Por Redação

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Saberes tradicionais
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Luto
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Esporte
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A competição, organizada pela Federação Internacional de Desporto Escolar, acontece entre os dias 17 e 27 de maio.

Aniversário
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Pleito
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Bastidores
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Educação
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Inteligência artificial ou o professor?

José Lauro Martins*

A presença das tecnologias digitais em todos os setores da sociedade não é novidade, não seria diferente na educação. Recentemente as inteligências artificiais generativas (IAs) inundam as discussões sobre os limites das tecnologias na educação. Virou um pesadelo para os professores: como fazer com o “dever de casa”, uma prática comum das escolas da educação básica. Lembramos que no passado o livro didático também foi muito criticado porque poderia substituir os professores, depois a mesma crítica foi para o computador e depois para Internet. Bem, isso não seria problema se já tivéssemos avançado o suficiente na atualização curricular. Até parece que a docência está sempre na corda bamba. Inclusive na última semana, foi divulgado que o Governador do Estado de São Paulo pretende contratar uma inteligência artificial para produzir as aulas…

Vamos entender melhor essa questão. O papel do professor mudou muito pouco desde o nascimento da escola formal. Era ele a fonte de informação quando não havia material didático. Ensinar era prioritariamente ditar e comentar os conteúdos para uma plateia silenciosa, esse modelo ainda é muito usado por meio das aulas expositivas.

A entrada em cena do livro didático parecia revolucionário, mas deixou de ser quando o livro que era para ser didático ganhou um interpretador: o próprio professor. A leitura, que era para ser uma parte importante das aprendizagens, é inibida com as aulas expositivas do professor. Ainda criticam que os alunos não lêem, ler prá que se o professor vai fazer um resumo?

As tarefas de casa era para ser uma etapa de pesquisa, mas em geral, deixou de ser quando o professor faz questionamentos sobre o que já está respondido no livro didático. Isso não é novidade a muito tempo. Antes nós chamávamos de pesquisa copiando parte das Enciclopédias como tarefa de casa. Veio a Internet e os alunos passaram a copiar da Internet, a pergunta é: qual a diferença entre copiar da Enciclopédia e da Internet? A minha resposta é simples: nenhuma! As duas são inúteis do ponto de vista da aprendizagem.

Agora as inteligências artificiais generativas apenas facilitam ainda mais para fazer os trabalhos que já tinham pouco valor e agora têm ainda menos força pedagógica. Em vez de procurar o que copiar na Internet ou no livro didático, o estudante faz a pergunta para uma IA, ela faz a busca e entrega prontinho! Qual o problema disso? Minha opinião: nenhum, simples assim. O problema nunca foi o livro didático, o computador, a Internet ou as IAs. O problema é o atraso metodológico da educação.
Para as pedagogias reprodutivistas, com as aulas copiadas pelos professores em escolas que se perderam no tempo, já deveriam ter sido substituídas pelo computador. Lembro: não confunda qualidade da educação com a qualidade dos equipamentos. Se for para decorar tabuada, tanto faz um carvão na parede ou gamificação (um joguinho inútil) das tabuadas. O que importa é aprender a usar a matemática para resolver as coisa da vida; nesse caso, nem sempre fazemos conta, o mais comum é o uso do raciocínio lógico para entender e responder às questões complexas.

O que parece para alguns ser o fim da docência, pode ser de fato a ressurreição. Então, IAs, sejam bem vindas! quem sabe assim passamos da fase na educação arcaica. A docência não pode ser confundida com um meio de distribuição de conteúdo, precisamos de uma docência conectada ao nosso tempo. Com mediadores das aprendizagens capazes de orientar o processo de aprendizagem, nossos jovens não precisam de tantos conteúdos, precisam de aprender a aprender e desenvolver a consciência crítica e ética perante a sociedade.

Imaginemos que o Enzo curioso vá para o CHAT GPT e pergunte: ‘onde fica o Golfo de Omã?’ E a resposta será essa:

“O Golfo de Omã é uma extensão do Mar Arábico localizada no noroeste do Oceano Índico, na região leste da Península Arábica. Ele é delimitado pelo Irã a noroeste, pelo Paquistão a nordeste, pelos Emirados Árabes Unidos a oeste e por Omã a sul. O Golfo de Omã é conhecido por suas águas azuis cristalinas e é uma importante rota de transporte marítimo, especialmente para o comércio de petróleo e gás natural da região do Golfo Pérsico.”

