Por Redação

Entre os destaques da noite está o filme brasileiro Ainda Estou Aqui, produzido por Walter Salles, que concorre em três categorias

Não basta criar um candidato com um discurso genérico de “nem direita, nem esquerda” – é preciso um projeto real, conectado com as necessidades da população e capaz de unir um país fraturado

Por mais que o prejuízo não seja tão grande quanto previsto pelo “mercado”, existe custo para imagem do presidente; troca de governo parece iminente

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Eder Ahmad Charaf Eddine *
Recentemente, me deparei com uma notícia que me envolveu em emoções nada agradáveis. Não gosto de violência, mas, assim, veiculada diariamente em manchetes de jornais e em memes, acabo me acostumando a ela, mas não devia.
Quem: Um professor, deficiente visual. Ocorrido: espancado por três alunos adolescentes. Onde: ponto de ônibus à frente da instituição de ensino na qual trabalhava. Motivo: tentar impedir o uso do celular durante a aula.
O evento é curioso porque promove com o professor o “te pego lá fora”, eterno medo das crianças em idade escolar e, hoje, dos profissionais da educação. Vocalização corrente do bullying, a frase promete agressões futuras, principalmente contra gays, trans, nerds e até deficientes.
Não apresento soluções idealistas e irreais que jamais seriam implantadas, foco nos comentários sobre o caso em uma rede social. Das soluções apresentadas, algumas pediam a criação de mais escolas militares; outras, a expulsão dos envolvidos. Alguém também previu que o próximo passo dos adolescentes seria o espancamento público da diretora. A revolta se alastrou e gerou mais violência, com culpabilizações de partidos políticos e dos pais ou responsáveis pelos agressores.
O preparo para a Lei 15.100/2025, que dispõe sobre a proibição do uso de aparelhos eletroportáteis em ambientes escolares, com exceção das oportunidades didáticas promovidas e conduzidas por um professor, requer mais celeridade. A Lei é importante, prevê situações psicológicas e sociais. Contudo, existem soluções melhores do que “tomar e repreender verbalmente”. Todas as ações necessitam ser pensadas, discutidas e observadas. Notícias como essas só geram mais violência e sentimentos de impunidade.
O quadro de violência pode ser diminuído com o trabalho de profissionais psicólogos e assistentes sociais, mas esses necessitam de estrutura e, obviamente, de atuação baseada na ciência. A Lei é recente, a violência, não.
Outro dia, em uma entrevista, um jornalista me fez a seguinte pergunta: um único desejo? Respondi: Paz. Às gargalhadas, ele rebateu: Muito Miss!
Pareceu, mas não era ingenuidade. À época, eu estava lendo Comunicação Não Violenta, de Marshall Rosenberg. Ainda que eu possua críticas ao método e ao processo mercantilizador, o livro descortinou em mim as violências cotidianas que eu cometia e que cometiam comigo.
No princípio da Paz, se eu não for um pouco Poliana, como vou sobreviver diante do que estamos passando atualmente? O século 20 foi marcado por muitas atrocidades. Almejada e solicitada por alguns movimentos sociais das décadas de 1980 e 1990, a paz não foi alcançada.
Estamos enfrentando diversas guerras desde o início dos anos 2000. Caminhamos para barbáries, cada vez mais, impensáveis. Líderes de nações conduzem a vida pública da mesma forma que se utiliza um controle de videogame num jogo sangrento, de preferência. A compensação de tais disputas: mais popularidade, mortes e dinheiro. Tudo somado às violências cotidianas, as “sutis”, ampliadas pela pandemia.
A anestesia da violência é real, mas o choque provocado por essa notícia me afetou mais do que outras por conter três componentes que merecem atenção: a escola, a deficiência visual e os adolescentes. Ao motorista de ônibus que retirou o infeliz debaixo da horda furiosa, a esse homem que salvou um professor, o meu muito obrigado!

* Psicólogo (CRP - 23/1465), professor e pesquisador em Comunicação e Saúde Mental. Doutor em Educação, área Psicologia e Educação (USP). Possui especialização em Terapias Cognitivo-Comportamentais, em Psicopedagogia e em Educação e Sociedade. Orienta no Mestrado em Comunicação e Sociedade (PPGCom/UFT). Autor do livro finalista do Jabuti Acadêmico 2024 "Psicologia, Educação e Homossexualidades: o normal e o patológico em revistas científicas de 1970 e 1980".

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O motivo da troca é por conta de Padilha ser mais articulado politicamente além de ser deputado federal e ter muito trânsito no Congresso Nacional

A autora do livro “O Que os Psiquiatras Não Te Contam”, lançado em março pela editora Fósforo, Diniz desafia a visão reducionista que trata as doenças mentais como meros “mau funcionamentos do cérebro”. Para ela, a psiquiatria não pode se limitar à prescrição de medicamentos; é preciso olhar para o paciente como um ser complexo, influenciado por sua história, seu contexto e suas relações.
Formada pela Universidade de São Paulo (USP) e com especialização em pesquisa clínica pela Universidade de Harvard, Juliana questiona ideias amplamente difundidas, mas que, segundo ela, não resistem a uma análise mais aprofundada. Um exemplo é a crença de que a depressão seria causada por uma “falta de dopamina”. Embora esse neurotransmissor seja frequentemente associado ao desânimo, estudos mostram que a realidade é muito mais complexa.
A dopamina não está necessariamente em déficit em pacientes deprimidos, e seu aumento não é o único fator responsável pela melhora dos sintomas. “Há diferenças nos receptores de dopamina entre pessoas deprimidas e não deprimidas, mas isso não explica todos os casos”, explica a psiquiatra. Na verdade, a maioria dos pacientes não apresenta alterações significativas nesses receptores.

