Júnior Geo: “o parlamento me trouxe maturidade. Estou preparado para governar a capital

07 abril 2024 às 08h00

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Há mais de dez anos engajado na política tocantinense, o Professor Júnior Geo elegeu-se em 2012 pela primeira vez, para vereador da capital, sendo reeleito em 2016. Já em 2018, filiado ao PSC, foi eleito deputado estadual, sendo reconduzido ao cargo em 2022 com 12.798 votos. Antes porém, em 2020, disputou a Prefeitura de Palmas, quando obteve 18.523 votos e ficou em segundo lugar na disputa, o que foi considerado um número expressivo, face aos parcos recursos.
José Luiz Pereira Júnior, conhecido como Professor Júnior GEO, é tocantinense de Porto Nacional. Graduado em Geografia pela Universidade de Brasília (UnB) e pós-graduado em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. É professor em diversos estabelecimentos de ensino e cursos preparatórios solidários, além de exercer cargo efetivo de professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFTO).
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção Tocantins, o parlamentar fala sobre projetos, faz reflexões sobre sua atuação na política, expõe suas posições – muitas vezes polêmicas – como também, aborda sua pretensão de disputar a Prefeitura de Palmas em 2024.
Vamos iniciar a nossa entrevista falando sobre alguns rótulos que alguns adversários, aqui e acolá, tentam colar a sua pessoa, como por exemplo, ser muito radical ou intransigente nas articulações e composições. Após tantos mandatos, qual a sua reflexão sobre esse tema?
Sinto que o decorrer dos mandatos de vereador e de deputado estadual me trouxeram maturidade e conhecimento. Passei a ter um pouco mais de flexibilidade em relação a algumas tratativas. Reconheço que eu era muito mais rígido em relação a alguns temas. Hoje compreendo que, apesar de continuar entendendo que princípios ainda permanecerem inegociáveis, na política, muitas vezes é necessário dar um passo atrás para dar dois para frente.
Vamos pegar o exemplo de vereadores que participaram ativamente das campanhas eleitorais. Eles precisam ter espaço na gestão quando o candidato apoiado obtém êxito. É natural dar esse espaço para os indicados desse parlamentar. Porém, também é necessário que essa pessoa tenha a capacidade técnica para fazer a máquina funcionar, na condição de Secretário, superintendente, diretor ou gerente. Se não for o caso, é preciso ter autonomia e coragem para dizer a esse aliado que ele deve indicar outra pessoa, porque aquele primeiro não correspondeu às expectativas. Nessas circunstâncias, atualmente compreendo que aprendi a flexibilizar num caso como este, por exemplo. Isso ocorreu exatamente porque os vários anos de parlamento me trouxeram essa experiência e maturidade.
Sinto que o decorrer dos mandatos de vereador e de deputado estadual me trouxeram maturidade e conhecimento
Estamos prestes a entrar em outro período eleitoral, no qual o Sr. pretende registrar sua candidatura à Prefeitura de Palmas. Há credenciais para isso, mesmo porque foi eleito por duas vezes vereador na capital, como também, deputado estadual com grande parte dos votos oriundos deste município. Aliado a isso, participou do processo eleitoral de 2020, oportunidade em que foi o segundo colocado. Diante disso, se faz necessário que o Sr. exponha seus planos, de uma forma geral, como também por qual partido entrará na disputa…
Vejo e reconheço que a população de Palmas me acolheu muito bem e essa reciprocidade, da minha parte, é verdadeira. A minha trajetória política está intimamente ligada à sala de aula, onde construí uma carreira sólida, trabalhando de norte a sul de Palmas. Isso me permitiu conhecer a realidade de praticamente todos os bairros da capital. Hoje, ao andar pela cidade, dificilmente não encontro uma pessoa que já foi aluno meu, ou que não tenha relação com algum aluno. Isto é gratificante, pois percebo que contribuí com o processo educacional. Esse convívio diário foi se consolidando e culminou com a eleição para vereador em 2012. Depois disso, o eleitorado foi sempre crescente nos pleitos subsequentes que disputei.
