, e sempre que a virem, se lembrarão daquela história. Ele mesmo fez as alianças e participou do processo para pedir a namorada em noivado”, lembrou.

“A maioria das vezes quando você vai fazer uma joia para marcar sua vida, é um momento muito importante da sua vida, é aquilo que você vai olhar e todas as vezes você vai lembrar. Então a joia guarda o sentimento do momento. Por isso, acho muito gratificante fazer parte disso”, expressou.

Preocupada com o meio ambiente e a sustentabilidade, a joias produzidas no ateliê, são com insumos naturais e extraídos de garimpos legalizados. “A gente procura sempre por fornecedores que defendem a questão do garimpo legalizado, pois existem muitos garimpos ilegais, e eles não têm essa preocupação de preservação.  Eu gosto de comprar as pedras de artesãos, como eu, pois não usamos nenhum tipo de pedra sintética, apenas pedras naturais”, ressaltou. 

Utilização de pedras preciosas | Luiz Henrique Machado

Ser inspiração 

Apesar de ser minoria no ramo em Palmas, Karol não vê outras mulheres como concorrentes, mas espera ser uma inspiração para muitas futuras ourives. “Para incentivar as mulheres a entrarem, principalmente na ourivesaria e no empreendedorismo, acho que é necessário ter força, porque a gente consegue conquistar tudo. O meu ateliê eu montei assim, a única pessoa que sabia o que eu queria era Deus. Então, é preciso confiar”, afirmou Karol, destacando que um de seus sonhos é, no futuro, realizar um workshop para que outras mulheres também possam ingressar no ramo do empreendedorismo feminino.