Ivory de Lira é o único agente político que foi vereador na capital provisória, Miracema, e na capital definitiva, Palmas. Protagonista de uma rica carreira política no Tocantins, elegeu-se vereador em Palmas por quatro mandatos consecutivos entre 1997 e 2012 e foi presidente da Câmara no seu último biênio, além de presidir a União dos Vereadores do Tocantins entre 1999 e 2000. A eleição de 2012 foi um ponto fora da curva, quando não conseguiu se reeleger. Já em 2016, obteve êxito pela quinta vez, elegendo-se vereador da capital. Em 2018, obteve o seu primeiro mandato como Deputado Estadual, sendo reconduzido em 2022, pelo PCdoB após obter 15.651 votos.

Partidário da máxima que “os eleitos devem ser sempre melhores do que aqueles que ocuparam o cargo anteriormente”, o parlamentar concedeu entrevista ao Jornal Opção Tocantins, enfatizando sua atuação como membro da bancada do agronegócio, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prevê a reeleição do presidente da Assembleia na mesma legislatura, como também, o lançamento da sua pré-candidatura à Prefeitura da cidade de Miracema.

Em relação ao fato de ter decidido ser candidato a prefeito de Miracema, foi uma surpresa tanto para a imprensa, quanto para seus próprios eleitores. O Sr. tem perfil legislativo, ante aos vários mandatos de vereador e deputado. O que o motivou a mudar drasticamente para o executivo?

Realmente foi uma decisão de última hora, mas logicamente, dentro do prazo eleitoral. Claro que um político sempre tem o desejo, um dia, de governar seu próprio município. Havia uma vontade, uma expectativa apenas. Pensava que isso poderia ocorrer mais à frente um pouco. Entretanto, com o apoio dos amigos e correligionários, acabei antecipando para esta eleição.

O país vive, de uns dez anos para cá, um novo momento. O Governo Federal compartilha o orçamento da União com os municípios e com os Estados. Nunca se viu isso na história. Então, os municípios que souberam aproveitar, fazer bons projetos, ter gestores bem articulados, tanto com deputados federais, como com os senadores e servidores dos ministérios, conseguem avançar muito.

E o que que percebo? Que Miracema é uma cidade histórica, importante, a primeira capital e não está aproveitando nada isso.

É preciso velocidade, é preciso avançar, fazer algo mais. O município está muito próximo da capital, quase uma região metropolitana para a cidade se encontrar na situação em que está. Então, essa foi a principal motivação. Pelo conhecimento que tenho, pela vivência e experiência, pelo bom relacionamento e trâmite, tenho plena convicção que – se conseguirmos vencer essa eleição – vamos avançar muito na cidade. Esse foi o motivo determinante para minha decisão.

O Sr. foi vereador em Miracema, depois na capital e, posteriormente, deputado estadual. É um histórico incomparável, talvez a personalidade tocantinense com mais mandatos legislativos consecutivos. Porém, o executivo é totalmente diferente. Partindo dessa premissa, qual é o maior gargalo da cidade? O que tem que ser feito a partir do segundo dia de mandato, porque no primeiro – além de ser feriado – é a posse (risos)…

Potencializar a economia do município! Temos que aproveitar melhor o potencial turístico. Concordo que já está um pouco desenvolvido, mas há espaços para serem ampliados, com um calendário mais robusto, com mais intensidade por parte do município. Também precisamos aproveitar a posição geográfica, incentivar a implantação de um parque, um polo industrial, por exemplo, com incentivos fiscais. Faremos essa discussão com o governo estadual para gerar renda para o município, além de empregos.

É necessário, também, utilizar a nossa geografia para aproveitar, ainda mais, a universidade federal, levando mais cursos e oportunidades para a cidade, como também, tentar levar outras faculdades para lá. Tudo isso a gente pode melhorar.

Mas verdadeiramente, o que precisamos mesmo, urgentemente, é oxigenar a economia do município.

Então, esse é o grande gargalo?

Sim, será o ponto central. Evidentemente, precisamos de políticas públicas sociais. É preciso implantar escolas de tempo integral. Hoje, havendo bons projetos, o ministério tem recursos disponíveis para esses investimentos. Construindo boas escolas, com estruturas grandes, as crianças passarão o dia todo, sendo bem acompanhadas, com alimentação, com atividades esportivas e culturais, etc. O que precisamos, enfim, é fazer bons projetos para que sejam aprovados no ministério e possamos implantar. Os recursos para escolas de tempo integral existem e são suficientes para manter toda as despesas. O que o governo municipal precisar ter é vontade de fazer.

Mas o município também precisa cumprir as obrigações na área da saúde. A baixa complexidade é de responsabilidade das cidades, então, precisamos equipar os postos de saúde com médicos especialistas. Precisamos adotar políticas públicas para aqueles que precisam de atendimento, ou pessoas especiais, ou mesmo portadores de alguma deficiência. Além de um serviço público de excelência, precisamos avançar nesses outros campos.

Exatamente pela experiência adquirida ao longo dos anos, tenho convicção que podemos fazer muitas coisas por Miracema.

Foto: Aleto/Divulgação

Um burburinho político incendiou a imprensa após o Sr. se declarar candidato a prefeito em 2024. Sua suplente, Luana Ribeiro, saiu do partido (PCdoB) na janela partidária, filiando-se ao PSD. Caso o Sr. seja vitorioso na próxima eleição, ela estaria – pelo menos “a priori” – impedida de assumir o cargo de deputado, visto que a cadeira e do partido e não do candidato. Qual é a sua percepção acerca do tema?

