Apesar de contar com mais de 4 mil médicos, o Tocantins ainda apresenta desigualdades na distribuição desses profissionais e um número abaixo da média nacional de especialistas. É o que revela a nova edição da Demografia Médica 2025, lançada nesta quarta-feira, 30, pela USP em parceria com o Ministério da Saúde. O levantamento traz um panorama detalhado sobre a formação, atuação e distribuição dos médicos em todo o país, com atenção especial para o desequilíbrio entre os atendimentos realizados na rede pública (SUS) e no setor privado.

Segundo o estudo, o Tocantins tem 4.427 médicos registrados para uma população estimada de 1.577.342 habitantes, o que representa uma média de 2,81 médicos por mil habitante, um número inferior ao observado nas regiões mais desenvolvidas do país. Em comparação, apenas na capital, Palmas, a média salta para 6,35 médicos por mil habitantes, evidenciando uma forte concentração de profissionais nos centros urbanos.

Além disso, apenas 48,1% dos médicos tocantinenses são especialistas, o que coloca o estado abaixo da média nacional de 59,1%, e bem distante da média dos países da OCDE, que é de 62,9%. Os dados refletem um dos principais gargalos do sistema de saúde local: a dificuldade de acesso à assistência médica especializada, principalmente fora da capital.

Cirurgias pelo SUS são menores que na rede privada

A nova edição da Demografia Médica também evidencia outro problema: pacientes com plano de saúde têm muito mais acesso a procedimentos cirúrgicos do que aqueles atendidos exclusivamente pelo SUS. Três das cirurgias mais comuns no país, apendicectomia, colecistectomia e correções de hérnias, são mais frequentes no setor privado. Enquanto a taxa de remoção de apêndice chega a 100 por 100 mil habitantes na rede privada, no SUS o número é 34,4% menor.

Esse abismo no acesso se agrava quando se considera a distribuição dos especialistas no Tocantins. No estado, apenas 30 programas de residência médica estão ativos, formando apenas 209 médicos residentes, o que equivale a 13,25 residentes por 100 mil habitantes, um dos índices mais baixos do país.

A situação é ainda mais preocupante quando se observa que 70% dos cirurgiões brasileiros atuam nos dois setores (público e privado), mas apenas 10% trabalham exclusivamente no SUS. Além disso, cerca de 8% das cirurgias são canceladas por falta de equipe, principalmente anestesistas.

Interior carente e capital sobrecarregada

Enquanto Palmas concentra quase metade dos médicos do estado (2.054), os outros 138 municípios somam juntos apenas 2.373 médicos, o que representa uma média de apenas 1,89 médico por mil habitantes no interior. Isso resulta em longas filas de espera e atrasos em diagnósticos e cirurgias, pressionando ainda mais o sistema público de saúde.

Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, a solução passa por integrar os recursos do SUS com a estrutura ociosa da rede privada. “Precisamos garantir o tempo adequado para o atendimento médico especializado e resolver problemas de diagnóstico e cirurgias represadas. Isso só será possível com parcerias mais efetivas com o setor privado, onde estão concentrados os especialistas hoje”, afirmou.

Especialistas mais comuns no estado

No Tocantins, entre as especialidades mais representadas estão Clínica Médica (92 profissionais), Ginecologia e Obstetrícia (90), Pediatria (86), Ortopedia (61) e Anestesiologia (53). Áreas como Cirurgia Pediátrica, Genética Médica e Medicina Nuclear contam com apenas um ou dois profissionais em todo o estado.