O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) e outros 13 ex-integrantes do alto escalão do governo do Tocantins tornaram-se réus em uma ação que investiga o suposto aparelhamento da Polícia Civil para interferir em investigações de corrupção. A denúncia foi aceita pela 3ª Vara Criminal de Palmas e detalha como o grupo teria utilizado cargos públicos para impedir apurações, desmantelar divisões de combate à corrupção e promover perseguições políticas.

Segundo o Ministério Público Estadual (MPE-TO), os atos começaram logo após Carlesse assumir o governo em 2018, após a cassação do ex-governador Marcelo Miranda (MDB). Entre as estratégias citadas na denúncia, estavam exonerações de delegados que investigavam aliados políticos, abertura de processos disciplinares e mudanças no comando de delegacias especializadas, como a Divisão Especializada de Combate à Corrupção (DECOR).

De acordo com o MPE-TO, o governo aprovou uma emenda à Constituição Estadual que retirou a garantia de inamovibilidade dos delegados, permitindo transferências arbitrárias e enfraquecendo investigações contra o governo. Também foi implantado um sistema de avaliação que atribuía notas de produtividade, sendo utilizado para justificar transferências de delegados que conduziam apurações sensíveis. Em alguns casos, o grupo recorria à criação de cargos comissionados para colocar aliados em posições estratégicas e afastar profissionais independentes.

Um dos pontos destacados foi a existência de um documento interno da Polícia Civil, encontrado na Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), que registrava uma “lista negra” de delegados a serem afastados. O documento indicava que mudanças deveriam ocorrer em Palmas e Araguaína para evitar que fossem vistas como perseguição política.

Denúncia de aparelhamento e espionagem

A denúncia aponta que o ex-governador estruturou uma rede de espionagem para monitorar investigações que envolviam seu governo. Segundo o MPE-TO, o diretor de inteligência da Polícia Civil usava a estrutura da diretoria para verificar interceptações telefônicas e comunicar ordens judiciais ao grupo antes de seu cumprimento, comprometendo investigações. Além disso, ações diretas para impedir o avanço de mandados de busca e oitiva de testemunhas foram relatadas.

Trecho retirado da denúncia do Ministério Público

O ex-secretário de Segurança Pública, Cristiano Barbosa Sampaio, é citado como peça-chave no esquema, sendo apontado como o responsável por implementar as estratégias de controle na Polícia Civil a mando de Carlesse. Também estão entre os réus o ex-secretário de Parcerias e Investimentos Claudinei Aparecido Quaresemin, sobrinho de Carlesse (atualmente preso por supostamente auxiliar na fuga de Carlesse para o exterior), e o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Rolf Costa Vidal, atual secretário da Casa Civil de Palmas, na gestão de Eduardo Siqueira Campos (Podemos). 

Repercussões e medidas legais

O MPE-TO classificou o esquema como uma organização criminosa que comprometeu a segurança pública do Tocantins. Além de responsabilização criminal, a ação pede a perda de cargos públicos, pagamento de R$1 milhão em indenização por danos morais coletivos e a reparação dos danos causados ao erário.

Carlesse, que já está preso preventivamente desde dezembro de 2024 sob acusação de planejar fuga internacional, nega as acusações. O ex-governador é alvo de pelo menos cinco investigações, incluindo as operações Hygea e Éris, que apuram desvios no Plansaúde e o desmantelamento da Polícia Civil.

A lista completa dos réus, incluem: 

  1. Mauro Carlesse
  2. Claudinei Aparecido Quaresemin
  3. Cristiano Sampaio
  4. Rolf Costa Vidal
  5. Servilho Silva de Paiva
  6. Cinthia Paula de Lima
  7. Gilberto Augusto Oliveira Silva
  8. Iolanda de Sousa Pereira
  9. Augusto Oliveira Silva
  10. Juliana Moura Amaral Quintanilha
  11. Lucélia Maria Marques Bento
  12. Raimunda Bezerra de Souza
  13. Ronan Almeida Souza
  14. Wilson Oliveira Cabral Júnior