Em relação a filiação partidária, sei que a minha forma de fazer política incomoda muita gente, como também muitos interesses. Alguns grupos divergem do que eu defendo, que é o direito coletivo e a sociedade em primeiro lugar. Essa é a razão de eu estar na política. Todas as vezes que eu não me senti representado pelos candidatos que se apresentaram, eu me candidatei. Esse propósito ainda faz parte das minhas convicções. Se eventualmente em 2024, eu encontrasse alguém que me representasse – dentro dos parâmetros que eu penso que seja ideal e com capacidade técnica – não teria vaidade e somaria forças com esse candidato.
Especificamente em relação ao partido, estava filiado ao PSC que, após as eleições de 2022, foi incorporado pelo Podemos, no qual eu queria permanecer e seguir com o projeto da pré-candidatura à Prefeitura de Palmas. Já havia feito, até mesmo, tratativas com a presidente nacional da sigla, Renata Abreu, através de videoconferência. Contudo, a direção estadual do partido preferiu filiar um outro político, atualmente sem mandato, para ser o candidato da sigla em outubro.
Como já disse e reiterei, alguns grupos políticos não tinham interesse na minha candidatura. Por isso, me excluíram do processo dentro do próprio partido, não me deixando sequer participar das reuniões. Em razão dessa latente discriminação e do não cumprimento do acordo com a direção nacional, aliado ao fato de precisar de segurança jurídica, ingressei com ação no TRE-TO solicitado minha desfiliação do Podemos, o que foi deferido por unanimidade, não havendo nenhum voto contrário.
A minha trajetória política está intimamente ligada à sala de aula, onde construí uma carreira sólida, trabalhando de norte a sul de Palmas
Até aí tudo certo, mas e quanto ao partido escolhido para a disputa?
Conversei com alguns grupos, recebi alguns convites e acabei aceitando o convite da prefeita de Palmas e presidente do PSDB no Tocantins, Cinthia Ribeiro. Vou disputar a sucessão dela por esse partido. Naturalmente, como já era esperado, existem algumas resistências dentro do próprio partido, mas também há outros filiados convergentes.
Tenho tranquilidade para dizer que sou candidato de centro, mas converso tanto com a direita, quanto com a esquerda. Tenho um bom relacionamento tanto com a prefeita, com a qual mantenho um relacionamento muito respeitoso, quanto com o governador, que respeita meus posicionamentos em plenário e admiro-o por esse viés democrático, como também, com qualquer outro político. Não há, na minha índole, radicalismos e nem inimigos. Não tenho impasses pessoais, durante toda a minha carreira legislativa, quer seja na Câmara de Vereadores ou aqui na Assembleia, com quem quer que seja. Tento manter o clima amistoso e sempre trabalhei para que as tensões fossem diminuídas e os problemas resolvidos. Nunca fiz oposição sistêmica. O que eu tenho na verdade é posição acerca das minhas convicções.

Tenho um bom relacionamento tanto com a prefeita, com a qual mantenho um relacionamento muito respeitoso, quanto com o governador, que respeita meus posicionamentos em plenário e admiro-o por esse viés democrático, como também, com qualquer outro político
O Sr. é sempre muito criterioso na escolha dos partidos aos quais se filia, exatamente em razão das suas posições políticas. O estatuto do PSDB está de acordo com as suas convicções?
Vejo como um partido de centro, que se encaixa com o que eu defendo. Por exemplo: sou muito favorável as questões sociais, um viés do PSDB, mas tenho cá minhas restrições em relação a políticas assistencialistas. Creio que isso só deve ocorrer em questões pontuais. O poder público precisa fazer políticas sociais que viabilizem oportunidades e empregos para que o cidadão sobreviva com dignidade.
As eleições 2024 será a primeira vez em que haverá segundo turno na capital do Tocantins, em razão de ter ultrapassado 200 mil eleitores. Qual é a sua perspectiva acerca desse outro estágio no processo eleitoral?
Considero que o segundo turno é excelente, não apenas para Palmas, como também, para todos os municípios onde ele se torne possível. Dentre cinco ou seis pré-candidaturas estabelecidas hoje, nenhuma seria capaz de obter 50% no primeiro turno.
