A reforma e ampliação da Escola Estadual Anaídes Brito Miranda, em Santa Fé do Araguaia, transformou-se em um retrato da lentidão da máquina pública. Orçada em quase R$ 4 milhões, a obra acumula licitação frustrada, contrato rescindido, acidentes e atrasos durante a gestão de Fábio Vaz na Secretaria de Educação (Seduc). Resultado: mais de 200 estudantes seguem estudando em estrutura precária, sob calor intenso, infiltrações e salas improvisadas.

Dentro da escola, a rotina é de resistência. Professores relatam salas abafadas, tomadas que não suportam ventiladores e goteiras que invadem os corredores. “Tudo funciona em dois cômodos: secretaria, direção, coordenação, biblioteca, até psicólogo. É impossível planejar ou dar aula com tranquilidade. Estamos no limite”, desabafou uma professora.

De acordo com os relatos ouvido pelo Jornal Opção Tocantins, as salas de aula enfrentam problemas sérios de ventilação porque a rede elétrica não suporta sequer a ligação de ventiladores. Segundo relataram professores, a orientação recebida é de que a troca da fiação só deve ocorrer junto com a retomada das obras, o que tem deixado alunos e docentes em situação de desconforto durante o calor. Nos períodos de chuva, o problema se agrava com as goteiras. Além disso, parte de um dos corredores está interditada com placas de madeira, o que dificulta a circulação de ar no prédio.

A reportagem também teve acesso a imagens e vídeos que revelam o abandono da estrutura escolar. Os registros mostram entulho e materiais de construção deixados de forma irregular, lixo acumulado, rachaduras no piso e o mato avançando sobre áreas internas. O cenário reforça a insatisfação da comunidade escolar, que convive diariamente com as consequências da obra inacabada.

Cronologia de uma novela

A tentativa de reforma começou em 2022, com licitação estimada em R$ 3,8 milhões. O processo naufragou porque as três empresas concorrentes foram inabilitadas. No ano seguinte, em 2023, veio a contratação da empresa Nanai Engenharia Ltda., por R$ 3,94 milhões. A promessa era de nove meses de execução. Não durou muito.

Em janeiro de 2024, o telhado do refeitório desabou e feriu três trabalhadores. As imagens circularam nas redes sociais e aumentaram a desconfiança da comunidade. Mesmo assim, o contrato foi prorrogado duas vezes. Em dezembro de 2024, relatório oficial mostrava apenas 43% de conclusão.

Este ano, o prazo venceu em abril e a vigência do contrato expirou em agosto. Nada de obra entregue.

Governo admite paralisia

Sob nova gestão, a Seduc confirmou, em nota, que a obra está parada desde janeiro de 2025, depois que a empresa responsável passou a ser alvo de notificações reiteradas. Em abril, o contrato foi encaminhado para rescisão unilateral. Até agora, foram pagos R$ 1,7 milhão, equivalentes a 43,34% do total previsto.

A pasta promete nova licitação “em até seis meses”, mas não fala em prazo para a retomada dos serviços nem para a conclusão do colégio.

Pressão e frustração

Na Assembleia, deputadas como Janad Valcari (PL) e Vanda Monteiro (UB) já cobraram providências. Até agora, sem resposta prática. Enquanto isso, alunos e professores convivem com o improviso. “Estamos dando aula na glória de Deus”, resumiu a professora.

“A escola que deveria ser símbolo de investimento em educação virou sinônimo de descaso”, relata uma moradora da cidade, que tem um filho matriculado na escola. Ela conta ainda que vários outros pais relatam prejuízos no aprendizado dos filhos, já que, segundo ela, é quase impossível a concentração dos estudantes no atual cenário.

Especial

A reportagem faz parte de um novo projeto do Jornal Opção Tocantis que irá buscar detalhes de obras paradas no Tocantins e o impacto delas na vida da população.

Nota da Seduc
Nota à Imprensa
Data: 25 de setembro de 2025

A Secretaria de Estado da Educação informa que as obras da Escola Estadual Anaídes Brito Miranda, em Santa Fé do Araguaia, estão paralisadas desde que a empresa responsável passou a ser alvo de notificações reiteradas, em janeiro de 2025. Em abril do mesmo ano, o processo foi encaminhado para os trâmites de rescisão unilateral do contrato.

Até o momento, o valor medido e executado no contrato original é de R$ 1.711.872,18, correspondendo a 43,34% de evolução da obra. Atualmente, encontra-se em fase de finalização a elaboração dos projetos e o levantamento dos custos necessários para a conclusão dos serviços remanescentes.

Concluída essa etapa, o processo será autuado e seguirá para a fase licitatória, estimada em até seis meses, conforme previsto na Lei nº 14.133/2021. Após a licitação, o cronograma prevê a emissão das peças orçamentárias, empenho, assinatura do contrato e, posteriormente, a ordem de serviço para a retomada dos trabalhos.

A Seduc reitera seu compromisso com a construção de uma educação de qualidade, da qual uma infraestrutura adequada é parte fundamental. Dessa forma, a Pasta não tem medido esforços para a retomada de obras paralisadas e reformas das unidades escolares, sempre garantindo a transparência e a lisura dos processos legais.