Ex-governador Mauro Carlesse é acusado de liderar esquema para frear investigações de corrupção da Polícia Civil

23 janeiro 2025 às 09h12

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O ex-governador Mauro Carlesse (Agir) e outros 13 ex-integrantes do alto escalão do governo do Tocantins tornaram-se réus em uma ação que investiga o suposto aparelhamento da Polícia Civil para interferir em investigações de corrupção. A denúncia foi aceita pela 3ª Vara Criminal de Palmas e detalha como o grupo teria utilizado cargos públicos para impedir apurações, desmantelar divisões de combate à corrupção e promover perseguições políticas.
Segundo o Ministério Público Estadual (MPE-TO), os atos começaram logo após Carlesse assumir o governo em 2018, após a cassação do ex-governador Marcelo Miranda (MDB). Entre as estratégias citadas na denúncia, estavam exonerações de delegados que investigavam aliados políticos, abertura de processos disciplinares e mudanças no comando de delegacias especializadas, como a Divisão Especializada de Combate à Corrupção (DECOR).
De acordo com o MPE-TO, o governo aprovou uma emenda à Constituição Estadual que retirou a garantia de inamovibilidade dos delegados, permitindo transferências arbitrárias e enfraquecendo investigações contra o governo. Também foi implantado um sistema de avaliação que atribuía notas de produtividade, sendo utilizado para justificar transferências de delegados que conduziam apurações sensíveis. Em alguns casos, o grupo recorria à criação de cargos comissionados para colocar aliados em posições estratégicas e afastar profissionais independentes.
Um dos pontos destacados foi a existência de um documento interno da Polícia Civil, encontrado na Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), que registrava uma “lista negra” de delegados a serem afastados. O documento indicava que mudanças deveriam ocorrer em Palmas e Araguaína para evitar que fossem vistas como perseguição política.
Denúncia de aparelhamento e espionagem
A denúncia aponta que o ex-governador estruturou uma rede de espionagem para monitorar investigações que envolviam seu governo. Segundo o MPE-TO, o diretor de inteligência da Polícia Civil usava a estrutura da diretoria para verificar interceptações telefônicas e comunicar ordens judiciais ao grupo antes de seu cumprimento, comprometendo investigações. Além disso, ações diretas para impedir o avanço de mandados de busca e oitiva de testemunhas foram relatadas.
O ex-secretário de Segurança Pública, Cristiano Barbosa Sampaio, é citado como peça-chave no esquema, sendo apontado como o responsável por implementar as estratégias de controle na Polícia Civil a mando de Carlesse. Também estão entre os réus o ex-secretário de Parcerias e Investimentos Claudinei Aparecido Quaresemin, sobrinho de Carlesse (atualmente preso por supostamente auxiliar na fuga de Carlesse para o exterior), e o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Rolf Costa Vidal, atual secretário da Casa Civil de Palmas, na gestão de Eduardo Siqueira Campos (Podemos).
Repercussões e medidas legais
O MPE-TO classificou o esquema como uma organização criminosa que comprometeu a segurança pública do Tocantins. Além de responsabilização criminal, a ação pede a perda de cargos públicos, pagamento de R$1 milhão em indenização por danos morais coletivos e a reparação dos danos causados ao erário.
Carlesse, que já está preso preventivamente desde dezembro de 2024 sob acusação de planejar fuga internacional, nega as acusações. O ex-governador é alvo de pelo menos cinco investigações, incluindo as operações Hygea e Éris, que apuram desvios no Plansaúde e o desmantelamento da Polícia Civil.
A lista completa dos réus, incluem:
- Mauro Carlesse
- Claudinei Aparecido Quaresemin
- Cristiano Sampaio
- Rolf Costa Vidal
- Servilho Silva de Paiva
- Cinthia Paula de Lima
- Gilberto Augusto Oliveira Silva
- Iolanda de Sousa Pereira
- Augusto Oliveira Silva
- Juliana Moura Amaral Quintanilha
- Lucélia Maria Marques Bento
- Raimunda Bezerra de Souza
- Ronan Almeida Souza
- Wilson Oliveira Cabral Júnior