Em Paraíso do Tocantins, 69 quilômetros de Palmas, na margem da Rodovia BR-153, quinto maior colégio eleitoral do Tocantins, 2024 promete um clima quente sujeito a trovoadas e pampeiros, como há muito não se via, na disputa pelo comando do Paço Municipal. Será a eleição mais disputada da história, ou uma das. Os termômetros que medem o clima da política local apontam elevação da temperatura com formação de forte nevoeiro para cima da gestão Celso Morais (MDB), na base de todos contra um. União dos líderes de oposição, na qual inclui inclusive aliados, para tentar desalojar o jovem prefeito do poder.

O cenário que se projeta para 2024 tem como base algumas constatações óbvias. Primeiro, o rompimento do ex-prefeito Moisés Avelino (MDB) com o prefeito Celso Morais (MDB) que, ao que parece, é caminho sem volta. Nos bastidores comenta-se que Avelino considerou a exoneração de quadros ligados a ele, como sinal de afastamento. O clima entre os dois azedou de vez. De aliado e padrinho, Avelino passou a adversário vingativo. O que se sabe ao certo é que, em função do rompimento, uma grande frente de oposição está se formando em torno do ex-prefeito.

Avelino é um animal político. Não deseja mais disputar eleições, isso não quer dizer se afastar dos palanques, ao contrário. Continua ativo e influente. A articulação da qual faz parte, inclui o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), o vice-governador Laurez Moreira (PDT), o ex-deputado federal e atual secretário de Governo, Osires Damaso (Podemos), o deputado estadual Nilton Franco (Republicanos) e a vice-prefeita Raquel Ogawa (MDB). A frente de oposição vem sendo articulada por Nilton Franco e Osires Damaso, com as bençãos do ex-governador Moisés Avelino, a quem se atribui prestígio político suficiente para decidir a eleição.

Conforme entendimento que vem sendo articulado, essa frente terá apenas um candidato a prefeito. Dois nomes Osires Damaso e Nilton Franco são cogitados para assumir o comando como cabeça de chapa. Avelino já manifestou a sua preferência. Anunciou publicamente simpatia pelo o ex-deputado Osires Damaso, que considera o melhor nome para administrar o município. O Palácio Araguaia parece confirmar ao convidar Damaso para equipe de governo, ganhando mais visibilidade.

A disputa que se desenha será na base de todos contra o “menino”, como carinhosamente o prefeito Celso Morais é chamado em sua cidade, por demonstrar menos idade do que tem. A primeira batalha dessa guerra eleitoral que já começou, será travada no âmbito do MDB. Avelino e Celso pertencem ao MDB. Apenas um deles deve permanecer. E se apenas um vai permanecer, não será o prefeito. Avelino é patrimônio do MDB.

Fora do MDB, Celso pode ser convidado a ingressar no PL do senador Eduardo Gomes (PL) com quem tem boas relações políticas. Em 2022 Celso foi um dos poucos prefeitos a apoiar Ronaldo Dimas (PL), contra a orientação do líder maior, Avelino, que apoiou o governador Wanderlei Barbosa. Se preferir, Celso também poderá encontrar abrigo no PP, do deputado federal Vicentinho Júnior, a quem apoiou para a Câmara Federal na última eleição. Dessa forma, a disputa de Paraíso é uma briga local, mas com reflexo no contexto estadual de 2026. Daí o interesse de “pesos pesados” no pleito.

Celso Moraes está diante de uma ameaça real de ser apeado do poder, pelo voto popular. Nas contas da oposição, o prefeito estará fadado inevitavelmente à derrota antes mesmo da campanha começar. Isso, em função do grande volume de apoio que a frente de oposição está conseguindo arregimentar. Mas é preciso ponderar alguns fatores inerentes a qualquer cena política.

O prefeito está no poder. Tem o benefício do que se chama máquina administrativa. Celso foi eleito com uma das maiores votações do Estado. Esse capital político não se deteriora do dia pra noite. Por menor respaldo popular que tiver, já é bastante competitivo. Ademais, reeleição, como dizem os políticos, foi feita para reeleger.

Dito isto, é melhor considerar que o prefeito pode ser derrotado, mas também tem a possibilidade de sair das urnas consagrado. O gestor é jovem, surgiu por necessidade de renovação da política paraisense e tem conseguido ao menos dar continuidade aos bons resultados dos dois governos Avelino. Se era isso que os eleitores cobravam, eis aí a oportunidade batendo na porta para a consolidação de uma grande líder que pode comandar a política local pelos próximos anos, assim como Avelino o fez. O Tocantins é generoso em fenômenos eleitorais.

Em 2008, Raul Filho em Palmas, concorreu contra tudo e contra todos e venceu as eleições com certa vantagem. Em 2012 foi a vez do Amastha enfrentar a máquina do Paço Municipal e do Palácio Araguaia e venceu, se tornando um dos maiores fenômenos eleitorais. Não vamos longe não. Em 1982, Avelino surge num contexto de necessidade de renovação. Concorreu contra estruturas tradicionais com forte aparato da máquina estatal e venceu, se projetando no contexto do Estado. Como resultado da gestão moderna e inovadora na época, conquistou o Palácio Araguaia. Cabe ao jovem prefeito transformar ameaça em oportunidade. Seu histórico o favorece.

O jovem líder foi estratégico para a reeleição do prefeito Avelino, e de quebra se tornou herdeiro de um patrimônio político invejável que o levou ao poder. Agora daqui pra frente precisará mostrar que tem ideias próprias, competência gerir crises e coragem para enfrentar desafios imperiosos. Faz uma administração razoável, em continuidade às gestões Avelino. Ainda tem muito que mostrar até 2024 e certamente se consolidar como um forte candidato a continuar no comando do município. A votação consagradora em 2020 e a boa aceitação que mantém junto à opinião pública indicam que está no caminho certo. 

Em tempo, eleição polarizada, pouco ou quase nada sobra para outros projetos, diferentes dos que estão colocados. Mas é preciso considerar que nem tudo embarca nesse trem da união de todos contra o Celso. Outros nomes como Ataídes Rodrigues (PSD), Dyego Pereira Lima (Republicanos) e Luiz Antônio (PT), que disputaram as últimas eleições podem voltar a tentar uma nova oportunidade. Ataídes ficou em segundo lugar, tendo alcançado 21,20% dos votos, tem todas as condições de tentar também polarizar com o prefeito e ganhar fôlego na disputa. Deve ser incluído nesta lista o médico Cleber Mota (PT) a vice-prefeita Raquel Ogawa (MDB), e o ex-prefeito Hider Alencar (UB), dentre outros, que seguramente até abril de 2024 vão surgir.

A renovação produzida no seio da velha tradição, ou seja, mudança com segurança, tem demonstrado que veio para ficar. Em Paraíso, a juventude conquistou o poder e pelo que que observa está sabendo cuidar. Até onde, não se sabe.