Entenda: para esta resposta não precisa do professor de geografia. O CHAT GPT faz com precisão. Agora imagine que a pergunta seja feita a um bom professor de geografia, em vez de responder, ele diga:’Porque a curiosidade’, Enzo. E o Enzo responde: ‘eu vi no Instagram que esse lugar é muito importante para a economia do mundo e se houver uma guerra com o Irã pode controlar a passagem de navios e pode dar muita confusão.’

O professor pode fechar o seu plano de aula e seguir a curiosidade do Enzo e dizer: Gente, vamos fazer o seguinte: quem tem aí o celular com internet pode encontrar a resposta prá nós. Em seguida, o professor pode orientar o debate e usar a Internet para identificar aonde ficam as reservas de petróleo, a importância do petróleo para aquela região e para o mundo. Além disso, pode observar as características de clima da região, os problemas históricos e assim por diante. Bem, para responder onde fica o Golfo de Omã realmente não precisa do professor geografia, mas se for para dar uma aula sobre tensão no Oriente Médio não há tecnologia melhor que um bom professor.

A questão é essa: a tecnologia não é nem o problema nem a solução da educação. Toda tecnologia pode ser bem vinda para uma escola preparada com um currículo adequado e bons professores. Por outro lado, nenhuma tecnologia nem os melhores professores fazem milagre quando a escola e o currículo refletem um passado muito distante das necessidades da sociedade contemporânea. Quem pode resolver isso, não é o professor na antiga sala de aula, nem o diretor que não tem poder algum, é a gestão do sistema escolar. Mas isso é uma conversa que vai ficar para outra hora!

* Filósofo, doutor em educação, professor no Curso de Jornalismo e no Programa de Mestrado de Ensino em Ciências e Saúde da Universidade Federal do Tocantins.

Tensões e resistência: o movimento grevista no funcionalismo federal

Reginaldo S. Fernandes*

Em meio às tensões entre o governo do presidente Lula e o funcionalismo público, servidores da rede federal de ensino, que tiveram sua maior adesão em 15 de abril de 2024, deflagraram uma greve geral. A paralisação envolve servidores administrativos e professores da maioria das instituições de ensino da União – escolas, institutos e universidades federais. As demandas incluem reajuste para o ano de 2024 e recuperação de perdas salariais. Enquanto as greves avançam, o governo Lula negou qualquer possibilidade de aumento neste ano, afirmando: "O Orçamento está fechado".

Outros servidores da rede federal de ensino já estão em greve. Os professores aderiram à greve geral, juntando-se aos servidores administrativos, que estão em paralisação desde 11 de março, liderados pela Fasubra. Os professores e técnicos de colégios e institutos federais, representados pelo Sinasefe, decretaram greve desde o dia 03 de abril de 2024, afetando as escolas e institutos federais.

Além do reajuste, os servidores da Educação demandam reestruturação dos planos de carreira, mais investimentos nas instituições e realização de concursos para contratação de mais trabalhadores.

Após seis anos sem reajuste salarial e sem greves (a última ocorreu em 2015), o governo federal concedeu aumento de 9% em 2023 para todo o funcionalismo federal e reajustou o Auxílio-Alimentação de 458 para 658 reais. Além disso, retomou as mesas de negociação com o funcionalismo federal, aumentando o número de bolsas e reajustando seus valores, impactando positivamente nas condições de trabalho dos docentes. Houve também expansão do número e dos valores das bolsas para os estudantes, com reajuste de 200% para bolsas de Iniciação Científica, por exemplo.

A situação salarial dos servidores públicos federais apresenta diversos aspectos a serem considerados. Primeiramente, é importante ressaltar que as negociações anteriores resultaram em correções parciais das perdas salariais. Porém, há disparidades nos acordos, com algumas categorias tendo ajustes por apenas dois anos e outras por quatro anos, o que demanda uma solução na negociação atual. Entre 2019 e 2022, houve congelamento salarial, o que agravou as perdas acumuladas. Embora tenha sido concedido um reajuste emergencial de 9% no início de 2023, é preciso considerar que a inflação ainda tem impacto nos anos seguintes, conforme indicado pelo Relatório Focus de 23/06/23.

