*Henrique Araújo de S. Zukowski

Durante o período eleitoral, emergem salvadores que farão da Administração Pública uma instituição diferente. Espalham-se soluções simples para problemas complexos. Apontam-se gargalos sem que se indique como esses podem ser resolvidos. Diz-se o que for preciso para conquistar o valioso voto, mesmo que o dito não seja atribuição do cargo pretendido. Apresentam-se candidatos populistas, no sentido pejorativo do termo.

Os eleitores, por sua vez, como se estivessem magicamente encantados pela retórica, em sua maioria, exercem o sufrágio de forma irracional e, assim, definem a sua sorte. Os critérios de escolha, quase sempre, excluem os aspectos relacionados à capacidade técnica. Há, portanto, a primazia pela proximidade afetiva e pela confiança pessoal, sendo comum ouvirmos frases do tipo: “Votei em fulano, pois é um amigo da minha família.” Trata-se de uma forma de convívio ditada por uma ética de fundo emotivo que é espelhada na política.

Desse modo, é possível deduzir que ao processo eleitoral não é conferida a seriedade adequada. O sociólogo Sérgio Buarque de Holanda e o antropólogo Roberto DaMatta esclarecem que o descompromisso com aquilo que requer um certo grau de liturgia é uma marca cultural do nosso povo. O primeiro pensador chega a afirmar que o brasileiro possui “aversão ao ritualismo”.

Importa reconhecer que o jogo político possui contornos que, à primeira vista, podem parecer inacessíveis; todavia, é dever do cidadão compreendê-lo. A consciência acerca da relevância do voto e dos cargos em disputa, por parte do eleitorado, é fator fundamental para a mudança efetiva da conjuntura social.

Nesse sentido, a escolha do representante deve ser precedida de profunda análise e ponderação. O eleitor deve se convencer muito mais pelo plano de governo do que pelos discursos dos candidatos, principalmente se estes forem simplistas. De igual modo, a capacidade técnica deve sobrepor-se à confiança pessoal.

Por conseguinte, é imprescindível a mudança de mentalidade de eleitores e candidatos. Esses últimos devem se capacitar para o exercício do cargo objeto da disputa, enquanto os primeiros devem definir critérios de escolha assertivos.

Assim, caro eleitor, rogo para que não se deixe enganar por retóricas vagas e que sua decisão seja alicerçada na consciência de que seu voto pode mudar os rumos da sociedade brasileira.

*Especialista em Direito Eleitoral pela PUC Minas e pós-graduando em Gestão Pública e Sustentabilidade pela USP.