Ex-procurador-geral do Tocantins é suspeito de ser “padrinho” de grupo que negociava decisões judiciais, diz PF
30 setembro 2024 às 12h27
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A Polícia Federal (PF) está aprofundando as investigações sobre o advogado Kledson de Moura Lima, ex-procurador-geral do Tocantins, suspeito de envolvimento em um esquema de venda de sentenças no Tribunal de Justiça do Estado (TJTO). A investigação faz parte da Operação Máximus, que visa desmantelar uma suposta organização criminosa composta por advogados, desembargadores e outras figuras influentes do Tocantins.
A Operação Máximus foi deflagrada em 23 de agosto de 2024, com ordens de busca e apreensão determinadas pelo ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Durante a ação, a PF encontrou indícios de que Kledson de Moura Lima teria atuado como um “padrinho” de um grupo que negociava decisões judiciais, influenciando sentenças favoráveis em troca de vantagens indevidas. O ex-procurador pediu para sair do cargo ainda no mês passado.
Os investigadores tiveram acesso a áudios que sugerem o envolvimento de Kledson com membros da organização. Em uma das gravações, Thales André Pereira Maia, filho do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto — também afastado por suposta participação no esquema — relata que Kledson teria garantido a permanência de Rafael Parente no comando do Procon Tocantins. O áudio reforça a suspeita de que o grupo teria influência direta em nomeações e exonerações dentro do órgão. Thales e Thiago chegaram a ser presos, mas foram soltos e estão usando tornozeleira eletrônica.
Outra gravação obtida pela PF mostra a proximidade de Kledson com membros do grupo. Em conversa com Thales, o ex-procurador comenta sobre uma reunião com integrantes da organização, mencionando a possível influência em processos de regularização fundiária no Tocantins. De acordo com as investigações, há indícios de que o grupo teria como objetivo obter vantagens ligadas à regularização de terras de interesse específico, utilizando-se de corrupção e exploração de prestígio.
Ações sob suspeita
A PF investiga a atuação de Kledson em três casos específicos: uma disputa judicial entre dois hospitais, um processo sobre precatório devido pelo Estado ao município de Lajeado e ações de regularização fundiária. Além disso, ele também é investigado por ter defendido o ex-secretário de Saúde, Afonso Piva, durante a Operação Autoimune, que apura desvios de verbas da saúde pública no Tocantins. Segundo a PF, essa defesa só poderia ocorrer em circunstâncias específicas previstas pelo Código de Processo Penal.
Além das suspeitas envolvendo o Tribunal de Justiça e o Procon, a investigação continua a apurar a extensão da influência do grupo em diferentes esferas do poder público no Tocantins, incluindo o Poder Executivo estadual e o município de Palmas. A PF aponta a existência de “fortes indícios” de que a organização criminosa tenha articulado sua atuação de forma integrada, visando beneficiar-se de práticas ilícitas em várias áreas (com informações do Estadão).
A defesa de Kledson de Moura Lima não quis comentar sobre o caso. O espaço permanece aberto para manifestação.