Diante desse cenário, é reivindicado o reajuste salarial com base na variação do IPCA, considerando o período de 1º de julho de 2010 a 30 de junho de 2023, que totaliza 114,08%. Esse ajuste garantirá a reposição das perdas inflacionárias e a valorização dos servidores públicos.

Para além da reposição, embora necessário, o movimento de greve no funcionalismo federal se caracteriza como espaços de resistência às forças neoliberais do mercado, que exercem pressão sobre o governo Lula, historicamente ligado aos setores populares e democráticos. As greves não são apenas sobre reparação salarial, mas também sobre a proteção dos direitos trabalhistas conquistados e a defesa dos serviços públicos contra a lógica privatizante e de desmonte. Elas representam uma voz contra as políticas de austeridade que visam precarizar ainda mais as condições de trabalho e vida dos servidores públicos, e ao mesmo tempo, fortalecem o embate contra a submissão do governo às exigências do mercado. Nesse sentido, as greves no funcionalismo federal são uma expressão da resistência popular, que busca manter vivo o projeto de um Estado voltado para o bem-estar social e a garantia de direitos para todos.

Não por acaso, a correlação de forças na política nacional favorece os oportunistas da extrema direita, que são anti-ciência e contra as universidades públicas. Nenhuma greve do funcionalismo federal nos quatro anos do governo Bolsonaro e uma greve atual (mesmo com a disposição do governo em negociar) sinalizam o quê para a opinião pública? Que efeitos isso terá nas disputas políticas e eleitorais, especialmente este ano? Será que fortalecerá ou enfraquecerá o campo que luta por um sistema público, gratuito e de qualidade no ensino superior no Brasil?

Nessa seara, o governo Lula se encontra em meio ao fogo cruzado com um legislativo conservador e o mercado capitalista, que o encurrala contra a parede a cada queda de popularidade. Não se trata apenas das declarações do presidente sobre a greve do funcionalismo ou das condições impostas nas negociações. O possível erro político mais grave parece ser a falta de compreensão de que o sucesso político-eleitoral vai além da agenda neoliberal. A estratégia de governos anteriores, como a de Lula, não pode ser repetida, especialmente agora, com uma base de eleitores mais radicalizados à direita. É necessário construir políticas de bem-estar social, incluindo na educação, para ampliar o apoio e garantir defesa contra ataques. O segundo governo Dilma poderia servir de exemplo para o presidente e seus ministros.

No momento em que escrevo este artigo, a União Nacional do Estudantes (UNE) endossa o apoio ao movimento grevista na educação federal. Uma nota conjunta foi emitida expressando solidariedade e apoio aos servidores administrativos e docentes das instituições federais de ensino, que entraram em greve em busca de reajuste salarial e reestruturação dos planos de carreira. Destaca-se na nota que o direito à greve é legítimo e assegurado pela Constituição. Portanto, é importante que o governo Lula, eleito pelo campo democrático, avance nas negociações em direção a uma proposta que garanta a valorização desses trabalhadores.

É importante que o governo Lula demonstre à sociedade um projeto que coloque as universidades brasileiras no centro do processo de reconstrução nacional. Isso requer um financiamento adequado para que as instituições possam cumprir seu papel na formação dos cidadãos. Posicionar-se contra a centralidade da política do Déficit Zero e do Arcabouço Fiscal é crucial, assim como reconhecer que a necessidade de investimento público em educação, saúde, ciência, tecnologia e outras áreas sociais não deve depender exclusivamente do aumento de receita da União. É necessário considerar a defasagem orçamentária histórica do Brasil. Para isso, é fundamental que sejam adotadas medidas que garantam uma distribuição mais equitativa dos recursos, priorizando o investimento em áreas estratégicas para o desenvolvimento do país e o bem-estar da população.

* Historiador e mestre em Cultura e Território pela Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT).