Tocantins lidera emissões de CO2 no Cerrado, com 39 milhões de toneladas, diz Ipam
18 setembro 2024 às 09h53
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O desmatamento no Cerrado, entre janeiro de 2023 e julho de 2024, resultou na emissão de mais de 135 milhões de toneladas de CO2, o que equivale a 1,5 vezes as emissões anuais da indústria brasileira. Esse levantamento, realizado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e divulgado nesta quarta-feira, 18, utilizou o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado (SAD Cerrado), que monitora a derrubada de vegetação por meio de satélites. A maior parte das emissões ocorreu em áreas de vegetação savânica, que compõem 62% do bioma, responsáveis por 65% das emissões de CO2.
A região de Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) foi identificada como a principal área de desmatamento no período, responsável pela emissão de 108 milhões de toneladas de CO2, o que representa 80% do total emitido no Cerrado. Tocantins liderou esse processo com mais de 39 milhões de toneladas emitidas, seguido pelo Maranhão (35 milhões), Bahia (24 milhões) e Piauí (11 milhões). A destruição dessa vegetação impacta diretamente o bioma, que já sofre com a pressão do avanço agrícola e as queimadas.
Além de Matopiba, outros estados que compõem o bioma Cerrado também contribuíram com as emissões: Minas Gerais (6,9 milhões de toneladas), Mato Grosso (6 milhões), Goiás (5,7 milhões) e Mato Grosso do Sul (3,2 milhões). O levantamento revelou que o desmatamento no Cerrado não só afeta a biodiversidade local, mas também intensifica as mudanças climáticas, com impactos globais significativos.
“Mais de 60% da vegetação remanescente do Cerrado está dentro de áreas privadas e, pelo Código Florestal, essas propriedades podem legalmente desmatar até 80% da vegetação nativa em seus terrenos. É um cenário sensível para a proteção do bioma, que expõe a lacuna de políticas de incentivo para evitar o desmatamento, ainda que legal, e demanda também, mais fiscalização para averiguar o desmate ilegal”, avalia Fernanda Ribeiro, pesquisadora do IPAM responsável pelo SAD Cerrado.
As formações campestres, que ocupam 6% de toda a área de vegetação remanescente do Cerrado, concentraram 7% do total de emissões, impulsionado pelo desmatamento detectado no Maranhão. O desmatamento em florestas, segunda formação mais rara no Cerrado, foi responsável por 27% das emissões.
“O Cerrado armazena carbono principalmente abaixo do solo. Além de ser um bioma com diversidade única. Conservar o Cerrado é essencial para combater a crise climática no Brasil, sendo um bioma chave para segurança hídrica, alimentar e econômica. Para isso, é preciso de incentivos para conservar, enquanto é tempo, os remanescentes de vegetação nativa em áreas privadas para além do código florestal – antes que estas ‘ilhas de Cerrado nativo’ sejam convertidas ou degradadas”, complementa a pesquisadora.
SAD Cerrado
O Sistema de Alertas de Desmatamento – SAD Cerrado é um sistema de monitoramento mensal que detecta alertas de desmatamento em todo bioma Cerrado. O sistema utiliza técnicas avançadas de processamento das imagens do satélite Sentinel-2 MSI para gerar dados mensais de desmatamento em alta resolução espacial (10 metros). O método utilizada detecta os alertas de supressão de vegetação nativa de forma semi-automática para todo o bioma, e os dados finais são publicados em formato tabular (csv), vetorial (shp) e matricial (raster) de forma aberta e gratuita.
Bacias hidrográficas
Em 2023, 81% do desmatamento no Cerrado se concentrou nas regiões abastecidas pelas bacias hidrográficas do Alto Tocantins, São Francisco Médio, Alto Parnaíba, Itapecuru e Araguaia, potencialmente elevando o risco hídrico de 373 municípios na região.
Conhecido como a caixa d’água do Brasil por abrigar oito das doze principais regiões hidrográficas brasileiras, o Cerrado tem reduzido sua capacidade de absorção e retenção de água por conta da perda de vegetação nativa. As altas taxas de desmatamento nessas áreas podem causar diversos impactos negativos nos recursos hídricos, como o rebaixamento dos lençóis freáticos e o aumento do risco de escassez de água.