Eder Ahmad Charaf Eddine*

Toda desesperada, uma amiga, psicóloga, me pediu uma ideia de projeto de ação para o Janeiro Branco. Ao refletir sobre o assunto, uma pergunta surgiu: o que seria mais efetivo nessa data?

Dizem que a cor branca foi escolhida porque sempre desponta como uma das preferidas nas vestimentas das festas de virada. Ao optar por um look branco, você estará mais do que preparado para se despedir e agradecer pelo ano que passou, além de clamar por um ano novo repleto de realizações e felicidade. Outros afirmam que a cor simboliza paz. Debates apontaram que foram as religiões de matriz africana que fundaram a tradição. Acredito que as respostas são válidas e justificam emocionalmente o tom.

Instituído recentemente pela lei federal n. 14.556/2023, o Janeiro Branco deve buscar a conscientização da população sobre a promoção de hábitos e ambientes saudáveis e sobre a saúde mental.  Diante da tradição e, agora, da lei, todos os psicólogos se preparam para desenvolver campanhas que promovam, além da visibilidade, o aprofundamento das questões psicológicas.

Seria somente o mês de janeiro merecedor da visibilidade à saúde mental? Não. Mas o período se tornou importante por viabilizar o debate público.

No diálogo com a amiga, refletimos que as campanhas precisam focar mais na promoção de hábitos e ambientes saudáveis e não somente nos transtornos mentais. Baseada em análise, avaliação e modificação de comportamento, a Psicologia é a área que está preparada para dialogar sobre o bem-estar, abrangendo a saúde física, mental, social e emocional dos sujeitos, respeitando as culturas, refletindo sobre as diversidades e compreendendo os impactos do ambiente e da história.

A Psicologia é ciência e profissão unidas para auxiliar o humano em sua jornada única, sua vida. Tais definições podem ser criticadas por diversos profissionais, mas todos se unem para dizer uma coisa: a Psicologia é ciência.

Como ciência, então, a Psicologia possui métodos e técnicas que auxiliam a humanidade na compreensão dos próprios comportamentos, hoje, sabemos, comportamentos que estão relacionados intimamente com as emoções, os sentimentos, os pensamentos e o ambiente cultural e histórico. Tudo influencia na maneira que nos portamos no mundo.

Não é uma ciência simples, mas também não é difícil. O que é, então? Complexa – palavra que tem sido muito utilizada como desculpa para tudo. Mas, neste caso, é verdade: a Psicologia é complexa. Essa complexidade vem exatamente desse monte de relações que os psicólogos estabelecem ao olhar para alguém e enxergá-lo como humano, ou seja, como um sujeito complexo. Quando o analisamos, não estamos, me incluo como psicólogo aqui, somente atrás de um diagnóstico. Estamos buscando esse ser repleto de histórias.

Cultivar uma cultura para que o indivíduo se atente aos próprios sentimentos e emoções e olhe o que está discrepante da própria história pessoal é algo que leva tempo e muitas campanhas. Por isso, a importância de fomentar discursos sobre a saúde mental não somente em datas instituídas.

Não é frescura ou demérito falar das tristezas da vida, das desavenças com um conhecido, ou com um desconhecido na fila do supermercado. O ruim, e nada saudável, é segurar os sentimentos a ponto de adoecer física e psiquicamente. Importante destacar que essas campanhas não precisam estar atreladas somente a algum órgão público e/ou comunidade, as empresas podem fomentar e valorizar espaços que produzam e promovam a saúde mental.

Caso você, que lê esse texto, não se sinta confortável em falar dos próprios sentimentos ou não consiga se expressar, o profissional psicólogo é indicado também nesses casos.  Devidamente registrado em conselho, garantia da ética profissional, do sigilo e da qualidade, este profissional lhe ajudará a compreender que todos precisam de ajuda em algum momento da vida.

Promover a saúde mental a partir da construção de hábitos saudáveis é parte essencial da função do profissional psicólogo. Rotinas de saúde previnem os transtornos e nada melhor que um mês inteiro para pensarmos sobre isso.

Comentei com a minha amiga o quanto é bom termos um mês inteiro para falarmos sobre a nossa profissão. Discutimos sobre a possibilidade de ela realizar campanhas usando a Roda de Conversa, presencial e virtual, uma metodologia eficaz na construção de novos e na reflexão dos saberes já estabelecidos socialmente.

Os psicólogos podem falar com propriedade sobre Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade – TDAH, Transtorno do Espectro Autista – TEA, Transtornos  Depressivos, Transtornos de Ansiedade, Síndrome de Burnout, entre tantos assuntos do momento nas redes sociais. Mas não somente sobre transtornos, pois, saúde mental vai muito além das doenças.

Por falar em redes sociais, nesse meio virtual, informações ruins disputam com informações de qualidade, sem falar das fake news e afins. É importante redobrar a atenção ao que circula e, sempre, cruzar os dados com profissionais respeitados, blogueirinhos e não blogueirinhos. Pois, há profissionais que são respeitados no universo virtual, mas sem correspondência com o universo real e, nesses casos, também vale a máxima popular: “Nem tudo que circula é ouro!”.

De fato, a conversa amigável rendeu. Afinal de contas, um papo despretensioso, além de solidificar uma amizade saudável, pode animar projetos futuros.

À minha amiga, atenta ao papel social da Psicologia, aos demais amigos, profissionais da psicologia ou não, e a você que me lê, desejo muita saúde mental em 2025!

Psicólogo Eder Ahmad Charaf Eddine | Foto: Arquivo Pessoal

*Eder Ahmad Charaf Eddine. Psicólogo (CRP – 23/1465). Doutor em Psicologia e Educação (USP). Pós-Doutorado em Comunicação e Sociedade. Especialista em Terapias Cognitivo-Comportamentais e em Psicopedagogia. Professor e pesquisador no Curso de Jornalismo e no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Sociedade (UFT). Autor do livro finalista do Jabuti Acadêmico 2024 “Psicologia, Educação e Homossexualidade: o normal e o patológico em revistas científicas de 1970 e 1980”.