No início deste mês, um site especializado em agropecuária afirmou ter recebido a confirmação de que o Ministério dos Transportes havia alterado o traçado da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), excluindo Figueirópolis, cidade situada no sul do Tocantins, do projeto e estabelecendo Mara Rosa (GO) como novo ponto de conexão. Nesta quarta-feira, 12, o Jornal Opção Tocantins obteve retorno oficial do órgão, que confirmou a mudança, conforme o cronograma atual.

A decisão, segundo a pasta, tem como objetivo garantir uma conexão direta com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), formando o Corredor Leste-Oeste, um eixo logístico estratégico para o escoamento da produção nacional. No trecho Fiol 3, que liga Correntina (BA) a Mara Rosa (GO), os estudos indicaram que a alteração tornaria o fluxo ferroviário mais eficiente e melhor integrado à malha ferroviária do país.

Apesar da confirmação da mudança, o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) e a bancada federal do Tocantins seguem articulando em Brasília para tentar reverter a exclusão de Figueirópolis do projeto. A pressão política ganhou ainda mais força após a eleição da Mesa Diretora do Senado, com o senador Eduardo Gomes (PL) assumindo a vice-presidência da Casa. A posição fortalece a influência do Tocantins nas discussões nacionais e pode ser um trunfo para negociar a permanência do estado no traçado original da ferrovia.

Vinícius Santa Rosa/ Governo do Tocantins

“O Tocantins não pode ser preterido como se fosse menos relevante. Os investimentos locais para atender esse eixo de ligação já estão sendo feitos há mais de uma década. A iniciativa privada e o governo do Estado já investiram na região. Essa seria uma mudança abrupta no planejamento federal que alteraria toda a matriz de crescimento do Tocantins”, afirmou Wanderlei Barbosa.

As audiências públicas para discutir o Corredor Leste-Oeste foram aprovadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e estão programadas para ocorrer em Brasília (11/03), Salvador (12/03) e Cuiabá (14/03). Além disso, o período para envio de contribuições sobre o projeto segue aberto até 24 de março, o que reforça que a decisão ainda não está consolidada.

Foto: Infra S.A.

Outro ponto que gera dúvidas sobre a possível exclusão de Figueirópolis é o fato de a cidade ainda constar no site da empresa responsável pela operação da Fiol, o que indica que a mudança pode não ter sido completamente implementada ou oficializada. Essa divergência sobre o impacto da decisão para a logística e o desenvolvimento econômico da região tem sido questionada.

O deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos) destacou o impacto econômico da alteração e alertou para os prejuízos que ela pode causar aos produtores da região. “Retirar o entroncamento da Fiol seria um grande erro estratégico para o país e um prejuízo imenso para o nosso estado. O Tocantins é o ponto ideal para consolidar uma plataforma multimodal de logística, beneficiando não só a nossa economia, mas a de todo o Brasil”, afirmou.

A prefeita de Gurupi e presidente do Consórcio Público Intermunicipal para o Desenvolvimento das Regiões Sul e Centro-Oeste (CODER Sul Centro-Oeste), Josi Nunes (UB), também se pronunciou sobre a possível mudança. “A chegada da Fiol ao Tocantins representará uma oportunidade única para dinamizar o desenvolvimento de toda a nossa região. Essa mudança no traçado trará grandes prejuízos não apenas para Gurupi, mas para todos os municípios do entorno, que perderão uma importante fonte de geração de empregos e desenvolvimento econômico”, afirmou.

O Tocantins busca mobilizar sua bancada federal e lideranças regionais para reverter a proposta. A expectativa é que o Plano Nacional de Ferrovias, que inclui a possível mudança no traçado, seja apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas próximas semanas. Enquanto isso, o governo do Estado promete intensificar os esforços para garantir que o projeto original, que conecta a Fiol a Figueirópolis, seja mantido.

Presidente da ATM se manifesta contra o novo traçado

Presidente Diogo Borges | Foto: Divulgação

O presidente da Associação Tocantinense de Municípios (ATM), Diogo Borges, manifestou oposição à possível exclusão de Figueirópolis do traçado da Fiol. Em entrevista ao Jornal Opção Tocantins, ele destacou que a mudança no percurso da ferrovia representa um golpe contra o desenvolvimento da região sul do estado e que a classe política e empresarial está unida para reverter essa decisão.

Segundo Diogo Borges, a escolha de Figueirópolis como ponto de conexão da Fiol não foi feita ao acaso, mas baseada em estudos de viabilidade há anos consolidados. Para ele, a mudança inesperada sem um debate amplo com a população, os prefeitos e os setores produtivos é inaceitável. Ele reforçou que a ferrovia é vista como um vetor essencial para a geração de empregos, renda e crescimento econômico do Tocantins.

“Não se sabe por que ou por quem essa mudança foi feita. Essa obra já estava fomentando a região, e não há justificativa para alterar um traçado que já foi estudado e planejado há tanto tempo”, criticou. O presidente da ATM destacou que a mobilização envolve prefeitos, a bancada federal, estadual e o próprio governador Wanderlei Barbosa, que está em Brasília tratando do assunto diretamente com o ministro dos Transportes, Renan Filho.

Diogo Borges também ressaltou que o Tocantins não pode mais aceitar ser tratado como coadjuvante em decisões estratégicas que afetam sua infraestrutura e economia. Ele fez um paralelo com a duplicação da BR-153, citando o histórico de lutas para garantir que o estado fosse incluído em investimentos rodoviários prioritários.

“O Tocantins precisa ser olhado de igual para igual com qualquer outro estado. Não somos mais um norte esquecido de Goiás, somos um estado forte, em ascensão, com alta produtividade e estratégico para o país”, enfatizou. Para ele, a decisão do governo federal precisa levar em consideração que investir no Tocantins hoje significa garantir retorno rápido, devido ao crescimento da produção agropecuária e da demanda logística.

O presidente da ATM garantiu que os prefeitos do sul do Tocantins, ao lado da bancada política e dos setores produtivos, seguirão pressionando para que o traçado original da Fiol seja mantido. Ele reforçou a necessidade de levar essa demanda ao governo federal, mostrando que o Tocantins não pode continuar perdendo investimentos para Goiás.

“A gente acredita sim que essa decisão pode ser revista. Estamos na luta para que isso aconteça”, concluiu.