Carlos Enrique Franco Amastha é colombiano de Barranquilla, naturalizado brasileiro desde 1990 e radicado em Palmas desde 2007. Empresário no ramo de educação a distância e de shopping centers, elegeu-se prefeito de Palmas em 2012 pelo PP, com 49,6% dos votos. Foi reeleito em 2016, já pelo PSB, após conquistar 52,3% dos votos válidos. Disputou o governo do Tocantins nas eleições ocorridas em 2018, tanto a suplementar quanto a ordinária, entretanto, não obteve êxito. Em 2022, disputou uma cadeira no senado federal, pelo PSB, obtendo 100.649 votos, insuficientes, no entanto, para sua eleição. Em 2024, planeja disputar – novamente – a Prefeitura de Palmas, declarando-se, desde já, pré-candidato.

Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, Carlos Amastha fala sobre o seu legado político, apresenta ideias e projetos e soluções que pretende implantar, caso seja eleito.

Iniciando nosso papo com o assunto em efervescência, a janela partidária. Como é que é que o Sr. – presidente regional do PSB – está articulando essa janela para conseguir formar boa base de vereadores? Não é difícil pensar que o Sr. pensa nisso, visto que não correr dissabores como a “pauta trancada” seis meses, durante a sua gestão, não é mesmo?

Se a pessoa não tem certeza de qual é o seu time, isso nos prejudica. Por isso, deixamos livres para fazerem o que quiserem. Na minha opinião, fomos democráticos

Vamos lá: por um lado, por determinação da nacional, a gente antecipou que quem quiser sair, pode ficar absolutamente à vontade, entregaremos a carta de anuência. A gente tem apenas trinta e cinco dias para definir e essas indecisões são, definitivamente, muito ruins. Não estamos em federação e vamos montar chapa pura. Algumas pessoas do nosso grupo estavam conversando previamente com outras siglas, como o PSDB, PL, e o PT. Então, se a pessoa não tem certeza de qual é o seu time, isso nos prejudica. Por isso, deixamos livres para fazerem o que quiserem. Na minha opinião, fomos democráticos.

Sim, compreendo! O partido tem dois vereadores de mandato e um suplente atuante. Isso inibe outros pré-candidatos de se filiarem?

Tentamos hoje mostrar que os detentores de mandato não prejudicam com a “não barreira”. A discussão é ambígua. Porque seria lógico que o puxador de votos terminasse trazendo coeficiente, etc., mas na prática não é verdade. A gente vai falar com as pessoas, essas lideranças que estão surgindo, elas sonham em participar de uma chapa que não tenha vereadores de mandato, ou que tenha, no máximo, um de mandato.

Particularmente, creio que a chapa com vários detentores de mandato é melhor, né? Todos viram o que aconteceu na eleição do Wanderlei. Naquele “chapão”, terminou elegendo a maioria e mais: aqueles que detinham mandato. Os parlamentares são eleitos onde tem chapa majoritária forte. Quem que vai eleger vereadores? Com certeza quem estiver aliados com a Janad, Amastha, Eduardo e o Geo. Sem majoritária de peso, é difícil chegar lá.

Nesse mesmo contexto entra o Epitácio Brandão Filho, o Picó, e o Gerson “Mil Coisas” também?

O Gerson disputou, naquela época, a eleição pelo PSL e depois por outros partidos. Depois não disputou, mas colocou o nome com a gente para federal em 2022 e agora se desfiliou do PSB. Então, ele não se encaixa no contexto porque ele podia sair quando quisesse, já que não era suplente de nada. É completamente diferente a situação do Picó, que tem mandato de suplente de vereador e que o partido fez gestão para que ele assumisse duas vezes. Dessa última vez foi dificílimo, porque a Assembleia impôs condições absurdas para o que Brasão assumisse. Mesmo assim, recorremos à justiça e conseguimos dar posse a ambos, uma vitória do PSB.
É preciso refletir nessa loucura que é o Brasil, com trinta e tantos partidos. Num dia, um cidadão se diz comunista, noutro se diz patriota, né? Acaba se deixando levar pelo canto da sereia e, infelizmente, isso não ocorre apenas no Tocantins, mas em todo Brasil.

