Facções usavam fazendas e quatro empresas em Palmas para lavar dinheiro e apoiar tráfico aéreo

29 maio 2025 às 14h34

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A operação Serras Gerais, deflagrada na manhã desta quinta-feira, 29, pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Tocantins (FICCO/TO), confirmou o que o Jornal Opção Tocantins havia revelado em abril deste ano: a permanência de empresas de fachada vinculadas a organizações criminosas atuando no estado, mesmo após operações anteriores. À época, a reportagem identificou quatro empresas ativas em Palmas associadas ao banco digital 4TBank, investigado por lavar dinheiro para as facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV).
A ação desta quinta-feira mobilizou cerca de 200 agentes para cumprir 50 mandados judiciais, sendo 15 de prisão temporária e 35 de busca e apreensão em sete estados. Também foram bloqueados R$ 64,2 milhões em bens e valores de 35 pessoas físicas e jurídicas, além da apreensão de fazendas, caminhões, aeronaves, veículos de luxo e embarcações — boa parte dos bens localizada na região das Serras Gerais, no sudeste tocantinense.
A operação é resultado de investigações iniciadas em abril de 2024, após a Polícia Militar abordar dois suspeitos no posto fiscal de Novo Jardim, na divisa do Tocantins com a Bahia. Ambos transportavam mil litros de combustível de aviação para abastecer aeronaves usadas no transporte de cocaína. Descobriu-se que os homens haviam adquirido fazendas no estado, onde foram construídas pistas de pouso clandestinas, capazes de receber aviões carregados com até 500 kg de cocaína por vez, com cargas avaliadas em mais de R$ 15 milhões.
Segundo o delegado Evaldo Gomes, integrante da FICCO/TO, a organização criminosa possuía uma estrutura logística robusta e fazia uso de empresas reais e de fachada para lavar o dinheiro obtido com o tráfico. Em apenas oito meses, foram movimentados cerca de R$ 70 milhões.
Empresas citadas
Em abril, o Jornal Opção Tocantins revelou com exclusividade que, mesmo após a Operação Decurio, deflagrada em agosto de 2024, pelo menos quatro empresas vinculadas ao 4TBank e ao esquema de lavagem continuavam registradas na Receita Federal, com sede em Palmas:
- 4TGroup Holding Ltda
- VB Interholding Ltda
- Leve Atacadista Ltda
- RNCT – Rede Nacional de Contabilidade Tributária Ltda
Essas empresas, segundo as apurações, tinham como sócia a jovem Matiê Obam, apontada como “laranja” do padrasto João Gabriel Yamawaki, preso e acusado de comandar o esquema. Yamawaki, considerado o “cambista oficial” do PCC, usava o nome da enteada para movimentar milhões. À época, os CNPJs permaneciam ativos, e os endereços não apresentavam sinais de operação.
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Ligação com o 4TBank e facções
O 4TBank, alvo da operação de hoje, já havia sido citado em investigações anteriores por operar como instituição financeira clandestina, movimentando R$ 8 bilhões entre 2019 e 2024 para PCC e CV, inclusive financiando campanhas eleitorais em cidades do interior paulista. A nova ofensiva confirma que a estrutura criminosa mantinha ramificações no Tocantins e utilizava empresas de fachada no estado para lavar recursos.
A Operação Serras Gerais contou com a participação das polícias Federal, Civil, Militar e Penal do Tocantins, além de unidades especializadas como o DRACO (TO e GO), BOPE (TO e GO), e equipes da Polícia Federal de outros estados. Os investigados poderão responder por organização criminosa, lavagem de capitais e associação para o tráfico de drogas.