Na minha visão, o apoio da prefeita a minha candidatura culminará com o segundo turno. O maior legado da gestão atualmente são servidores públicos, principalmente os efetivos, que tem coragem para adesivar carros ou discutir política no trabalho, no seu grupo de amigos ou em família, sem medo de retaliações ou perseguições. O apoio dela vai potencializar a minha candidatura, no meu entendimento.
Desta forma, havendo o segundo turno a população tem apenas duas opções, sem pulverizações. Isto nos faz concluir que a pessoa eleita realmente conquistou a vontade da maioria do eleitorado. Isso é mais justo, pelo menos sob minha ótica.
Na minha visão, o apoio da prefeita a minha candidatura culminará com o segundo turno.
Na condição de vereador ou deputado, o Sr. sempre se manteve fiel aos princípios da legalidade, arguindo projetos ou resoluções que estivessem, porventura, eivados de vícios. Uma vez eleito prefeito de Palmas, é possível que o Sr. encontre vereadores que também tenham essas mesmas características questionadoras. Como serão as tratativas com esses parlamentares?
Caso haja na próxima legislatura, vereadores dispostos a observar sempre a legalidade dos atos do executivo, eu ficarei extremamente feliz, sendo prefeito ou não. Creio que isso será uma ajuda preciosa, porque o chefe do executivo não tem o controle absoluto sobre tudo e, muitas vezes, algumas coisas passam batido. Caso algum vereador questione as matérias que forem remetidas ao parlamento, em razão de equívocos que talvez o executivo tenha cometido, será meu prazer debater, analisar e, caso for convencido que houve erros, certamente será editado. Não tenho compromisso com o erro. Portanto, vereadores com esse perfil serão sempre muito bem-vindos na gestão. Não serão, em hipótese alguma, tratados como oposição sistêmica, pois eles vão – a partir desses questionamentos – contribuir com a gestão e com o desenvolvimento da cidade.
Não tenho compromisso com o erro
Na condição de político oriundo da educação é natural que o Sr. tenha projetos inovadores para a área, caso seja eleito. O Sr. poderia expor sobre isso?
Além de investir mais recursos, precisamos estruturar, ainda mais, as escolas. Temos unidades educacionais de tempo integral com excelente estrutura física. Todavia, também não podemos deixar de reconhecer que há outras que foram construídas ainda na década de noventa e precisam ser refeitas literalmente. Outras precisam ser ampliadas.
Logicamente, também precisamos fazer estudos de dados estatísticos para saber como, quando, onde e em quais circunstâncias vamos investir. Decisões baseadas em números são geralmente muito mais assertivas. Essa questão do número de vagas por exemplo, merece muita reflexão pois, muitas vezes, é necessário ampliar uma escola numa zona periférica que não consegue abrigar mais alunos, do que construir uma escola nova em outro bairro que não possui essa demanda. Precisamos ter vagas em escolas no raio de alcance do trabalhador que tem poucos recursos, de forma tal que ele possa levar a criança a pé, ou de bicicleta, até a escola. Se ele tiver que pegar ônibus para que isso ocorra, já vai influenciar diretamente no orçamento familiar. Neste caso, o meu pensamento é que devemos analisar, estudar e planejar para fazer investimentos assertivos. Assim, o dinheiro volta com qualidade para a população.

Logicamente a cidade ainda tem gargalos que não foram resolvidos pela gestão atual. Mesmo sendo apoiado pela atual prefeita, é preciso que o Sr. aponte as soluções para os gargalos ainda existentes, como a questão da saúde pública e a ausência de um hospital municipal…
Em relação a construção de um Centro de parto normal, considero a ideia muito válida e necessária, mas deve-se avaliar, neste contexto, a possibilidade do Hospital Dona Regina se estabelecer em um prédio próprio, uma vez que esse Centro deve ficar a cerca de 1 km de um hospital de referência. Por isso, ainda é incipiente tratar do tema, antes que haja tratativas acerca dos objetivos do Estado em relação àquela maternidade. Independente disso, não há óbices para que façamos parcerias ou convênios com Hospitais particulares, como o Padre Luso, por exemplo – localizado na região sul – para que ele atenda as parturientes.