Dentro desse mesmo contexto, para gente encerrar essa questão do grupo político, o deputado estadual do seu partido, Moisemar Marinho, tem demonstrado muita afinidade e até uma certa simpatia por outras pré-candidaturas a prefeito. Qual é a verdadeira história? É apenas política de boa vizinhança?

Nunca orientamos nenhum dos nossos filiados fazer uma oposição sistêmica aos governos, tanto municipal, quanto estadual. Portanto, não considero isso oposição, porque tudo que for bom nossos aliados têm que votar junto. Quando estamos falando das questões partidárias ou dos processos eleitorais, a gente precisa de total fidelidade.

O Moisemar, por exemplo, tem apoiado o governo do Wanderlei e não há problemas nisso, entretanto, na eleição municipal, o partido dele terá candidato a prefeito e ele terá que estar junto. Não há discussões quanto a isso. É obrigação dele ele estar na luta do partido, porque a eleição dele para deputado estadual foi feita por todos nós. O investimento foi gigantesco para ele ser eleito. Seria insanidade dele, não ficar conosco. Além do mais, ele tem uma perspectiva brilhante de ser nosso candidato a federal em 2026.

Quando estamos falando das questões partidárias ou dos processos eleitorais, a gente precisa de total fidelidade

Falando da candidatura propriamente dita, porque o Sr. quer ser prefeito de Palmas novamente?

Quando assumi em 2013, a coisa que mais nos preocupava era fazer um planejamento estratégico para os próximos cinquenta anos. Isso já está pronto, nós temos documentos trabalhado a várias mãos, com o BID, com a Caixa Econômica Federal, com o Governo Federal e com a Microsoft com os maiores players nacionais e mundiais, para fazermos juntos o projeto da cidade para cinquenta anos.

Eu não tenho nada para falar da prefeita. Nada. Eu tenho apenas mágoa, né? Porque esse projeto foi entregue em mãos. Não que ele não tenha feito nada, fez muita coisa, mas nada dentro daquele planejamento. Tratando-se da parte de infraestrutura, grande parte foi executado pela atual prefeita. Os recursos que a gente deixou, ela não perdeu. A gente tinha um cronograma de execução que, obviamente, foi postergado.

Estou falando de outros projetos estratégicos, como distrito turístico, como a nossa nova orla, projetos de futuro. Por incrível que pareça e doloroso que seja, é absolutamente normal no Brasil. Parece que querem apagar a história do antecessor.

Para esse mesmo eleitor e eleitora que vão ler esta entrevista, aquele questionamento permanece: a gente elege o Amastha agora em 2024 e em 2026 ele vai vir com um papo de quer ser governador, vai renunciar e deixar tudo…

Jamais faria isso, como não fiz anteriormente. Eu renunciei no segundo mandato. Em 2026, eu não tenho nenhuma pretensão a nível estadual.

Então, quatro anos de mandato de prefeito está certo?

Absolutamente certo. Seria uma traição a minha história e à cidade.

O Sr. é um conhecedor do município, procura soluções e vai atrás de recursos para implementar. Quais são os três gargalos que a cidade enfrenta na sua visão?

É uma questão de gestão e não de política. Não interessa quem será o governador, o que eu não posso é abrir mão dos direitos da cidade.

Futuro, futuro e futuro. Vou te responder por que. Como fazer a melhor saúde brasileira? Já fiz. Como fazer a melhor educação de todas as capitais brasileiras. Vou te responder o quê? Já fiz também, né? É essa fórmula dos melhores serviços para cidade, isso para mim é tranquilo, isso a gente recompõe rapidamente.

A minha projeção é a Palmas do futuro. Estamos falando em mobilidade urbana, claro, mas estamos falando também de veículos elétricos. Uma obsessão que eu já tive foi com a questão da conta à energia. Agora estou muito focado em levar a energia solar para as camadas mais populares. Derrubar essa conta energia alta. E eu sei como fazer.

O custo da água e esgoto, por exemplo, é absurda a tarifa que a gente paga. Acredito que é possível reverter porque a gente já deixou criada a Agência Reguladora de Palmas, só falta exigir que o Governo estadual nos devolva o direito de discutir a nossa tarifa e tirar essa história do subsídio cruzado.

É uma questão de gestão e não de política. Não interessa quem será o governador, o que eu não posso é abrir mão dos direitos da cidade.

