A surpreendente marca de um deputado iniciante: a incoerência

26 abril 2024 às 16h24

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O processo político traz surpresas todos os dias e, quando menos se espera, lá vem mais um novo capítulo inovador. Esses acontecimentos desmistificam tudo que, até então, não era permitido ou “jamais” aconteceria. Eleito pelo partido Republicanos em 2022, o ilustre desconhecido do grande público tocantinense, Alexandre Guimarães, foi alçado ao cargo de deputado federal. Natural de Araguaína-TO, mas radicado no Estado do Pará, o agora parlamentar já havia sido presidente de entidades classistas do comércio e, também, dos produtores rurais em Novo Repartimento-PA. Ele exerceu, ainda, o cargo de vice-prefeito da cidade na gestão de 2017 a 2020. Em abril de 2019, no entanto, renunciou ao cargo, sem expor, no entanto, os reais motivos da sua decisão.
Ao final do primeiro ano de mandado (2023), após a divulgação do ranking dos políticos, o parlamentar foi considerado o pior dos 11 tocantinenses, com míseros 2,94 pontos. Se considerada a média nacional, Guimarães ocupou outra péssima posição, a 493 dentre os 566. Em contrapartida, quando o enfoque foram os gastos com despesas parlamentares, o deputado foi campeão. Segundo o portal da transparência da Câmara dos Deputados, Guimarães gastou a bagatela de meio milhão de reais a este título durante o ano de 2023.
Troca de partido, sem perda de mandato, foi articulada por “caciques” nacionais
Uma vez eleito deputado federal pelo Tocantins, naturalmente ele estava ciente que a legislação eleitoral proibia a troca de agremiação partidária sem robustas justificativas, sob pena de perder o mandato. Mas seu estreito contato com o governador do Pará, Hélder Barbalho (MDB), facilitou a “transgressão à regra”. Numa manobra que envolveu o presidente da sigla, o deputado federal Baleia Rossi (MDB-SP), entre outros gestores do Republicanos, incluso o presidente nacional Marcos Pereira, o deputado federal tocantinense, Alexandre Guimarães, deixou o partido pelo qual se elegeu para se filiar ao MDB. Tudo de forma amigável, ou seja, sem perder o mandato. Tal troca de sigla – após a concordância de todos envolvidos – foi referendada pelo ministro Raul Araújo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Por consequência lógica, a bancada emedebista no Congresso aumentou. O seu “padrinho” político, Barbalho, comemorou a “vitória” partidária na Câmara dos Deputados. Em discursos, ele classificou Guimarães como um grande “parceiro”, chegando a mencionar que o Pará – após sua eleição em 2022 – passava a contar com o “18º deputado federal”, pois apesar de Alexandre ter sido eleito pelo Tocantins, existiam inúmeros laços que o vinculava aos interesses do estado paraense.

Mas as surpresas não pararam por aí. A articulação política não envolveu apenas sua saída incólume do Republicanos, mas também, sua assunção a presidência do MDB no Estado do Tocantins. Ele assumirá o partido, em breve, em substituição ao ex-governador Marcelo Miranda, atualmente sem mandato. Após a impiedosa gafe da última eleição, o velho líder encontra-se no ostracismo político.
A cada manifestação, uma nova surpresa; em cada decisão, uma dose de contradição
Apesar do histórico ser longo, fruto das ocorrências inesperadas até aqui descritas, o neófito deputado federal, surpreende – ainda mais (!) – ao revelar suas posições políticas. E o pior: quando se encontra na eminência de assumir um tradicional partido do Tocantins, em plena efervescência do ano eleitoral.
Em Araguaína, sua base eleitoral nas eleições de 2022, o novo presidente regional do MDB jogou no lixo a gratidão pelo partido que o levou a Câmara Federal – o Republicanos. Declarou apoio ao adversário da sigla na cidade, o prefeito Wagner Rodrigues (UB), em detrimento ao candidato Jorge Frederico (REPU), que foi solenemente ignorado. Fez isso como se não houvesse vínculos entre ambos ou não tivessem sido eleitos pela mesma sigla partidária no último pleito. Se isso não for uma espécie de “infidelidade partidária”, então a classificação desse termo está desatualizada.
Um extenso relato de tantas intercorrências não poderia ficar sem a última delas – para não adentrar em detalhes de outras de menor relevância – havidas pelo Tocantins afora. Em Paraíso, uma das únicas cidades que o MDB tem condições de ganhar a eleição “com o pé nas costas”, Guimarães não apoia o atual prefeito filiado ao seu novo partido, Celso Morais. Enfatizou que respeita a decisão do ex-presidente da sigla, Marcelo Miranda, de lhe garantir a candidatura, mas que prefere apoiar o adversário: Osires Damaso. Adivinhe, caro leitor, a qual partido Damaso está filiado? Acertou quem disse Republicanos!
A validação de pensamentos tão antagônicos – para citar apenas esses dois exemplos – seria incoerente, para não dizer discrepante. Inadmissível para um gestor partidário que foi “recrutado” pelo emedebismo para agregar e juntar “cacos” e forças. O partido, que já teve tanta relevância em solo tocantinense em outros tempos, atualmente se apequena ante às condutas nada “republicanas” do seu novo líder. O “fundo do poço” é logo ali, caríssimos “modebas”!