Essa questão política, na verdade, é muito dinâmica. Aprendi com o decorrer dos anos que, dentro do processo político, tudo se resolve. É muito cedo para esse debate, porque eu tenho que ganhar a eleição primeiro para que ocorra vacância do meu cargo na Assembleia Legislativa, a partir de 31/12/2024. Então, o primeiro foco é esse. Se der certo, sentaremos para resolver essas questões da sucessão. Estou muito animado com o propósito, tenho percebido manifestações de apoio em todos os setores da cidade. Vamos fazer um bom debate com a população da cidade.

Aproveitando o embalo da Agrotins, seria interessante o Sr. explicar o funcionamento da Frente Parlamentar da Agricultura na Assembleia Legislativa. O Sr. é um dos membros e tem um entusiasmo pelo tema.

Nesta última reunião, em que estava todo o setor produtivo representado, os grandes, médios e pequenos produtores, debatemos algumas normativas, com o objetivo de criar regras mais claras, no que concerne a legislação do Código Florestal do Estado do Tocantins. Isso se faz necessário porque, ao longo dos anos, as realidades mudam e passa a ser vital corrigir alguns aspectos, uma vez que a atual legislação está conflitante com a legislação federal. Então, nosso objetivo é deixar isso claro, porque algumas decisões jurídicas – em âmbito federal – impedem o Estado do Tocantins de caminhar, num rumo que até entendemos ser viável, mas existe esse conflito.

Por isso, é necessário que a Assembleia Legislativa, juntamente com todo esse aparato de discussão, ouça todos os setores para que a gente consiga achar um ponto de equilíbrio, corrigir algumas distorções, acrescentar algumas coisas, compreende? Precisamos adequar a nossa legislação com a legislação federal para que a gente não se depare com essa situação de conflito que vem acontecendo aqui no Tocantins, especificamente.

E quanto à feira agrotecnológica? O que o Sr. viu acerca da organização, melhorias e, falando do tema da exposição, a bioeconomia? Quais foram as suas percepções?

Dentre os estados da região norte do país, nos últimos anos, o Tocantins é o que mais avança. Nosso referencial passou a ser a Bahia, porque apesar de estar na região nordeste, é um Estado vizinho de fronteira, com muitas particularidades comuns. A bioeconomia é uma realidade e precisamos acompanhar esses avanços. Percebi que houve um investimento na zona de infraestrutura, o parque está mais organizado. Claro que ainda há muita coisa para ser feita, mas já avançou muito. O comprometimento da bancada federal em disponibilizar recursos para esse ano e também, para o próximo, vai tornar o projeto ainda melhor e interessante.

O governador Wanderlei já tinha falado isso e, agora, reforçou que a estrutura do parque não vai ficar resumido só às ações da Agrotins, utilizando-o uma semana apenas. A intenção é atender a população para outros eventos, fazer a infraestrutura de uma praia bonita, obedecendo os critérios da legalização ambiental para que a população possa aproveitar aquele local que é privilegiado, na beira do lago. Esse espaço precisa ser aproveitado e, para mim, foi uma das melhores notícias que ele poderia ter anunciado.

Tenho que concordar. Trata-se de uma estrutura muito grande para utilizar só uma vez por ano…

Sim, fazer investimentos daquela grandeza para se realizar apenas uma feira, não faz sentido. Então, temos que agregar eventos aqui, porque isso potencializa tudo, como também, a economia do município e do Estado. Neste caso, podemos fazer uma ligação que vai até a Embrapa, talvez um centro de pesquisa ou de convenções para reunir a região toda, norte e nordeste, visando discutir tecnologia e o avanço do agronegócio. Além disso, a FAPTO, UFT e Unitins podem formar um conjunto de ações e ideias e poderemos potencializar, muito mais, aquele parque agrotecnológico.

Ainda falando em Assembleia Legislativa, o Sr. foi o autor da emenda que prevê a reeleição do presidente na mesma legislatura. Quais foram as suas razões para esta interposição?

Na realidade, o que aconteceu foi que há três ou quatro anos atrás, foi votado foi uma PEC que acabava com o direito à reeleição. Contudo, em razão da recente decisão do Supremo Tribunal Federal, foi necessário regulamentar a eleição na Assembleia. Houve uma discussão entre os pares para voltar a possibilidade de reeleição, porque aquele que estiver fazendo um bom mandato, que os colegas entenderem que deve ser reconduzido, que assim seja feito. É a liberdade de escolha, tanto daquele que se propõe a ser presidente, como também do colegiado.

Então, apesar do Sr. ter assinado a autoria da PEC, na verdade, ela é um conjunto, um interesse da maioria dos parlamentares?

Exatamente, porque qualquer um pode ser candidato. Quando o deputado chegar a ser presidente, fizer um bom mandato, por que não buscar a sua reeleição? Não queremos tirar esse direito – nem de alguém votar em um candidato, por entender que está sendo um bom gestor – como também, daquele que está no seu direito de querer ter seu nome para apreciação do colegiado. A ideia básica é nesse sentido e teve 19 deputados que subscreveram a autoria da PEC.