Qual é a solução para o transporte coletivo da capital? Manter como está no momento – administrado pela Prefeitura – ou voltar a fazer a concessão?

Para ter uma mobilidade de excelência, tem que ter dinheiro público, para complementar o prejuízo que o concessionário vai ter

Vou ter que responder novamente: eu já fiz né? Eu peguei a frota mais velha que a gente tinha dentre todas as capitais. E eu entreguei para prefeita a frota mais nova. 80% com ar-condicionado e 100% de acessibilidade. Ficou claro que isso é uma obrigação. Quando a gente começou a colocar ar-condicionado, tinha um ônibus com ar-condicionado da antiga prefeita Nilmar, lembra? Minha gente, quem que anda nessa cidade sem ar-condicionado? Agora eu já coloquei na cabeça do palmense que isso é uma obrigação.

E onde aponto o erro que a prefeita tomou? Essa história é monopólio, isso é falácia, não é verdade, porque o transporte público não é licitação, para ver quem que dá o melhor preço. Trata-se de uma concessão, quem controla a tarifa e quem controla tudo é a Prefeitura. Ora, em 2013, a gente não tinha a mínima condição de subsidiar o transporte público. Nós tínhamos um orçamento de R$ 700 milhões. Hoje, é de R$ 2,3 bilhões.

Então, para ter uma mobilidade de excelência, tem que ter dinheiro público, para complementar o prejuízo que o concessionário vai ter. Para a operação dar certo tem que ter um concessionário, não há dúvidas. O problema não é comprar ônibus novo, mas sim que a prefeitura tem que contratar motorista, tem que comprar peças, pneus e a Prefeitura não pode comprar sem licitação. Aí o ônibus vai ficar parado. Você sabe o que termina acontecendo? Preciso nem falar, né? Não vai dar certo. Impossível.

Tínhamos um Conselho, composto por Defensoria e Ministério Público, estudantes, terceira idade, todo mundo entrava na discussão. E resolvia. Todos opinavam e decidiam. Mobilidade é um direito fundamental, segundo a constituição de 1988.

O Sr. precisa esclarecer como vai proceder em relação ao estacionamento e a área azul. Vai voltar a implantar para resolver a falta de vagas?

Se eu posso te falar uma coisa, eu reconheço que eu errei, pois foi a falta de diálogo da minha parte

Estacionamento rotativo me lembra uma frase americana: “No park, no business”. Se não tem estacionamento, não tem negócio. Correto? O problema é que os funcionários ocupam as vagas. Os comerciantes tentavam organizar isso, mas não conseguiam.

Se eu posso te falar uma coisa, eu reconheço que eu errei, pois foi a falta de diálogo da minha parte. Eu vim na iniciativa privada, venho da área do comércio. Eu sei o que estou fazendo. Mas na ânsia de resolver, não fiz a discussão que eu deveria fazer. O objetivo não era arrecadar, o objetivo era criar vaga para o cliente. Tentei fazer uma imposição que acabou não dando certo.
Penso em implantar a área azul novamente, só que, insisto, com diálogo, discutindo com os comerciantes o quê eles querem, porque os bolsões de estacionamento foram feitos para ele. Então, se os comerciantes chegarem na conclusão de que é necessário, implantaremos. Caso contrário, então a gente não faz.

Essa é a diferença do Amastha 2024. Eu sei o quê pode dar certo, mas eu vou fazer se o maior beneficiado não quer? Não tem porque insistir. Não vou comprar briga perdida. Ou fazemos porque interessa a todos ou não fazemos. Agora a pergunta para o consumidor: ele se incomodava de pagar um ou dois reais e chegar e encontrar uma vaga? Lógico que não…

A última pergunta: qual será o papel do Tiago Andrino na campanha de 2024? Onde é que ele vai entrar nisso?

O papel do Tiago será o mesmo que ele exerceu em 2012. Essa eleição é um pleito municipal. Ele poderia ser candidato a vereador novamente, mas penso que é muito melhor que o Tiago ajude na coordenação em 2024.

Em nome da Jornal Opção Tocantins, agradeço-lhe pela sua entrevista.

Estou sempre aberto aos debates e temas correlatos a administração de Palmas, pois foi a cidade que eu escolhi para viver. Obrigado.