Mulheres usadas como ‘laranjas’ movimentaram milhões em contratos no governo Carlesse, aponta Polícia

19 maio 2025 às 11h38

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Documentos da Polícia Civil do Tocantins apontam que uma estrutura composta por empresas de fachada e pessoas físicas foi utilizada para ocultar o destino de recursos públicos durante a gestão do ex-governador Mauro Carlesse (2018–2022). A suspeita é de que os repasses, feitos por meio de contratos com o governo estadual, teriam servido para desviar valores por fora do controle oficial.
O caso é investigado na Operação Via Avaritia, iniciada em 2019. De acordo com a polícia, Carlesse teria liderado o grupo envolvido nas irregularidades. O ex-governador, por sua vez, nega qualquer envolvimento e afirma que o inquérito tem motivação política.
Um dos contratos sob análise foi firmado com a Prime Construções, empresa que recebeu mais de R$ 15 milhões do Estado. A quebra de sigilo bancário revelou transferências da empresa para diferentes pessoas e empresas sem justificativa clara, segundo os investigadores.
Entre os beneficiários está Sandra Maria da Silva, que teria recebido mais de R$ 1,7 milhão da Prime. A Polícia Civil destaca que Sandra também recebeu auxílio emergencial durante a pandemia, o que indicaria incompatibilidade entre os valores movimentados e sua renda.
Outro ponto investigado envolve a empresa Dualmec, que recebeu R$ 3,6 milhões da Prime e está registrada em um endereço que abriga uma pizzaria em Joinville (SC). A sócia, Edi Aguida Gorski, também teria sido beneficiária do auxílio emergencial e vive em condições modestas, segundo o relatório. Para os investigadores, a empresa foi criada apenas para viabilizar movimentações financeiras da Prime.
O relatório aponta ainda que o gerente de obras da Prime, Francisco Morilha, teria imposto a entrega do acesso bancário da Dualmec ao casal Edi e Júlio César, oferecendo a eles uma porcentagem do que a empresa faturasse.
A investigação também envolve ex-secretários, servidores públicos e empresários. Diante do conteúdo do inquérito, o caso poderá ser enviado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), responsável por analisar processos contra ex-autoridades com foro privilegiado.
O que dizem os citados
O advogado Nabor Bulhões, que representa o ex-governador Mauro Carlesse, classificou o relatório como ilegal, inconstitucional e abusivo, leia na íntegra:
O relatório da Polícia Civil do Tocantins é ilegal, abusivo e inconstitucional. A Polícia Civil não detém competência nenhuma para investigar governador durante o exercício do mandato ou mesmo após o término do mandato. O foro competente é do Superior Tribunal de Justiça. A investigação tem claramente uma conotação política. Quando se falou em uma nova candidatura de Mauro Carlesse foi instaurada essa operação. Não tive acesso a esse relatório parcial, mas afirmo com absoluta convicção e segurança que o governador Carlesse não praticou nenhum ato ilícito em sua administração. De qualquer forma, o documento não tem validade, porque, reitero, é ilegal, inconstitucional. Um abuso. Uma operação policial marcada por evidente interesse político.
Já o empresário Marcus Emmanoel Chaves Vieira, da Prime Construções, nega qualquer irregularidade. Segundo ele, os serviços foram prestados e auditados pelo Tribunal de Contas do Estado, que apontou falhas técnicas resolvidas por meio de um acordo com o governo estadual. Ele também afirmou que a empresa atua em diferentes frentes e mantém funcionários contratados no Tocantins. Sobre os repasses à Proplan, empresa subcontratada, Vieira afirma que houve tomada de preços e emissão de nota fiscal.
*Com informações do Estadão