Nielton Soares dos Santos

O quinto Relatório Anual do Desmatamento no Brasil (RAD 2023), elaborado pelo MapBiomas e divulgado na terça-feira, 28, mostra um panorama alarmante sobre o Cerrado entre 2019 e 2023. No ano passado, impulsionado pela região conhecida como MATOPIBA (encontro dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), o desmatamento no Cerrado superou os registrados na Amazônia, quando uma área de 1,11 mil hectares foi devastada.

Para se ter ideia, nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu aproximadamente 8,56 milhões de hectares de vegetação nativa, com mais de 85% dessa perda ocorrendo na Amazônia e no Cerrado. Em 2023, o desmatamento no Brasil diminuiu 11,6%, totalizando 1,83 milhão de hectares.

Na Amazônia, houve uma redução de 62,2%, com 454,27 mil hectares desmatados. Em contraste, o Cerrado registrou um aumento de 67,7%, com 1,11 milhão de hectares desmatados, ultrapassando pela primeira vez a Amazônia. O Pantanal apresentou um aumento de 59,2% no desmatamento, enquanto a Caatinga teve um aumento de 43,4%. Por outro lado, a Mata Atlântica e o Pampa mostraram reduções significativas de 59,6% e 50,4%, respectivamente.

O relatório também avalia as ações de combate ao desmatamento realizadas pelos órgãos governamentais e pelo setor financeiro, destacando a necessidade de ações mais eficazes para responsabilizar os infratores e impedir benefícios econômicos oriundos de desmatamento ilegal.

Cabe ressaltar que o desmatamento legal ou ilegal é voltado para a conversação do solo e a substituição da vegetação nativa, na maioria das vezes por soja e, agora, com autorização do Congresso Nacional, para o cultivo de eucalipto, conhecido como “desertos verdes”. Pois, segundo especialistas, onde é cultivado vira deserto.

Neste contexto, surge uma indagação: a atividade chamada de agronegócio será mais um ciclo econômico? Como foi o da borracha, da cana-de-açúcar, do café e outros que um dia tiveram o seu fim. Assim, caso tenha o seu fim, um pouco diferente das outras atividades exploradas no Brasil como extrativismos ou commodities, a agropecuária deixará um rastro de devastação sem precedentes.

Urge a necessidade de pesquisas e estudos para a reutilização do solo, onde foram plantados, por exemplo, a soja, para se evitar o avanço sobre matas virgens, que lamentavelmente, são mais baratas do que as chamadas “terras nuas”. Pois é, a regra deveria ser conservar do que tentar recuperar depois o Cerrado, o que pode ser impossível na sua originalidade e biodiversidade.

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