No Tocantins, 2,6 pessoas foram estupradas por dia em 2024, diz Ministério da Justiça

24 janeiro 2025 às 15h43

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Dados do Ministério da Justiça e Segurança Pública apontam que em 2024 pelo menos 979 foram estupradas no Tocantins. Uma média de 2,6 pessoas por dia. O número é 16,83% maior que o número de casos informados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP) ao Ministério em 2023, quando 838 pessoas foram estupradas.
Com esse número, o Tocantins ficou como o quarto estado com maior aumento percentual de estupros em 2024, ficando atrás somente dos estados do Amapá, que registrou 35,95% de aumento, Amazonas com 42,91% e a Paraíba, que teve um aumento expressivo de 103,48% dos casos. O Jornal Opção Tocantins solicitou uma nota à SSP sobre o aumento dos casos e aguarda retorno.
De acordo com informações do governo federal, o Brasil contabilizou pelo menos 78.395 casos de estupro em 2024, o que equivale a uma média de nove ocorrências a cada hora. A maioria das vítimas são mulheres, com 67.820 registros, enquanto 9.676 vítimas são do sexo masculino. Além disso, em 899 casos, o gênero das vítimas não foi especificado nos registros.
Juliana Martins, coordenadora institucional do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destacou que os números podem ser ainda maiores, já que crimes de violência sexual costumam ser amplamente subnotificados. Ela explica que o aumento dos registros pode indicar tanto um crescimento real nas ocorrências quanto uma melhoria nos processos de coleta e registro das informações.
“O crime sexual é envolto em diversas questões. Muitas vezes, esses casos sequer são registrados. As vítimas, em grande parte, enfrentam dificuldades para denunciar, confiar na polícia ou no sistema de Justiça. Em não raras ocasiões, elas são culpabilizadas pela violência sofrida”, afirmou.
Martins enfatiza a necessidade de conscientizar a sociedade e capacitar os profissionais de segurança pública para que desenvolvam um olhar mais sensível às questões de gênero e suas particularidades. Ela reconhece, no entanto, que superar essa realidade é desafiador, pois os crimes de gênero estão profundamente enraizados em uma cultura patriarcal e machista, que perpetua a ideia de inferioridade e submissão das mulheres.
“Essa desigualdade de gênero contribui para a normalização da violência. São traços culturais muito profundos, infelizmente. Trata-se de um processo difícil de conscientização e reeducação. À medida que as mulheres conquistam mais direitos e discutem mais a igualdade, muitas vezes a violência também aumenta. É um movimento de avanços e retrocessos. É uma luta constante e incessante”, analisou.
Os dados divulgados pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública integram o Sinesp Validador de Dados Estatísticos, uma plataforma criada para consolidar os índices de criminalidade enviados pelos estados. A ferramenta foi lançada pela pasta em dezembro de 2023.