Organizações feministas e de direitos humanos se opõem ao PL de combate ao aborto no Tocantins
12 novembro 2024 às 16h41
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Segue para sanção do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) um projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa do Tocantins que institui a “Semana de Combate ao Aborto”, de autoria do deputado Gipão (PL). A proposta estabelece ações de conscientização sobre o aborto e fixa 8 de agosto como o “Dia Estadual contra o Aborto”. No entanto, entidades de defesa dos direitos das mulheres e organizações feministas criticam a proposta, afirmando que ela intensifica a criminalização das mulheres e ignora questões sociais, econômicas e de saúde pública.
Para as entidades, o PL representa uma visão punitiva e desatualizada sobre o aborto, desconsiderando realidades de vulnerabilidade enfrentadas por muitas mulheres. Em nota de repúdio, elas alertam que o projeto falha ao deixar de lado as necessidades de saúde, acesso a planejamento familiar e educação sexual, fatores fundamentais para a prevenção de abortos. As organizações também ressaltam que a ausência de políticas públicas de saúde reprodutiva e apoio socioeconômico torna o aborto inseguro uma das principais causas de mortalidade materna, especialmente entre mulheres pobres e negras. De acordo com os grupos, sem alternativas de apoio, as mulheres recorrem a procedimentos clandestinos e inseguros, o que eleva o risco de complicações graves.
A nota enfatiza que a criminalização do aborto não reduz sua ocorrência, mas amplia os riscos para aquelas que não têm acesso a condições seguras. Também menciona dados sobre violência sexual no Brasil, destacando a realidade enfrentada por meninas e mulheres jovens: 75% das vítimas de estupro têm menos de 14 anos, e há um registro de estupro a cada 8 minutos. As entidades afirmam que essa situação é agravada quando o poder público não oferece proteção adequada às vítimas, citando casos como o da menina de 11 anos em Santa Catarina, que, mesmo com direito legal ao aborto em caso de estupro, enfrentou dificuldades para exercer esse direito.
Os grupos criticam o momento escolhido para a proposta, uma vez que agosto é marcado pela campanha nacional “Agosto Lilás”, de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, e consideram o PL um retrocesso que reforça o controle sobre os corpos femininos. Eles apelam ao governador para que rejeite o projeto e priorize políticas que promovam saúde, dignidade e proteção para todas as mulheres, independentemente de suas condições socioeconômicas.
Entre as organizações que assinam a nota de repúdio estão a Secretaria de Mulheres do PCdoB Palmas-TO, o Observatório Feminista, o Centro de Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente (Cedeca Glória de Ivone), o Grupo de Estudos de Mulheres Negras do Tocantins (Adinkra), a União da Juventude Socialista (UJS Tocantins), o Centro de Direitos Humanos de Palmas (CDHP), o Grupo Feminista Dina Guerrilheira, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e o Projeto de Extensão Terças Feministas da Universidade Federal do Tocantins (UFT).