Há um projeto em andamento para construção do Hospital Municipal em Palmas, cuja área já foi doada pelo governo do Estado. Paralelamente, a Universidade Federal do Tocantins também tem interesse em construir um hospital universitário para atender seus residentes, como também, a população mais necessitada. Nessas circunstâncias, existem tratativas para que haja uma parceria entre a Prefeitura de Palmas e a UFT para que o hospital seja construído pelo município e, após isso, a doação do prédio para que a UFT faça a gestão do mesmo. Isso certamente vai ocorrer na minha gestão, caso eu seja eleito. Estou convicto que vai resolver o problema da população que necessita da baixa e média complexidade.
O propósito maior é buscar soluções e resolver o problema, sem buscar justificativas ou desculpas. Mas há um outro ponto que deve ser esclarecido, uma vez que há um discurso recorrente que Palmas é responsável pela lotação do HGP, o que não procede inteiramente. O censo do IBGE de 2022 revela que Palmas possui 302 mil habitantes, no entanto, paralelamente possui mais de 500 mil cartões SUS. É que várias pessoas que vêm do interior e chegam até a UPA, acabam por fazer um cartão SUS na cidade de Palmas, com o propósito de serem atendidos e, posteriormente, serem regulados e transferidos para o HGP.
Na estatística do Hospital e do Ministério da Saúde, o paciente da entrada na unidade hospitalar como se residisse em Palmas, mas isso não corresponde à verdade. Assim sendo, Palmas não pode se eximir de atender os seus pacientes e, por isso, precisamos viabilizar o hospital Universitário, mas em contrapartida, também não pode assumir a culpa de que sua população provoca superlotação no HGP.
O propósito maior é buscar soluções e resolver o problema, sem buscar justificativas ou desculpas
Por ser oriundo de Porto Nacional, como também, na condição de deputado estadual, deve ser uma preocupação sua, o problema geopolítico e social que se formou em Luzimangues. A exclusiva política adotada pelo Município de Palmas em relação a supervalorização dos lotes, gerou, inclusive, imensos vazios urbanos. Caso o Sr. seja eleito, como pretende tratar esse tema, uma vez que o distrito está muito mais perto da capital do que da sede dele, gerando conflitos de atendimento, tanto na saúde, como na educação ou no transporte público?
Uma vez estabelecida a região metropolitana, as Prefeituras de Palmas e Porto Nacional precisam fazer convênios. A solução é um trabalho conjunto, considerando que ambos os gestores foram eleitos para resolverem problemas. A questão da saúde e da educação já foi dito aqui, com grande parte da população de Luzimangues, inclusive, possuir cartão SUS com domicílio Palmas, por exemplo. Entretanto, é plenamente possível haver um intercâmbio entre os dois entes municipais para que a população de Luzimangues seja atendida também no transporte público. Até pouco tempo atrás, por exemplo, tínhamos o problema de prender pessoas em Luzimangues e ter que levar até Porto Nacional. Isso foi resolvido através de convênios e parcerias com o governo. Podemos elaborar também, por exemplo, convênios para que a Guarda Metropolitana de Palmas atenda o distrito. Não vejo problema nisso, se tivermos estabelecido parcerias. Talvez isso seja possível, precisamos estudar o tema mais profundamente.
Ainda resta falar sobre o transporte público municipal, que a prefeita optou por incorporar a gestão ao invés de terceirizar. Qual é o seu posicionamento a respeito do tema?
Inicialmente, penso que o correto seria a licitação de empresas interessadas em explorar os serviços públicos. Eu não teria coragem da prefeita de puxar para o ente público essa responsabilidade. Algumas questões pontuais devem ser observadas como, por exemplo, o fato de Palmas ter a frota mais nova de todas as capitais, como também, não haver aumento da passagem há mais de cinco anos. Naturalmente, isso está sendo subsidiado pelo poder público.
A bem da verdade, vários elementos devem ser analisados. Vou ter que debruçar, juntamente com minha equipe, sobre o tema e analisar os números. Só então decidiremos se é melhor manter o serviço pelo ente público ou permitir a concessão para empresas privadas. Vamos analisar todos os pontos positivos e negativos e debater com o parlamento e a sociedade antes de tomar essa decisão.
Em nome do Jornal Opção Tocantins, agradeço-lhe os esclarecimentos…
Fico grato pela oportunidade de falar a população da capital e poder expor as ideias e projetos a serem executados, caso seja eleito.