O mecanismo da chantagem na maior democracia do mundo

24 janeiro 2025 às 08h21

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Menos de uma semana dentro do segundo governo Donald Trump, um mecanismo vastamente utilizado, e legal, dentro do sistema de governo dos Estados Unidos já foi utilizado: a chantagem. Com indicações que podem ser definidas como confusas de pessoas inexperientes e incapacitadas para cargos de chefia em seu governo, Trump já enfrenta problemas para aprovar seus indicados no Senado Americano, o que é praxe.
Pete Hegseth, por exemplo, é indicado por Trump para comandar a Defesa e, com isso, o maior exército do mundo. O comentarista da Fox News é veterano da Guarda Nacional mas, fora isso, não tem qualquer experiência ou qualificação para chefiar o Pentágono.
Para muitos, inclusive dentro do Senado, Hegseth é um nome inviável para um Ministério tão importante. Não apenas Democratas, mas certos Republicanos, querem rejeitar a indicação de Trump. Porém, como o partido do presidente tem maioria dentro da Casa, a chantagem passou a ser utilizada para garantir a aprovação.
Elon Musk, o homem mais rico do mundo, também é indicado de Trump para o Departamento de Eficiência Governamental. Pelo visto, o presidente quer que Musk faça com os Estados Unidos o que ele fez com o Twitter, terminar de destruí-lo. Musk, no entanto, já usa de seu poder econômico, que é o que realmente gere a política do país, para ameaçar senadores.
O bilionário entrou em contato com senadores Republicanos para que eles garantam as indicações de Trump na casa sob uma simples ameaça: a de expulsão. Mas como se pode fazer isso? Simples, com financiamento milionário de campanhas de congressistas rivais nas próximas eleições parlamentares.
A ação de Musk mostra quem realmente detém o poder dentro do país mais rico do mundo. Isso evidência, também, que o poder capital no sistema econômico vigente é muito maior que o poder político e a vontade de milhões de pessoas.
Outro ponto que deve ficar evidente é a manipulação que esse poder oferece. Falando não só de Musk, mas de Mark Zuckerberg, que também estava na posse de Trump e é dono da Meta, que por sua vez tem em seu guarda chuvas de posses o Facebook, Instagram e WhatsApp.
Desde que Zuckerberg passou a figurar ao lado de Trump, suas redes sociais passaram a empurrar uma agenda de extrema-direita, como foi feito no próprio Twitter (que me recuso a chamar de ‘X’). Essa manipulação de conteúdo ficou ainda mais evidente nos últimos dias quando milhares de perfis passaram a seguir o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D Vance, mesmo sem saber. Personalidades, inclusive o ator Paulo Gustavo, que morreu em 2020, agora seguem Vance.
No Brasil, temos, a exemplo, o vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre a ação do governo federal de incluir alguns tipos de instituições financeiras no leque de quem precisaria informar à Receita Federal gastos. O vídeo de Nikolas, impulsionado por esses algoritmos, passou de 300 milhões de visualizações e fez a fraca comunicação do governo Lula pedir para que se recuasse da medida.
A “democracia” bipartidária dos EUA tende a se enfraquecer cada vez mais para fortalecer os interesses de quem realmente detém o poder. Bilionários acabarão ficando mais ricos, e defendendo seus interesses, enquanto a grande maioria da população trabalha apenas para pagar as contas.