Na semana da 25ª edição da Agrotins, o Jornal Opção Tocantins entrevistou o secretário de Agricultura, Pecuária e Aquicultura, Jaime Café, que falou sobre a importância da feira para o desenvolvimento do agronegócio no Tocantins e no Brasil. Ao longo da conversa, o gestor abordou temas como a evolução da produtividade no campo, o uso de tecnologias de ponta — como drones, robótica e GPS —, a consolidação da feira como espaço de inclusão para pequenos produtores e povos tradicionais, e a presença crescente da agricultura familiar no evento.

A entrevista também tratou da sustentabilidade na agropecuária tocantinense, das políticas públicas voltadas ao setor, da movimentação econômica esperada para esta edição e do papel político da feira como espaço de articulação institucional e de discussão de pautas estratégicas para o Estado.

Com uma expectativa de receber 250 mil visitantes e movimentar mais de R$ 5 bilhões, a Agrotins 2025 se consolida não apenas como vitrine de inovações tecnológicas, mas como um fórum de desenvolvimento rural, ambiental e econômico.

Como o senhor avalia a trajetória e a importância da Agrotins para o agronegócio do Tocantins e do Brasil?

Esse modelo de feira, como a Agrotins, é uma das feiras nacionais que têm como objetivo a difusão de tecnologia, a apresentação de equipamentos, novas variedades genéticas, tanto de sementes quanto de pecuária. Sem dúvida, esses 25 anos de Agrotins contribuíram muito. O crescimento do Estado se confunde com o crescimento da feira. Ela começou em 2000 com cerca de 50 expositores que acreditaram no projeto, apresentaram seus produtos com apoio da Embrapa, das universidades — que continuam envolvidas — e muitas outras empresas e serviços chegaram.

Em 2001, ano da primeira edição, um boi era abatido com quatro anos e 18 arrobas. Hoje, 25 anos depois, ele é abatido com dois anos e 22 arrobas, com qualidade de carne superior. Ou seja, produz-se mais em menos espaço. Esse boi faz uma conversão alimentar muito melhor. A feira foi essencial para essa evolução tecnológica e também para criar oportunidades de negócio. Dentro desse modelo, é possível adquirir tratores com preços mais acessíveis, pois os diretores das grandes multinacionais estão presentes — de fertilizantes, sementes, máquinas, caminhões, utilitários. Tudo isso contribuiu com o crescimento do Estado.

O que o público pode esperar de diferente nesta 25ª edição?

Estamos trabalhando para tornar a feira mais agradável. Ainda é uma feira em construção. O governador autorizou a pavimentação interna. Como aqui é uma região baixa e rasa, tivemos que elevar o nível do asfalto e isso exigiu aterramento das áreas de exposição. Foi trabalhoso, mas nossa meta é deixar tudo bem estruturado até terça-feira, dia 13. As empresas também estão empenhadas nisso. Será uma feira mais estruturada, com drenagem e sem necessidade de andar na lama ou poeira.

E há a novidade do píer, com acesso pelo lago.

Sim. Acreditamos que esse acesso será muito usado. O lago é bonito, e queremos ter mais atividades aquáticas ali. Isso, com certeza, chamará atenção, além das tecnologias apresentadas: novos secadores, lançamentos de caminhonetes e tratores, implementos com melhor eficiência e menor consumo de combustível. Já temos mais de 1.100 expositores confirmados. Muitas empresas trazem duas ou três marcas.

Este ano o tema é “agroevolução”. O que representa esse conceito?

A agroevolução mostra o quanto a agropecuária brasileira tem crescido. Hoje, estamos à frente da indústria, inclusive mundialmente, em termos de tecnologia. Utilizamos nanotecnologia e 5G no campo. Um exemplo é a plantadeira via satélite, que, após identificar baixa produtividade em um ponto da lavoura, aplica mais fertilizante ali automaticamente. É tudo via satélite.

Há 20 anos, um boi levava quatro anos para ser abatido. Hoje, leva dois. Isso é resultado da evolução genética, principalmente do plantel Nelore. A soja passou de 30 a 35 sacas por hectare em 2001 para quase 70 sacas em 2025. Em 2001, o milho era plantado apenas para consumo. Hoje, temos produção em escala de segunda safra, com produtividade igual à do Centro-Oeste. Isso é resultado de tecnologia, novas variedades e adequação do produtor, gerando emprego, desenvolvimento e riqueza para o Estado.

Hoje temos três novas indústrias de etanol de milho sendo instaladas no Estado, inclusive uma em Miranorte, que será uma das maiores do Brasil.

O drone no agro é uma das tecnologias que serão mostradas. Como essa ferramenta funciona na aplicação de defensivos?

São muito mais eficientes. Um pulverizador de arrasto, por exemplo, pode amassar a plantação e atolar em caso de chuva. O drone voa baixo e aplica o produto com precisão. Ele é guiado por GPS, não sai da rota, e identifica exatamente onde parou caso precise reabastecer. Assim, evita sobreposição ou falhas na aplicação, garantindo eficiência e economia.

E como a Agrotins valoriza o pequeno produtor, povos indígenas, quilombolas e quebradeiras de coco?

A Agrotins é uma das cinco maiores feiras de tecnologia agropecuária do Brasil e a única estruturada pelo governo, sem fins lucrativos. O valor cobrado pelos espaços é usado na manutenção do parque. Nosso custo é menos de 30% do valor médio das grandes feiras. Cerca de 30% do espaço é destinado à agricultura familiar. Oferecemos hospedagem e alimentação a mais de 150 expositores familiares, que vendem produtos como rapadura, queijo, mel, farinha, tudo com selo de qualidade.

Muitos começaram como agricultores familiares e hoje são empresários de grande porte. Eles tiveram essa oportunidade aqui, onde também podem acessar tecnologias adaptadas às suas propriedades. O governo apoia com liberação de recursos por meio da Agência de Fomento. A feira anima o produtor a investir. O lucro só vem depois do investimento e do trabalho.

Quanto a feira deve movimentar na economia?

Somente com montagem de estrutura, serviços e hospedagem, são mais de R$ 100 milhões. Esperamos uma comercialização superior a R$ 5 bilhões nesta edição, considerando a venda de animais, tratores, caminhões, sementes, adubos, entre outros.

Como o agro acompanha o avanço da industrialização?

O agro já usa robótica. Hoje, o trator é autônomo: o operador apenas aperta um botão e ele trabalha sozinho, guiado por GPS. A indústria está começando a usar agora o que o agro já implementou. Também temos sensores que detectam falhas nas máquinas e avisam remotamente. Há plantadeiras que custam mais de R$ 1,5 milhão, com alta tecnologia. Fazemos análise de folhas para saber exatamente quanto nitrogênio aplicar.

Também é interessante o uso de fungos para combater pragas, diminuindo o uso de defensivos químicos.

Com os bioinsumos, algumas propriedades reduziram em até 70% o uso de inseticidas. Hoje, 90% das fazendas que produzem soja, milho e algodão já têm estrutura própria (Onfarm) para multiplicar fungos e usá-los no controle de doenças e pragas.

Como o agro contribui para a sustentabilidade, diante da crise climática?

O Brasil é um dos países que mais preserva o meio ambiente. No Tocantins, temos 27 milhões de hectares. Destes, usamos cerca de 10 milhões para produção agrícola e pecuária. Mais de 60% permanece preservado, seja em parques, reservas legais ou áreas de preservação permanente. A legislação brasileira exige que o produtor mantenha parte da terra preservada. Só o Brasil tem isso.

Enquanto países europeus criticam, eles não fazem o mesmo. Dos 27% de terra firme no planeta, só cerca de 6% são usados para agricultura e cidades. O impacto humano é menor do que se fala. Seca sempre existiu. Em 1910, houve a maior seca já registrada, antes da expansão agrícola.

A soja, em 90 dias de vegetação, sequestra mais carbono que a floresta amazônica em pé, pois a floresta está em equilíbrio. O Brasil é o único país com leis rigorosas e produtores conscientes. A Europa não quer preservar, só comprar créditos de carbono.

Aredito que o Brasil precisa explorar melhor seus recursos. Por exemplo, temos potássio na Amazônia a apenas 20 km de uma reserva indígena, mas não podemos explorar. Isso nos obriga a importar da Rússia. O Brasil tem que usar suas riquezas para gerar desenvolvimento. O produtor brasileiro quer produzir, mas enfrenta muitos entraves.

E a Agrotins também é um espaço de articulação política, certo?

Sim. É uma vitrine política e institucional. Temos a abertura oficial na quinta-feira, para coincidir com a agenda de senadores e deputados federais. Aqui discutimos pautas como regularização fundiária, infraestrutura, rodovias, além de tratativas com o Ministério da Agricultura para ampliar mercados, como agora com a Europa, que vai pagar mais pela carne brasileira.

Este ano, inclusive, a Câmara Municipal de Palmas fará uma sessão itinerante na feira, na quarta-feira às 16h. Será uma oportunidade para produtores da região tratarem de temas como infraestrutura, mobilidade, saúde e regulamentação da APA do Lajeado.

São mais de 200 mil visitantes. Vêm produtores de todas as regiões: Sul, Sudeste, Bico do Papagaio, Jalapão. Pequenos produtores, quebradeiras de coco, todos têm oportunidade de conhecer novas tecnologias e fazer contatos.

Qual a sua mensagem para quem vai visitar pela primeira vez?

Venha com tempo. São 7 km de ruas com expositores dos dois lados. Eu mesmo, que ajudo na organização, não consigo ver tudo. Tem pôr do sol à beira do lago, áreas de descanso e muitas oportunidades de negócio — de produtos estéticos a pet shops. São cinco dias de atividades, bem próximos de Palmas.

Esperamos cerca de 1.200 expositores e um público de 250 mil visitantes nesta edição. Este ano também teremos acesso pelo lago, via píer, para fugir do congestionamento. E muitas novidades tecnológicas — não se assuste se encontrar um robô-cão fazendo ronda pela feira.