Para Juliana, a história de vida e o contexto social do paciente são elementos essenciais para compreender os transtornos psiquiátricos. Ela ressalta a importância da escuta atenta durante o tratamento, um processo que vai além do diagnóstico e tem um papel terapêutico insubstituível. “Essa escuta, que permite ao paciente entender melhor o contexto dos seus sintomas, é tão importante para o sucesso do tratamento quanto a medicação, se não for mais”, afirma.
Segundo ela, é por meio dessa conexão que se pode alcançar uma compreensão mais profunda do sofrimento humano. A escuta, nesse sentido, não é apenas uma ferramenta diagnóstica, mas um ato de acolhimento que ajuda o paciente a ressignificar suas experiências.
Além disso, a pesquisadora destaca como fatores sociais e ambientais podem moldar o funcionamento cerebral. Estudos em neurociências têm demonstrado que experiências como racismo, desigualdade social e privações deixam marcas profundas no cérebro, alterando sua estrutura e funcionamento.
“Se você não consegue ser uma pessoa paciente e tranquila porque viveu em um contexto muito difícil, não foi uma escolha sua ser instável. Seu cérebro não está funcionando errado; ele está funcionando do jeito que aquele contexto exigiu”, explica. Diniz defende que, para reduzir o sofrimento mental, é preciso cuidar dessas experiências traumáticas e criar condições sociais mais justas.
A psiquiatra também chama a atenção para o fato de que a medicalização excessiva pode mascarar problemas sociais e emocionais que exigem outras formas de intervenção. “A medicação é importante, mas não pode ser a única resposta. Precisamos olhar para o que está por trás dos sintomas: traumas, desigualdades, violências”, diz.
Ela cita, por exemplo, o caso de pacientes que vivem em situações de vulnerabilidade social e desenvolvem ansiedade ou depressão como resposta a um ambiente hostil. Nesses casos, o tratamento medicamentoso pode aliviar os sintomas, mas não resolve a causa raiz do problema.
Juliana Belo Diniz é uma voz fundamental em um campo que, muitas vezes, prioriza explicações biológicas simplistas. Seu trabalho convida a uma reflexão mais ampla sobre como entendemos e tratamos as doenças mentais, destacando a importância de considerar a complexidade humana em todas as suas dimensões. Sua abordagem reforça que a psiquiatria deve ser, acima de tudo, uma prática que escuta, compreende e acolhe.
Ao desafiar o paradigma dominante, Juliana não apenas amplia o debate sobre saúde mental, mas também propõe um novo olhar sobre o sofrimento humano. Seu livro e suas reflexões são um convite para repensarmos como lidamos com as doenças mentais, tanto no âmbito individual quanto no coletivo.
Afinal, como ela mesma afirma, “o cérebro não é uma ilha; ele é moldado pelas experiências que vivemos e pelo mundo que nos cerca”. E, se o contexto pode adoecer, ele também pode curar – desde que estejamos dispostos a olhar para ele com a atenção e o cuidado que ele merece.

Roberval Marco Rodrigues*
Nicolau Maquiavel, em sua obra O Príncipe, revolucionou a política ao afirmar que o sucesso de um governante depende de sua habilidade de compreender a realidade e agir com astúcia. Hoje, metadados e inteligência artificial (IA) emergem como ferramentas modernas que materializam essa visão, oferecendo precisão, objetividade e assertividade tanto na gestão pública quanto nas campanhas eleitorais. Assim como Maquiavel aconselhava os líderes a evitar o achismo e os bajuladores, essas tecnologias estão refundando a política, tornando-a mais estratégica e conectada às demandas da sociedade.
A virtude maquiavélica, que representa a capacidade de adaptação e eficiência, encontra nos dados um poderoso aliado. Essas ferramentas permitem que líderes analisem cenários complexos com clareza, identifiquem padrões sociais e antecipem as demandas da população. Na gestão pública, prefeitos podem usar algoritmos para planejar melhorias no trânsito com base em dados de deslocamento em tempo real. Governadores podem prever surtos de doenças por meio de análises preditivas, alocando recursos de forma mais eficiente antes que crises se agravem. Essa abordagem não apenas aumenta a eficácia das políticas públicas como também aproxima os gestores das necessidades reais dos cidadãos.
As campanhas eleitorais também foram profundamente transformadas pelo uso de metadados e IA. Hoje, essas ferramentas permitem segmentar eleitores com uma precisão impressionante: 97% das campanhas que utilizam essas tecnologias alcançam seus objetivos estratégicos sem margem de erro. Isso significa que as mensagens políticas podem ser direcionadas diretamente para grupos específicos do eleitorado, aumentando exponencialmente sua eficácia. A análise de dados comportamentais ajuda a identificar as prioridades de diferentes grupos demográficos, criando uma conexão mais significativa entre candidatos e eleitores.
Por fim, é importante lembrar que essas tecnologias são apenas meios para alcançar objetivos políticos – não substituem o julgamento humano nem dispensam valores éticos fundamentais. Assim como Maquiavel ensinava que "o príncipe deve agir conforme as circunstâncias", cabe aos líderes modernos usarem essas ferramentas com responsabilidade para fortalecer a democracia e promover o bem-estar coletivo. Metadados e IA não apenas combatem o achismo e a bajulação como também inauguram uma nova era na política: uma era onde decisões são informadas por precisão quase científica; campanhas se tornam mais conectadas às necessidades do eleitorado; e gestores públicos têm à disposição ferramentas poderosas para transformar a sociedade.
* Estrategista político e de Relações Institucionais e Governamentais (RIG).

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