O Tocantins registrou em 2023 a maior taxa de mortes no trânsito entre todos os estados brasileiros, com 33,9 óbitos a cada 100 mil habitantes. Os dados estão no Atlas da Violência 2025, divulgado nesta segunda-feira, 12, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).

O levantamento mostra que o Tocantins foi o único estado do País a apresentar aumento na taxa de mortalidade no trânsito ao longo entre 2013 e 2023. “Analisando a variação percentual da taxa de óbitos no período de 2013 a 2023 cabe ressaltar que apenas uma UF, no caso Tocantins, obteve aumento nesse indicador”, cita o documento.

Em 2013, a taxa era de 33,1 e subiu gradualmente até alcançar 33,9 em 2023, após ter atingido um pico de 38,4 em 2014. Nesse período, foram registradas 5.685 mortes no trânsito no estado. Somente em 2023, o Tocantins contabilizou 552 mortes por acidentes viários, o maior número desde 2015. O Atlas aponta ainda que 49,8% dessas mortes, ou seja 275 delas, envolveram motociclistas, o equivalente a 16,9 mortes por 100 mil habitantes, um dos percentuais mais altos do país.

A análise mostra que as maiores taxas de mortalidade no trânsito estão concentradas nas regiões Centro-Oeste e Sul. Já os menores índices foram registrados nos estados do Sudeste.

Esta é a primeira edição do Atlas que inclui uma seção específica sobre acidentes de trânsito no Brasil. A avaliação estatística considerou o período de 2013 a 2023, abrangendo duas décadas de políticas públicas voltadas à segurança viária. Os dados foram extraídos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), com base nos códigos da Classificação Internacional de Doenças (CID-10) para óbitos por causas externas, especificamente aqueles relacionados a sinistros de transporte terrestre.
Foram considerados os registros de vítimas que se enquadram nas seguintes categorias: pedestres, ciclistas, motociclistas, ocupantes de automóveis, caminhonetes, veículos de transporte pesado, ônibus e triciclos motorizados, além de outras ocorrências de transporte terrestre. Em análises complementares, também foram incluídos sinistros relacionados ao transporte aquático, aéreo, espacial e os não especificados.

O Atlas destaca ainda que, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), o termo “acidente de trânsito” foi substituído por “sinistro de trânsito”, justamente por entender que tais ocorrências não são inevitáveis, mas sim resultado de múltiplos fatores controláveis, como velocidade, fiscalização e infraestrutura viária. Apesar disso, o termo “acidente” ainda é recorrente no uso jurídico e administrativo.

Cálculos

Para calcular as taxas por 100 mil habitantes, o estudo passou a adotar, desde a edição anterior, estimativas populacionais com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC), do IBGE. A mudança busca dar mais consistência às séries históricas, em razão da defasagem nas projeções anteriores do IBGE, que superestimavam a população brasileira em cerca de 12 milhões de pessoas, segundo o Censo de 2022.

Essa nova metodologia resulta em uma leve subestimação das taxas, mas permite maior padronização entre os indicadores. As informações específicas sobre população indígena, faixa etária e cor/raça também foram ajustadas para manter a compatibilidade com a base PNADC. Já os dados sobre homicídios seguem dois modelos de análise: um com base nos registros oficiais e outro incluindo estimativas de “homicídios ocultos”, recalculados por técnicas de machine learning devido ao aumento das mortes classificadas como “causa indeterminada” nos últimos anos.

Estado

A reportagem entrou em contato com o governo do Tocantins e questionou os seguintes pontos, com base nas informações do documento, se a gestão reconhece os números apresentados no Atlas e se há divergência em relação aos dados oficiais do Estado. Também foi perguntado a que fatores a gestão atribui o aumento na taxa de mortalidade no trânsito no Tocantins no período apresentado no documento.

Além disso, a gestão foi questionada sobre quais políticas públicas estão em curso ou previstas para redução desses indicadores e de 2023 para cá foi traçado algum plano específico para enfrentamento da alta mortalidade entre motociclistas.